Felipe Mello, membro e secretário executivo do Comitê de Sustentabilidade de uma rede de hospitais, será um dos painelistas da Conferência de Sustentabilidade Brasil e defende um plano nacional de saúde climática
A crise climática já sobrecarrega o sistema de saúde, mas o setor ainda trata isso como um problema exclusivamente ambiental. A cena tem se repetido no país: unidades de saúde inundadas, hospitais com falhas elétricas após enchentes, pronto-atendimentos lotados durante ondas de calor. É diante desse cenário que a Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, etapa oficial da COP 30, traz uma novidade importante: pela primeira vez, a saúde será tema exclusivo de uma das trilhas de debate. O evento acontece até o dia 14 de junho, em Vitória (ES), e a trilha de saúde está marcada para os dias 13 e 14.
Um dos convidados a integrar o painel sobre estratégias de saúde pública é Felipe Mello, PMO Corporativo da Kora Saúde e secretário executivo do Comitê de Sustentabilidade da rede hospitalar. Para ele, a preparação climática precisa ser entendida como a próxima fronteira da qualidade assistencial.
“O setor da saúde tem que encarar o tema como um risco estratégico para o negócio. Na Kora Saúde, implantamos o Comitê ESG e estamos avaliando a elaboração de um plano climático com ações como revisão da infraestrutura para resiliência a eventos extremos, estoques estratégicos de insumos e treinamento de equipes para contingências, como surtos de arboviroses pós-enchentes”, explica.
Falta de integração entre saúde e clima
Na visão de Felipe, o setor ainda lida com a crise climática de forma fragmentada, priorizando demandas urgentes e relegando riscos ambientais ao segundo plano. “Faltam métricas claras que liguem eventos climáticos a impactos financeiros e assistenciais. Há baixa integração entre saúde pública e ambiental. Precisamos de políticas nacionais que incentivem a adaptação, como o MEC incluindo o tema na formação médica e a ANS incorporando resiliência climática na regulação”, aponta.
Infraestrutura hospitalar mais resiliente
A Kora Saúde já avalia mudanças estruturais em hospitais localizados em regiões críticas. “Temos unidades em cidades como Cuiabá, Fortaleza e Palmas, com altas temperaturas quase o ano inteiro. Investimos em sistemas de refrigeração para enfrentar ondas de calor e estudamos a realocação de equipamentos críticos em áreas de maior risco climático. Também apostamos em energia renovável com fontes eólicas, solares e hídricas”, diz o executivo.
Setor privado pode e deve liderar a mudança
Para Felipe, o setor privado tem condições de liderar a adaptação climática, mas ainda sofre com falta de visão sistêmica e incentivos. “A lógica individualizada dos seguros não funciona diante de desastres que afetam comunidades inteiras. Precisamos de contratos que remunerem por prevenção e adaptação, como a redução de internações por asma durante períodos de seca. Isso também favorece a saúde financeira do sistema”.
O PMO da Kora Saúde tem atuado como articulador das iniciativas climáticas. A área liderou revisões em projetos de novas unidades, incorporando drenagem para enchentes e geração solar, e acompanha indicadores de emissão e consumo hídrico alinhados a metas de sustentabilidade.
Com o aumento de doenças associadas ao clima, como arboviroses e síndromes respiratórias, a Kora também atualizou seus protocolos. “Adotamos triagem ampliada para sintomas como desidratação e alergias e treinamos as equipes sobre doenças emergentes relacionadas ao clima”, destaca Felipe.
Expectativa para a COP 30
O executivo acredita que a participação do setor saúde precisa ser efetiva. “Esperamos compromissos mensuráveis, como um fundo setorial de adaptação e padronização de métricas de resiliência. Um avanço concreto seria a criação de um plano nacional de saúde climática, nos moldes dos planos de pandemia. A Kora está aberta a colaborar com fóruns e pesquisas, pois sabemos que a saúde climática é uma demanda urgente e inegociável”, finaliza.