Para Lilian Carvalho a narrativa ignora provas documentais e cronologia, criando ruído político sem utilidade para regulação ou investidores
A recente circulação de conteúdos associando investigações da Polícia Federal contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) a uma suposta “fake news do Pix” em 2025 tem gerado confusão no debate público. Para Lilian Carvalho, PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, o risco é transformar um tema de alta complexidade em ruído político, sem aderência analítica ou relevância para regulação, governança corporativa e investidores institucionais.
“A tentativa de explicar um fenômeno de 2020–2024 por uma ‘fake news do Pix’ que ganha tração em 2025 fere a precedência temporal, requisito mínimo de causalidade. Sem mecanismo plausível, a hipótese cai no anacronismo retórico: reinterpreta o passado para enquadrar o presente”, afirma.
De acordo com a investigação da Polícia Federal, a movimentação de recursos ligados ao PCC ocorreu entre 2020 e 2024, envolvendo estruturas financeiras que agora são objeto de apuração com base em documentos oficiais, quebras de sigilo, despachos e cooperação com COAF e Banco Central.
Dados de social listening levantados pela ferramenta Buzzmonitor mostram que, nos últimos dias, houve 1.003 menções online sobre “PCC” e “Faria Lima”, com 45% de menções negativas, mas baixo engajamento orgânico. Já o subtema da “fake news do Pix” somou 396 posts, concentrados em veículos de esquerda, com circulação restrita e sem tração ampla.
Segundo Lilian, é fundamental distinguir risco reputacional de risco regulatório. “O primeiro depende do alcance e persistência do debate público; o segundo decorre de achados técnicos e da capacidade de enforcement. Hoje, o engajamento baixo nas redes sugere risco de imagem contido, enquanto o risco de supervisão e sanção permanece condicionado à evidência forense”, explica.
Ela conclui: “Se a narrativa não cabe na linha do tempo, troca-se a narrativa, não os fatos. Para o mercado, a régua continua sendo evidência auditável, não trending topics.”