Sem o suporte de um especialista, jovens podem tomar decisões financeiras precipitadas, como contratar crédito sem avaliar juros ou entrar em investimentos de risco sem compreender os impactos
Se, no passado, ter um gerente de banco era sinônimo de maturidade financeira, hoje essa figura parece cada vez mais distante da realidade dos jovens. Segundo pesquisa da Anbima em parceria com o Datafolha, 40% dos jovens já utilizam canais digitais para acompanhar investimentos, número superior ao das gerações anteriores. Além disso, o Relatório de Tendências de Consumo Global (MoEngage/2023) revela que 32,4% dos Millennials latino-americanos recorrem a aplicativos bancários e de fintechs para transferências e pagamentos.
Esses dados evidenciam uma mudança cultural: para a geração Z, resolver tudo pelo celular é mais prático, rápido e transparente do que marcar uma reunião na agência. A tela do smartphone substituiu a mesa do gerente, e essa mudança diz muito sobre como os jovens encaram a sua relação com o dinheiro.
Autonomia como novo valor
A geração Z cresceu em um ambiente de informação abundante e imediata. Por isso, acostumou-se a resolver problemas sem intermediários, inclusive no campo financeiro. Os aplicativos oferecem um espaço de controle direto, em que o jovem sente que tem autonomia real sobre seu dinheiro.
Segundo Deyvid Barros, especialista em educação financeira e fundador da Investeens, essa mudança reflete um comportamento mais amplo: “O jovem de hoje não quer depender de alguém para decidir por ele. Ele quer informações claras, acessíveis e ferramentas que permitam autonomia. Se o banco tradicional não entrega isso, ele vai buscar soluções que falem a sua língua”. Essa preferência por autonomia mostra por que os apps se tornaram tão mais relevantes que os gerentes tradicionais.
O fim da agência como conhecemos
Para os mais velhos, a agência bancária ainda é um lugar de confiança, onde a presença física transmite segurança. Já para os jovens, esse modelo parece ultrapassado. Poucos veem vantagem em perder tempo em filas ou reuniões quando podem resolver tudo em minutos pelo celular.
Deivyd destaca que a questão não é apenas sobre tempo, mas sobre eficiência: “O jovem olha para a agência e pensa: por que gastar duas horas para resolver o que faço em dois minutos? Esse pensamento está transformando a lógica das instituições financeiras”. A consequência é clara: enquanto os apps crescem, muitas agências ficam cada vez mais vazias.
Transparência acima de tudo
Se antes as relações com o gerente eram baseadas na confiança pessoal, hoje a prioridade é a transparência das informações. Aplicativos e fintechs oferecem simulações, comparativos e detalhamento de tarifas que dão ao jovem uma sensação de clareza que dificilmente encontra em contratos tradicionais.
“Transparência virou moeda de troca”, afirma Deyvid. “Se o banco não mostra exatamente quanto custa uma taxa ou esconde condições em letras miúdas, o jovem sente que está sendo enganado. Já os apps colocam os números na tela e deixam a decisão na sua mão, e isso pesa muito na escolha dessa geração”.
Riscos dessa autonomia
A autonomia traz vantagens, mas também armadilhas. Sem o suporte de um gerente, jovens podem tomar decisões financeiras precipitadas, como contratar crédito sem avaliar juros ou entrar em investimentos de risco sem compreender os impactos. A praticidade que dá liberdade também pode expor a novos perigos.
Para Deyvid, o problema não está nos aplicativos, mas na falta de preparo para usá-los. “Não basta trocar o gerente por um app. É preciso aprender a interpretar os dados, comparar opções e planejar antes de agir. Sem educação financeira, o jovem pode acabar usando as ferramentas digitais contra si mesmo“.
O futuro das finanças na mão dos jovens
O movimento da geração Z mostra que o futuro dos serviços financeiros é cada vez mais digital e descentralizado. Isso não significa o fim absoluto da figura do gerente, mas uma transformação de função: ele deixa de ser um intermediário burocrático e pode evoluir para atuar como consultor estratégico.
Deyvid resume essa mudança em uma reflexão: “O gerente não acabou, mas precisa se reinventar. O que antes era resolver burocracia agora pode ser orientar escolhas. O futuro das finanças já está na palma da mão dos jovens, mas o papel humano continua importante, desde que faça sentido para essa nova forma de se relacionar com o dinheiro”.