Confira análise de Thomas Haugaard, gerente de portfólio da Janus Henderson
Após um mês de incerteza política e volatilidade do mercado, que resultou em um apoio sem precedentes dos EUA à Argentina nas últimas semanas, o presidente Javier Milei saiu vitorioso nas eleições nacionais com uma margem de vitória maior do que o esperado. Os ativos argentinos reagiram de forma muito positiva ao resultado, com os títulos soberanos em dólares subindo 12 pontos e o peso se valorizando 5,5% no momento da redação deste texto.
Em nível nacional, o partido LLA (La Libertad Avanza) de Milei obteve 40,8% dos votos, superando fortemente a oposição kirchnerista Fuerza Patria e seus aliados, que conquistaram 31,6%. Isso incluiu vitórias em 16 províncias, incluindo Córdoba, Santa Fé, Mendoza, a cidade de Buenos Aires e uma virada dramática na província de Buenos Aires (onde ele havia perdido nas eleições regionais no mês passado). A participação eleitoral foi baixa (a menor desde o retorno à democracia), com apenas cerca de 68% dos eleitores registrados comparecendo às urnas, o que evidencia o clima de polarização do eleitorado.
O resultado eleitoral fortalece a posição de Milei. Ele e seus aliados terão mais de um terço das cadeiras em ambas as câmaras, garantindo proteção contra vetos e eliminando riscos de impeachment, além de lhe conferir maior autoridade para exercer o veto presidencial. A capacidade de manter os vetos presidenciais em ambas as câmaras é um ponto positivo fundamental e os mercados veem essa salvaguarda como uma importante ferramenta de governança em situações extremas.
Os números também ressaltam a necessidade de formação de alianças entre os partidos para a formulação de políticas públicas: o LLA e seu aliado PRO (Proposta Republicana) controlam cerca de 108 cadeiras na Câmara dos Deputados, aquém das 129 necessárias para a maioria; eles precisam do apoio dos cerca de 28 representantes provinciais moderados.
Trajetória de crédito da Argentina
Milei celebrou a vitória e proferiu um discurso ponderado e conciliador, convidando governadores e outras forças políticas a participarem de um diálogo e de acordos nacionais. Como resultado de sua vitória, a governabilidade é fortalecida e o ímpeto reformista pode ser acelerado na Argentina, com mudanças estruturais críticas em tributação, legislação trabalhista, previdência e outras áreas, que agora parecem prováveis, particularmente se o Orçamento de 2026 obtiver aprovação do Congresso.
A consolidação da coalizão LLA de Milei, juntamente com seus aliados, que obteve mais de 40% dos votos, praticamente elimina qualquer alternativa de centro, tornando as eleições de 2027 um pleito que provavelmente será polarizado entre Milei e o peronismo. Se a economia e os indicadores macroeconômicos permanecerem favoráveis nos próximos dois anos, Milei provavelmente continuará sendo o favorito para 2027, o que beneficiaria o perfil de crédito da Argentina.
Espera-se que o apoio dos EUA forneça um importante respaldo; esse apoio deverá reduzir drasticamente o prêmio de risco político da Argentina, dando ao banco central espaço para flexibilizar as condições monetárias e normalizar as exigências de reservas cambiais. Os planos para ampliar as bandas cambiais e avançar progressivamente em direção a um câmbio flutuante em 2026 poderão ser concretizados.
À medida que o governo avança, a capacidade de conciliar as diferenças entre os governadores pró-mercado e as facções peronistas tradicionais, mantendo-se fiel ao mandato de Milei, determinará se um ciclo virtuoso de reformas poderá ser alcançado.
