Confira artigo de Fabiano Nagamatsu, CEO da Osten Moove
O halving do Bitcoin que ocorreu este ano foi um evento marcante para o mercado de criptomoedas e teve profundas implicações não só para o ecossistema de ativos digitais, mas também para o amplo mercado de startups e fintechs.
Não precisamos falar aqui (mais uma vez) que o halving é o evento que reduz pela metade a recompensa dos mineradores por bloco e, portanto, impacta diretamente a oferta de novos Bitcoins, influenciando a dinâmica de mercado e as estratégias de negócios no setor.
Mas não estamos aqui para falar como o halving impacta o preço do Bitcoin, nem se o preço subiu ou caiu com o evento. O foco é como ele impactou o mercado de startups e o que podemos esperar para o futuro.
A expectativa gerada pelo halving incentivou muitas startups a se envolverem mais ativamente com o mercado de criptomoedas. Startups de tecnologia financeira, em particular, começaram a integrar soluções baseadas em blockchain e Bitcoin, esperando atrair investidores e consumidores ansiosos para não perder a onda de valorização. Plataformas de pagamento, carteiras digitais e soluções de DeFi (finanças descentralizadas) viram um aumento significativo no interesse e nas taxas de adoção.
FOMO e FUD
Vejamos o exemplo da gigante mundial de investimentos, a BlackRock, que lançou um ETF spot de Bitcoin nos EUA em janeiro e, depois, passou a dizer como o halving era importante para o mercado cripto, reforçando a tese da empresa em adicionar o BTC como um ativo de investimento, que ela mesma chegou a chamar de “ouro digital”.
Nesse período, muitas startups surgiram para oferecer diversos produtos na “onda do halving”. No entanto, com o passar do tempo, algumas teses se confrontaram com a realidade e, no momento posterior ao halving, quando o preço do BTC recuou para US$ 55 mil e os volumes de negociação despencaram, logo identificamos que certas “apostas” não eram sustentáveis. Basta ver a Binance, que encerrou o suporte ao seu mercado de NFTs Ordinals e tokens BRC-20.
Esse confronto entre expectativa e realidade vem pautando os bull runs do mercado cripto desde pelo menos 2017, quando surgiu a tese dos ICOs, que naufragou logo após o ATH do Bitcoin em US$ 19 mil. O mesmo ocorreu com o hype dos NFTs e dos jogos play-to-earn no mercado de alta de 2020-21, quando startups correram para lançar produtos e serviços focados na “onda revolucionária” dos jogos digitais e ativos em blockchain para, logo depois, naufragarem num mar de fechamentos, demissões e reestruturações.
Isso também deve ocorrer neste ciclo de alta do mercado atual, que muitos acreditam que começou pra valer apenas agora, depois do halving, e que deve seguir até que um novo aperto na política econômica dos EUA paute a economia global e os investimentos em ativos de risco.
Quando isso ocorrer — e vai ocorrer — veremos ainda mais startups pautadas apenas no FOMO perderem posições e dinheiro, assim como muitos VCs, investidores e pessoas que acreditam em um projeto que não tinha bases para o futuro, mas estava pautado apenas no calor do momento.
Lições do quarto halving do Bitcoin
Esta é uma lição importante, pois construir produtos para atender à nova onda pode ser muito arriscado. No entanto, como toda onda, ela deixa sua marca, e entender qual é a tendência que ela está trazendo é o que vai garantir o sucesso de startups e fintechs. Vejamos o exemplo que citamos sobre o mercado de alta em 2017. Ele trouxe consigo os ICOs, que mostraram que a tendência de financiamento pela comunidade veio para ficar e têm sido a base da democratização que está pautando o mercado de tokenização (Tokens RWA), inclusive no Drex, do Banco Central do Brasil.
O mesmo ocorreu no mercado de 2020-21 com os jogos play-to-earn, que revelaram que há uma economia bilionária no mercado de games — e que pode ser ainda maior com a posse de ativos dos jogadores, interoperabilidade e um mercado secundário entre jogadores. Isso vale, ainda, para os NFTs, que demonstraram o potencial de um novo sistema que pode ser usado para identidade digital, entre outras atividades.
Portanto, tudo isso deve se repetir neste novo ciclo, visto que o quarto halving já vem sinalizando tendências que não são passageiras, mas vieram para ficar, como Layer 2, interoperabilidade e, ouso dizer, um afastamento necessário do Bitcoin do mercado de contratos inteligentes. O ouro digital talvez deva permanecer como tal e deixar o DeFi para outros protocolos que já nasceram em uma “nova era” dos ativos digitais.
A expectativa quanto ao pioneirismo do Bitcoin em liderar também o mercado do “dinheiro programável” talvez deva se encontrar com a realidade de que ouro não é Pix.