Êxodo rural e envelhecimento em pequenas cidades desafiam a sucessão familiar no agronegócio

Foto por: İsa Kahraman | Pexels
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Dados do Censo mostram que municípios com até 5 mil habitantes têm os maiores índices de envelhecimento do país; especialista alerta para riscos na transferência de conhecimento técnico

O Brasil vive um paradoxo demográfico e econômico: enquanto o agronegócio bate recordes de produtividade, o campo se esvazia e envelhece em ritmo acelerado. Dados do Censo Demográfico 2022 (IBGE) confirmam que o êxodo rural é uma mudança estrutural consolidada. Nos últimos 12 anos, o país perdeu 4,3 milhões de habitantes em áreas rurais, resultando em 25,6 milhões de pessoas – cerca de 12% do total nacional – vivendo no campo, uma queda acentuada em relação aos 18,8% registrados no ano 2000.

Essa dinâmica acende um alerta sobre a mudança no perfil etário da população. Em municípios com até 5.000 habitantes, por exemplo, onde a economia é frequentemente ligada ao campo, está a maior taxa do país: 76,2 idosos por 100 jovens. De acordo com o IBGE, essa distorção ocorre devido ao deslocamento de pessoas em idade economicamente ativa e reprodutiva para grandes centros em busca de emprego e educação. O resultado é duplo: menos nascimentos nas cidades de origem e a migração da força de trabalho jovem.

Gargalo na sucessão familiar

O esvaziamento populacional impacta diretamente a linha sucessória das fazendas. O setor, que é responsável por aproximadamente 29,4% do PIB brasileiro, segundo projeções do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq para 2025, enfrenta dificuldades severas de continuidade. Dados do Relatório de Inteligência do Sebrae sobre sucessão familiar rural indicam que a mortalidade dos negócios é alta: 70% dos empreendimentos não sobrevivem à passagem para a segunda geração e apenas 5% chegam à terceira.

Maquiel Nardon, coordenadora do curso de Agronomia e Agrotecnologia da UNIASSELVI, alerta que o processo sucessório é complexo, pois envolve ativos intangíveis. “O sucesso da próxima geração depende de receber o legado do manejo e entender as características únicas daquela propriedade. Ou seja, vai além da transferência da administração da terra”, explica.

A especialista destaca que “o agronegócio é uma das principais atividades produtivas do país. Por isso, garantir uma sucessão saudável é, na prática, garantir a manutenção dos empregos, a renda da população e a própria produtividade da zona rural brasileira”.

De acordo com Nardon, formas de reverter ou minimizar esse quadro exigem mudança de mentalidade, unindo tradição e inovação. A professora elenca três pilares fundamentais para reter o jovem no campo e garantir a longevidade dos negócios:

  • Tecnologia como aliada (Agro 4.0): A introdução de ferramentas digitais, como drones, softwares de gestão e agricultura de precisão, aproxima a realidade do campo aos interesses das novas gerações. “A tecnologia não apenas aumenta a produtividade, mas torna o ambiente de trabalho rural mais atrativo e menos penoso fisicamente”, aponta;
  • Profissionalização da gestão: A transição de um modelo puramente familiar para uma gestão profissional é fundamental. Isso envolve capacitação técnica e acadêmica dos sucessores, permitindo que eles enxerguem a propriedade como uma empresa competitiva;
  • Diálogo antecipado: A sucessão não deve ser tratada apenas no momento da ausência do fundador do negócio. “É preciso criar um plano de sucessão em vida, onde o jovem comece a participar das decisões gradualmente, mesclando a experiência dos mais velhos com a inovação trazida pelo conhecimento acadêmico”, finaliza a coordenadora.
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