Relativamente desconhecida, a Frenectomia tem ganhado notoriedade nos últimos anos. Trata-se de uma cirurgia feita na boca para remover o “freio” lingual ou labial, uma faixa de tecido que, quando muito curta ou espessa, pode comprometer funções básicas como falar, mamar, engolir e até sorrir, segundo a presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do CROSP, Dra.Patricia Georgevich.
Para se ter uma ideia, no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, estima-se que uma em cada cinco crianças nasçam com a língua presa. Entre 2021 e 2023, a cirurgia de correção do freio registrou aumento de 65,47%.
Tipos de freio
Existem dois tipos de freios, o lingual e o labial. O primeiro fica debaixo da língua e, quando encurtado, pode deixar a língua presa, o que dificulta a amamentação dos bebês, e a fala e a mastigação em crianças e adultos.
Já o freio labial, que fica entre o lábio e a gengiva, pode causar espaço entre os dentes da frente, sorriso gengival, problemas com próteses dentárias ou dificuldade para escovar os dentes.
Para os dois tipos de freios, as técnicas cirúrgicas de frenectomia podem ser feitas com bisturi ou laser, com anestesia local.
Quando e quem faz?
A indicação da cirurgia ocorre quando o freio atrapalha a alimentação, a fala ou a higiene bucal, entre outros quadros. A recomendação é feita de forma interdisciplinar por cirurgiões-dentistas, pediatras, otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos. O objetivo do procedimento é melhorar a função e a saúde da boca, a fim de garantir conforto e qualidade de vida aos pacientes.
Recomenda-se também a frenectomia quando há dificuldade para mamar, atraso na fala, diastema (espaço ou lacuna entre os dentes), retração da gengiva e dificuldade de escovação, explica a presidente de Odontopediatria do CROSP.
Causas
“Geralmente é uma condição de nascimento, causada por fatores genéticos. Pode ocorrer devido a alterações no desenvolvimento do bebê durante a gestação. Em alguns casos, acontece sem histórico familiar. O nascimento prematuro também pode contribuir. O freio pode ter tamanho, forma ou posição alterados”, esclarece a Dra. Patrícia.
Procedimento
A frenectomia pode ser realizada de duas formas, ambas com anestesia local: a técnica convencional de procedimento cirúrgico, com bisturi ou tesoura (instrumentos cirúrgicos), por meio de corte do freio, ocasionando pontos, que podem tanto cair sozinhos como serem retirados depois. E o procedimento a laser, em que o corte é feito com pouco ou nenhum sangramento e, geralmente, não precisa de pontos. A recuperação nesses casos costuma ser mais rápida e confortável.
A presidente da Câmara Técnica ressalta que ambas as técnicas são eficazes e cabe ao profissional escolher a mais adequada para cada caso. “O procedimento cirúrgico deve ser somente realizado por profissional habilitado (médico-pediatra, cirurgião, otorrinolaringologista/
Riscos
A frenectomia é uma cirurgia segura e de baixo risco. No entanto, como qualquer procedimento, pode apresentar algumas complicações, ainda que raras, explica a profissional. Os possíveis riscos são de sangramento, que pode ocorrer principalmente na região da língua.
Dor e inchaço são comuns, mas geralmente de forma leve e controlável com medicação. Casos de infecção são raros, segundo a Dra. Patricia, e podem ocorrer principalmente se a higiene bucal não for adequada.
Também é importante se atentar à cicatrização inadequada, que pode gerar fibrose ou necessidade de reintervenção.
Cuidados
Após a cirurgia, é necessário seguir certos cuidados envolvendo alimentação – por meio de opções frias, líquidas ou pastosas nos primeiros dias. É recomendado evitar comidas quentes, duras, ácidas e apimentadas.
Entre os cuidados necessários também está o controle de dor e inchaço; usar compressas frias nas primeiras horas, tomar os medicamentos conforme a orientação profissional e, além disso, descansar no primeiro dia pós-procedimento e evitar esforço físico. Para os pacientes adultos, evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e a prática do fumo, bem como a exposição ao calor excessivo e ao sol.
A Dra. Patricia ressalta, ainda, a importância da higiene bucal; escovar com cuidado usando escova macia, evitar bochechos vigorosos nos primeiros dias e usar enxaguante bucal apenas se for indicado.
O paciente deve se atentar aos sinais de alerta para complicações no pós-operatório, como sangramento persistente e dor intensa ou inchaço, sendo importante a comunicação com o profissional responsável pelo procedimento em episódios como esses.
No pós, é importante ter um acompanhamento, comparecer à consulta de retorno para avaliar a cicatrização e, se necessário, retirar os pontos. Em caso de bebês, pode ser necessário realizar exercícios para evitar a readesão, esses sempre com a orientação do fonoaudiólogo.
“Com indicação precisa, técnica adequada e acompanhamento pós-operatório — incluindo, se necessário, Fonoaudiologia — a frenectomia tem alto índice de sucesso e recuperação tranquila”, finaliza a especialista.
O conselheiro do CROSP, Dr. José Carlos Imparato complementa que é importante tomar cuidado com o excesso de cirurgias feitas no Brasil, e que é necessário ter cautela ao lidar com cirurgias com recém-nascidos, além dos riscos de aversão oral e até desmame precoce, que se tem observado principalmente logo após o nascimento, devido ao manejo inadequado ou técnica cirúrgica inadequada.