Em dois estudos recentes, pesquisadores destacam abordagens integrativas e reforçam que a capsulite adesiva (ombro congelado) não é apenas uma lesão local, mas um problema com origens metabólicas, inflamatórias e comportamentais. Ambos trazem o holandês Leo Pruimboom, referência em psiconeuroimunologia (PNI), como um dos autores
Duas pesquisas recentes ampliam o entendimento sobre como tratar o “ombro congelado”, nome popular da capsulite adesiva, uma condição que causa dor intensa e limitação nos movimentos da articulação do ombro. Publicados em maio e junho de 2025 por grupos internacionais de pesquisadores com forte atuação na Espanha e Holanda, os estudos reforçam que essa não é apenas uma lesão local, mas sim um problema com raízes metabólicas, inflamatórias e comportamentais.
Um dos autores em comum nos dois estudos é o fisiologista e bioquímico médico Leo Pruimboom, doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de Groningen, fundador da psiconeuroimunologia clínica (cPNI) e criador do conceito de “vida intermitente”. A presença de Pruimboom em ambos os artigos evidencia a crescente influência de uma visão integrada do corpo humano na pesquisa científica.
Dormir vai além do descanso
O estudo publicado em 26 de junho de 2025 na revista Journal of Clinical Medicine, mostrou que hábitos saudáveis de sono podem potencializar a recuperação de pacientes com ombro congelado. Na pesquisa, 34 voluntários foram divididos em dois grupos. Todos receberam fisioterapia tradicional, com exercícios e técnicas manuais, mas apenas um deles foi orientado a mudar hábitos noturnos como evitar café, chá e chocolate à noite, pois são alimentos ricos em metilxantinas, compostos estimulantes. “Além disso, orientamos a reduzir a exposição à luz artificial após o pôr do sol. Especialmente as luzes intensas e telas”, explica Leo Pruimboom.
Os resultados, após seis semanas de acompanhamento, apontam que grupo que cuidou do sono apresentou redução mais significativa de marcadores inflamatórios no sangue; melhora nos parâmetros metabólicos, como controle da insulina; alívio da dor e melhora da qualidade do sono e ganho superior na amplitude de movimento do ombro, sendo que, em alguns casos, o dobro em comparação ao grupo controle.
Embora os pesquisadores ressaltem que o tempo do estudo foi curto para mudanças clínicas profundas, os sinais são promissores. “Medidas simples, como desligar luzes cedo e evitar cafeína à noite, são acessíveis e podem reforçar o tratamento tradicional”, reforça Pruimboom. A pesquisa envolveu cientistas da Universidade de Granada, da Universidade de Sevilha e da Cátedra Universitária de Psiconeuroimunologia Clínica, sediada em Haia (PNI Europe).
Metabolismo e inflamação como causa de dor
O estudo publicado em 15 de maio de 2025 na revista BMC Musculoskeletal Disorders, analisou 7.499 pacientes com capsulite adesiva em uma ampla revisão sistemática e metanálise. O objetivo foi identificar padrões bioquímicos comuns entre os afetados. Do ponto de vista metabólico, os pacientes com ombro congelado apresentaram níveis significativamente mais altos de hemoglobina glicada (HbA1c), que indica glicemia média elevada; assim como de Colesterol total, também elevado de forma consistente. A glicose isolada e os triglicérides não mostraram resultados conclusivos. Curiosamente, o estudo também descartou uma associação clara com hipotireoidismo, frequentemente apontado como fator de risco.
Os autores também olharam para os dados a partir da imunologia e observaram a influência do processo inflamatório. A IL-1β, uma citocina pró-inflamatória, teve níveis muito mais altos em pacientes com ombro congelado e TNF-α, outro marcador de inflamação crônica, também apresentou diferença significativa. A IL-6, por sua vez, não teve associação estatística relevante, sugerindo que o perfil inflamatório da doença é mais específico do que se pensava.
“O ombro congelado deve ser tratado como uma manifestação de disfunção sistêmica, pois há uma forte conexão entre metabolismo desregulado, inflamação persistente e limitação articular. O tratamento, portanto, precisa ir além do ombro”, afirma Leo Pruimboom.
Um novo modelo para entender e tratar a dor
Ambos os estudos apontam para a necessidade de abordagens terapêuticas integrativas, que aliem movimento, modulação metabólica e controle da inflamação. Essa é uma proposta defendida por Leo Pruimboom, que vê o corpo humano como uma rede de sistemas interligados, que são influenciados por comportamento, alimentação, luz, sono, emoção e contexto.
“As evidências consolidam a psiconeuroimunologia clínica como uma ciência aplicada à prática clínica e à pesquisa translacional. Uma vida intermitente, com alternâncias rítmicas de estímulo e repouso, como jejum, sono reparador e exposição natural à luz, inspira novas estratégias terapêuticas para doenças crônicas, incluindo o ombro congelado”, acrescenta.
Ainda de acordo com o especialista, as duas pesquisas reforçam que o sucesso no tratamento da capsulite adesiva vai além do consultório de fisioterapia. O controle do metabolismo, a redução da inflamação e a qualidade do sono têm papel central na recuperação e são estratégias acessíveis e seguras, que colocam o paciente como protagonista do próprio cuidado.