Pela primeira vez na América Latina, a AIP reunirá especialistas internacionais no Rio de Janeiro para discutir avanços em Matemática Aplicada, Inteligência Artificial e suas aplicações em áreas como Medicina, Engenharia e Finanças
Se você já fez uma tomografia, usou um aplicativo de geolocalização ou acompanhou previsões financeiras baseadas em grandes volumes de dados, é provável que tenha se beneficiado, sem saber, de soluções para Problemas Inversos — um dos campos mais relevantes e dinâmicos da Matemática Aplicada na atualidade. Esse ramo busca reconstruir informações ocultas a partir de dados incompletos ou indiretos, oferecendo ferramentas fundamentais para resolver problemas de alta complexidade em diversos setores da sociedade.
É mergulhado nesse ramo cheio de aplicações que a Escola de Matemática Aplicada da FGV (FGV EMAp) receberá a Conferência Applied Inverse Problems (AIP) de 28 de julho a 1º de agosto, no Centro Cultural FGV, no Rio de Janeiro. As inscrições já estão abertas.
Pela primeira vez o evento, considerado o maior encontro científico internacional dedicado exclusivamente ao tema, será realizado na América Latina e no Hemisfério Sul. A expectativa é reunir uma audiência diversa de matemáticos, físicos, engenheiros, cientistas da computação e especialistas de diferentes áreas, todos unidos pelo interesse em problemas inversos e suas aplicações práticas.
“É um marco para a comunidade científica latino-americana”, destaca Yur
A programação contará com palestras, sessões temáticas e apresentação de pôsteres, buscando promover o intercâmbio científico e despertar o interesse de novos talentos na área. Um dos destaques será a entrega dos prêmios Calderón, concedidos a jovens pesquisadores com menos de 40 anos.
Inovação científica com impacto real
A pesquisa em Problemas Inversos envolve a reconstrução de parâmetros, estruturas ou imagens a partir de medições indiretas — algo que ocorre, por exemplo, ao tentar detectar tumores em exames médicos de imagem ou ao mapear estruturas subterrâneas na geofísica. Para isso, a área combina análise matemática, geometria diferencial, computação científica, estatística e aprendizado de máquina.
“Estamos lidando com uma ciência que tem impacto direto em áreas críticas como medicina, energia, materiais, economia e segurança”, contextualiza Saporito. O poder dos Problemas Inversos está em sua capacidade de traduzir dados ruidosos e incompletos em decisões concretas, diagnósticos mais precisos e tecnologias mais eficientes.
Nesse sentido, a AIP tem se consolidado como um espaço fundamental para o avanço do conhecimento. “A conferência promove o diálogo entre teoria, algoritmos e aplicações reais, incentivando abordagens inovadoras que muitas vezes nascem da interação entre disciplinas distintas”, afirma o pesquisador, com experiência na área de Finanças Quantitativas, Probabilidade e Processos Estocásticos.
Diversidade temática e científica
A programação científica da AIP 2025 refletirá a amplitude e a complexidade do campo. Estão previstos tópicos como regularização de problemas mal-postos, problemas inversos para equações diferenciais parciais, geometria inversa, assimilação de dados, modelagem multiescalar e métodos baseados em machine learning, incluindo algoritmos auto-supervisionados e explicáveis.
“A área tem evoluído com rapidez, incorporando inovações como o uso de inteligência artificial explicável e métodos baseados em dados para enfrentar desafios antes intratáveis”, explica Saporito.
Entre os palestrantes plenários confirmados estão pesquisadores de referência internacional: Tatiana Bubba (Universidade de Ferrara, na Itália), Ru-Yu Lai (Universidade de Minnesota, nos EUA), Mikyoung Lim (KAIST, na Coreia do Sul) e Plamen Stefanov (Universidade Purdue, nos EUA), com atuações de destaque em tomografia matemática, problemas espectrais e reconstrução computacional.
Além disso, a conferência contará com minissimpósios temáticos, sessões de pôsteres competitivos e uma celebração especial pelos 40 anos da revista ‘Inverse Problems’, marco editorial da área.
Inovação, inclusão e oportunidades
Mais do que uma vitrine para o estado da arte da pesquisa em Problemas Inversos, a AIP 2025 foi pensada para incluir, formar e conectar. Um dos destaques da programação será o evento ‘Women in Inverse Problems’ (WiIP), voltado à maior participação feminina na área. Haverá sessões de mentoria, apresentação de pôsteres por pesquisadoras e mesas-redondas sobre desafios e estratégias de inclusão.
“A ciência precisa de diversidade para inovar. Incluir diferentes perspectivas não é apenas uma questão de justiça, mas também de qualidade científica. É por isso que estamos investindo em ações que promovam o protagonismo de mulheres e de jovens cientistas”, ressalta Saporito.
Além disso, o evento oferecerá oportunidades de destaque para estudantes e pesquisadores em início de carreira, com sessões específicas de apresentação, premiações para melhores trabalhos e atividades de integração científica e social. “Queremos que a AIP seja um ambiente acolhedor e fértil para o surgimento de novas colaborações, redes de pesquisa e projetos interdisciplinares”, completa o coordenador.
Cooperação internacional e organização local
A AIP 2025 é organizada a partir da parceria da FGV EMAp com o Instituto de Problemas Inversos Aplicados (IPIA), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as Sociedades Brasileiras de Matemática (SBM) e Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), a FAPERJ, a CAPES, o CNPq, Mip-Wise e IOP Publishing. O evento tem como integrantes do comitê organizador os pesquisadores Antonio Leitão, da UFSC, e Yuri Saporito, da FGV EMAp.
A colaboração entre as instituições tem sido fundamental para garantir o alto nível científico do evento e ampliar seu alcance internacional. “A FGV EMAp tem experiência consolidada na realização de eventos internacionais e um corpo docente altamente qualificado. Já o IPIA conecta a organização à comunidade global de problemas inversos, o que é essencial para o sucesso da conferência”, encerra Saporito.
