A recente explosão de um armazém de fogos de artifício na Califórnia, nos Estados Unidos, que resultou em extensos danos materiais e a evacuação de áreas vizinhas, acende um importante debate sobre a atuação do mercado de seguros em eventos de alta complexidade. Embora, aparentemente, não houvesse vítimas fatais, o incidente ressalta a necessidade de coberturas abrangentes e medidas preventivas rigorosas, especialmente em instalações que manipulam materiais perigosos.
Para esclarecer o papel das seguradoras nesses cenários, Marlon Basso, Superintendente de Sinistros da REP Seguros, corretora especializada em seguros corporativos, detalhou as coberturas acionadas, a avaliação de risco e os desafios no processamento de sinistros de grande porte.
Coberturas essenciais em cenários de grandes danos
Em casos como a explosão do armazém de fogos de artifício, diversas apólices de seguro são ativadas. “A cobertura de Incêndio, Raio e Explosão do seguro patrimonial da própria instalação seria a principal acionada para cobrir os danos ao imóvel e ao conteúdo do armazém”, explica Basso. No entanto, o impacto de uma explosão se estende muito além do local de origem.
Para os danos a propriedades de terceiros, a cobertura de Responsabilidade Civil Operações se torna fundamental. “Esta cobertura visa indenizar terceiros por danos materiais ou corporais causados durante a operação da empresa, incluindo os decorrentes de explosões”, afirma o superintendente. Ele ressalta a importância de que a apólice contemple limites de indenização adequados para cobrir a vasta extensão de possíveis prejuízos em um raio de impacto considerável.
Além disso, Basso aponta que, dependendo da natureza dos danos e da interrupção das atividades comerciais nas proximidades, outras coberturas como Lucros Cessantes de Terceiros ou despesas com Descontaminação Ambiental (se houver dispersão de resíduos perigosos) podem ser relevantes.
Avaliação de risco e medidas preventivas: um processo rigoroso
A avaliação de risco em instalações que armazenam materiais explosivos e pirotécnicos é um processo minucioso para corretoras e seguradoras. Marlon Basso descreve uma “due diligence aprofundada”, que inclui:
- Vistorias técnicas: Engenheiros de risco especializados avaliam a conformidade com normas de segurança, a qualidade da construção, sistemas de prevenção e combate a incêndio, e a adequação do armazenamento.
- Análise de normas e regulamentações: É verificada a conformidade com legislações locais, estaduais e federais específicas para explosivos, incluindo licenças e alvarás.
- Histórico de sinistros e incidentes: A análise de acidentes passados ajuda a identificar vulnerabilidades.
- Planos de emergência e contingência: A existência e efetividade de planos de evacuação e combate a incêndio são avaliadas.
Para a manutenção da cobertura, as medidas preventivas são contínuas e não negociáveis. Elas envolvem manutenção rigorosa de equipamentos de segurança, conformidade regulatória permanente, treinamento contínuo de funcionários, auditorias internas e externas regulares, investimento em tecnologia de segurança e comunicação de qualquer gestão de mudanças significativas na operação.
Desafios no processamento de sinistros e estratégias para agilidade
O processamento de sinistros de grandes incêndios e explosões, especialmente com envolvimento de materiais perigosos, é intrinsecamente complexo. Basso lista os principais desafios:
- Avaliação da extensão dos danos: A destruição massiva dificulta a quantificação precisa dos prejuízos.
- Causa e origem do sinistro: Determinar a causa exata pode ser um processo longo e complexo.
- Danos a terceiros e responsabilidade: Aumenta a complexidade com a apuração de responsabilidades e coordenação com múltiplos envolvidos.
- Contaminação ambiental: Adiciona uma camada de complexidade e custos elevados de remediação.
- Interrupção de negócios: Gera perdas por lucros cessantes que precisam ser calculadas com precisão.
- Evacuação e despesas adicionais: Custos associados à evacuação e outras despesas emergenciais precisam ser gerenciados.
Para reduzir o tempo de pagamento e mitigar fraudes ou litígios, a REP Seguros adota uma abordagem multifacetada. Isso inclui ter uma equipe especializada em sinistros complexos, utilizar tecnologia e análise de dados para mapeamento de danos, manter uma comunicação transparente e proativa com o segurado e terceiros afetados, exigir documentação rigorosa de todos os danos e despesas, e buscar mediação e resolução alternativa de disputas em casos de divergência.
A explosão na Pensilvânia serve como um lembrete contundente da imprevisibilidade de certos riscos e da importância vital de um seguro corporativo robusto e de uma cultura de prevenção contínua para mitigar as consequências de eventos catastróficos.