Entrevista com Rodney Ribeiro, economista e assessor de investimentos na WIT Invest
1. Quais são as perspectivas para o desempenho do mercado de ações em novembro?
R: Bom, o que acontece com o cenário do mercado de ações no Brasil dependerá totalmente do que o presidente da República vai falar daqui para frente. Ele, em uma declaração dizendo que não vai zerar o déficit, traz uma instabilidade econômica, que faz com que o mercado fique de orelhas e faro em pé. Dito isso, vale lembrar que o mercado financeiro, o mercado corporativo é rígido por humor, ou seja, não somente por dados e cálculos matemáticos, mas também por expectativa e humor isso trouxe uma perspectiva negativa para os próximos meses se de fato essa declaração se mantiver.
Haja visto que existe projeção do déficit em 0.8% do PIB já para o ano de 2024, e na declaração do presidente ele enxerga que isso não é um problema, ou manter em torno de 0.5% sendo que a promessa era zerar o déficit.
Podemos perceber uma tendência de queda do mercado do Ibovespa, conforme aponta o gráfico. A projeção para o ano é de fechamento do Ibovespa em 3,25%aa. É importante ficarmos atentos ao mercado.
2. Quais setores ou indústrias você acredita que terão um desempenho particularmente forte ou fraco em novembro?
R: Empresas consolidadas que geram dividendos são as empresas com maior tendência aí e se manterem ativas bons resultados, no entanto ainda é cedo para avaliar, uma vez que o cenário Internacional também vem contribuindo paraquedas na expectativa de ganhos.
3. O que o mercado pode esperar em relação à redução na estimativa do IPCA de novembro de 0,32% para 0,30%, e como isso pode afetar a economia?
R: O Mercado defende a tese de desaceleração da inflação, contribuindo também para uma redução da taxa Selic, entre 11,75% e 11,71% até o final do ano. Mesmo com o impacto do Bacen em manter a taxa de juros mais apertada, não significa que deixaria de reduzir, ou seja, a redução da taxa de juros é certa, porém com uma expectativa um pouco abaixo do que era dito no meio do ano. A estimativa para 2024 é de 10,48% sendo que antes o mercado precificou entre 10% e 10,20%
Outro dado importante é a queda do preço dos produtos de alimentação em domicílio, que vem apresentando uma deflação, no entanto, setor de serviços por outro lado vem apresentando resiliência, devido ao mercado de trabalho ainda aquecido.
O comportamento atual, no entanto, sugere que a inflação oficial ficará dentro da meta este ano, com indicadores apresentando queda. Mesmo em meio ao cenário global.
4. Como essas tendências na temporada de balanços podem influenciar as estratégias de alocação de ativos e investimento no mercado financeiro?
R: A temporada de balanços pode trazer para o investidor uma perspectiva interessante, em que poderá alocar nas empresas que estão mais consolidadas no mercado, mesmo com o cenário global incerto e com os riscos da economia brasileira.
O que chama a atenção é que o setor do Agronegócio e de Serviços, contribuem ainda para o crescimento do PIB. Outro fator também tem sido a expansão do crédito para PJ, tanto para o agro, quanto para prestadores de serviços, um aumento que foi previsto por estudos da Febraban, mostram aumento do crédito em torno de 0,8% no mês, porém abaixo da expectativa anterior. No ano, o crescimento foi de 7,9%, ante a 8,1% (expectativa anterior).
Outra informação importante é que os spreads no crédito privado, já apontam uma queda para essa semana. A redução vem de 2,22% para 2,27%.
Setores ligados a commodities podem se beneficiar muito qual o cenário global uma vez que a China vem demonstrando uma certa estabilização da economia, afinal ela é o segundo maior mercado consumidor. Prova disso é uma alta nos lucros industriais chineses de 11,9%aa em setembro, mesmo apresentando um acumulado em queda de 9%, frente a 2022. Isso demonstra que os estímulos governamentais surtiram efeitos.
Outro estímulo importante é da emissão de bônus soberanos do governo chinês, em 137 Bilhões de dólares, que serão tratados em 2023 e 2024, para gerar mais tração na economia. Porém é importante ficarmos atentos ao PIB Chinês que tem projeção inferior a meta do governo, que é de 5%.
Temos que lembrar que as empresas passam por inúmeras situações que contribuem para o seu resultado. Por isso é importante avaliar o Balanço mas também o grau de endividamento das empresas, como está a estratégia dela no mercado pela tua, se o mercado que ela atua tem perspectiva de crescimento. Portanto é importante que o investidor aprofunde as informações.
5. Com o prolongamento do conflito Israel X Hamas, quais indicadores econômicos ou eventos geopolíticos relacionados a Israel os investidores devem acompanhar de perto para tomar decisões informadas durante esse período de incerteza?
R: Dentro do cenário nacional, o investidor deve levar em conta, vários indicadores como grau de endividamento, lucro x investimentos, entre outros indicadores técnicos. Ele deve desenvolver um olhar de integrar indicadores macroeconômicos à sua análise, como o PIB, Câmbio, Inflação entre outros. Esta abordagem combinada pode auxiliar na tomada de decisões mais informadas e na identificação de oportunidades ou riscos emergentes no mercado. Daí a questão que o investidor precisa compreender é quanto tempo ele tem para fazer esse estudo, ou se ele está disposto em obter apoio técnico para isso.
6. Como os resultados da Super Quarta no início do mês de novembro podem influenciar as perspectivas econômicas globais?
R: A economia americana ainda se mostra resiliente, em que o PIB avançou no 3 trimestre de 2023, 4,88%aa, em comparação a expectativa que era de 4,5%aa. Essa resiliência vem impulsionada pelo consumo, gastos governamentais e investimentos privados. Ainda assim, existe uma perspectiva de desaceleração da economia, por conta dos juros elevados.
Mesmo com uma atividade forte, que torna a inflação mais resistente à queda, percebemos que a inflação acumulada em doze meses, vem apresentando um recuo de 3,84% para 3,68%, ainda assim, acima da meta que é de 2%.
A expectativa do mercado é, portanto, de não elevação da taxa de juros, outro fator que corrobora com essa perspectiva é que a elevação da taxa de juros de longo prazo, já vem impondo um aperto adicional das condições financeiras. Isto posto, existe um cenário de desinflação gradativa, em que o FED, não aumentará a taxa de juros, porém deve mantê-la no mesmo patamar por mais tempo, para consolidar a desaceleração econômica americana.
7. Quais serão as melhores oportunidades no mercado para os últimos dois meses do ano?
R: Estamos em um momento crítico, uma vez que as declarações recentes do Presidente da República trouxeram insegurança para o Mercado todo. Como o aumento da Dívida, o aumento de programas sociais, bem como o descontrole dos gastos públicos, o mercado apresenta um humor de insegurança. O que pode apresentar essa semana um rali de queda.
Além disso, o que contribui para essa instabilidade é a maior economia, apresentar também um cenário de recessão, mesmo com o mercado de mão de obra americana, ainda apresentar uma aceleração, ainda mais focado no setor de serviços.
Muitos investidores vão deixar de investir em bolsa, pois essa não terá um crescimento superior ao CDI, o que contribui para uma migração dos investimentos de bolsa para a Renda Fixa.
8. Quais são as principais tendências ou mudanças que o mercado espera ver no próximo ano?
R: No cenário atual desta semana, temos uma perspectiva de cautela em todo o mercado acionário, tudo por conta do déficit público, e por conta da recessão global, que vem sofrendo pressão ainda da pós pandemia, e agora da guerra Israel versus Hamas e Rússia e Ucrânia. Todo o impacto poderá ser sentido no petróleo e isso trará um efeito cascata. Outro fator é o aumento do custo de operação marítima por conta da guerra, o que pode trazer ainda mais escassez de produtos, e por consequência aumento natural dos produtos disponíveis.
Sendo assim, existe o cenário de uma migração de investimentos no mercado de ações, para o mercado de renda fixa, muito posicionada em juros.