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Guia decisivo para as APVs: ficar como associação, virar cooperativa ou migrar para Seguradora S4?

O jornalista William Anthony, do Universo do Seguro, entrevista Renato Bernardes, CEO da R2 Finance / Divulgação
O jornalista William Anthony, do Universo do Seguro, entrevista Renato Bernardes, CEO da R2 Finance / Divulgação

Com a Lei 213/2025 (que revoga o Decreto 73/66), o ecossistema de seguros entra em um novo marco regulatório. Na prática, associações de proteção veicular (APVs) e cooperativas estão diante de uma escolha estratégica: permanecer como estão (com adequações), se reorganizar como cooperativa de seguros ou pedir autorização para operar como seguradora – em geral, no porte S3/S4.

Neste artigo, condensamos – em linguagem direta – os pontos críticos abordados por Renato Bernardes (CEO da R2 Finance) no Podcast Universo do Seguro, com foco em como decidir e como executar.

O que de fato mudou

  • A Lei 213/2025 inaugura um novo marco legal e atrai novos players (associações e cooperativas) para o perímetro formal do mercado.

  • Segundo Bernardes, 165 entidades já buscaram cadastro na Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); há mais de mil no país, e parte ainda avalia como operar adiante.

  • O recado central do regulador: quem assume risco de seguro precisa seguir normas de seguro – contabilidade padronizada, provisões técnicas, governança e capacidade de capital.

As três rotas na mesa

Rota A – Permanecer como associação (com adequações)

Algumas entidades avaliam operar sob uma administradora e ajustar processos (contratos, governança, compliance). Atenção: se a essência do produto for seguro, a SUSEP exigirá padrões de seguro (contabilidade, atuária, provisões, capital).

Rota B – Reorganizar-se como cooperativa de seguros

Mantém a lógica de superávit (e não lucro distribuído a “donos”), reforça o patrimônio e a reserva para suportar riscos crescentes. Continua altamente regulada quanto a provisões, solvência e liquidez.

Rota C – Virar seguradora S4 (ou S3, a depender do porte)

É o caminho mais regulado e estável para quem quer escala. Exige:

  • Autorização da SUSEP e capital regulatório compatível com o escopo de produtos/risco.

  • Dois diretores (ao menos um com experiência comprovada em seguros).

  • Comprovação da origem do capital e capacidade financeira dos controladores (não basta aportar; é preciso demonstrar lastro adicional).

  • Contabilidade padrão SUSEP e responsável técnico atuário para provisões.

Nota de rota: Na visão de Bernardes, quem pretende “começar direitinho” tende a encaixar em S3 ou S4, a depender do portfólio e do apetite de risco.

O coração financeiro: provisões, solvência e “colchão” de reservas

  • PPNG (Provisão de Prêmios Não Ganhos): “trava” a receita enquanto o risco estiver vigente; empurra o lucro para frente e ajuda no IR (evita “forçar” resultado logo no 1º ano).

  • Provisões de sinistros: avisados e não avisados (prudenciais).

  • Solvência e liquidez: pilares monitorados pelo regulador.

  • Investimentos: reservas tendem a ser aplicadas majoritariamente em títulos públicos federais (direto ou via fundos).

  • Mensagem-chave: uma seguradora é, na prática, um colchão de dinheiro que precisa engordar para reter risco com segurança. Em cooperativas, esse “engordar” não vira distribuição de lucro; vira mais capacidade de assumir risco.

Resseguro: quando e por que você vai precisar

Se o seu produto acumula muito risco, resseguro deixa de ser opção e vira necessidade.

  • Converse com resseguradores ou brokers para entender apetite por ramo.

  • Tendências citadas: vida costuma ter bom apetite; garantia é mais restrita (cláusulas e risco de crédito pesam).

  • O desenho retenção x cessão define a escala possível da sua operação – e o capital que você precisa.

Comercial de verdade: por que só o digital não resolve

  • Fraudes digitais e mau enquadramento de coberturas tornaram o “só digital” arriscado para quem vende risco.

  • O corretor continua indispensável: traduz necessidade, ajusta capitais e evita gaps (ex.: confundir AP com Vida, contratar capitais irrelevantes etc.).

  • Melhor arranjo de go-to-market: multicanal (digital + corretor + outros canais), com governança de vendas e comissionamento bem desenhados.

Capital, diretoria e papel do atuário/contador

Para autorização na SUSEP, prepare-se para entregar (e comprovar):

  • Origem do capital (lastro lícito).

  • Capacidade financeira dos sócios (ex.: aportar R$ 1 mi e demonstrar folga além disso no IRPF).

  • Diretoria com experiência real em seguros (carteira, comprovações).

  • Atuária + Contabilidade: dupla que fecha o mês com consistência – provisões, risco de crédito/mercado/subscrição/operacional, testes de solvência.

Como decidir: roteiro prático em 4 etapas

(1) Diagnóstico do negócio

  • Produto (auto, vida, garantia, estendida etc.) e perfil de risco.

  • Geografia e distribuição (há variações regionais relevantes para sinistralidade e precificação).

  • Base de clientes (tamanho, recorrência, ticket, LTV, churn).

(2) Modelagem técnica e financeira

  • Ciclos de vigência → definem PPNG e “timing” de resultado.

  • Provisões de sinistro (avisados/não avisados) e cenários de stress.

  • Mapa de resseguro (o que reter, o que ceder e para quem).

  • Plano de investimentos das reservas (com política de risco).

(3) Governança e pessoas

  • Diretores (experiência comprovada), compliance, risco, atuária, contábil/tributário.

  • Políticas: subscrição, aceitação, prevenção a fraudes, LGPD, PLD/CFT.

  • Controles internos e auditoria.

(4) Go-to-market e operações

  • Corretores como pilar; digital como acelerador, não substituto.

  • Onboarding antifraude, assinatura/consentimento e clareza de coberturas.

  • Service e sinistros com NPS mapeado (a “hora da verdade” da marca).

Cooperativa x Seguradora S4: prós e contrapesos (em linguagem de negócios)

Cooperativa de seguros

  • Prós: coerente para bases comunitárias/segmentadas; superávit reforça patrimônio e capacidade de retenção; narrativa de pertencimento.

  • Contrapesos: mesma régua técnica (provisões/solvência); precisa de disciplina na gestão e resseguro quando o risco concentra.

Seguradora S4

  • Prós: selo regulatório mais “clássico” de mercado; porta de entrada para escala, canais e parcerias estruturadas; melhora percepção de solidez.

  • Contrapesos: exigências formais mais duras; capital e time técnico bem testados; auditoria e controles sem atalhos.

Reforma tributária: o que muda no dia a dia

Bernardes entende que:

  • O setor já é dos mais tributados; não deve “piorar” para seguradoras.

  • Simples: tende a não mudar (alívio para corretores).

  • CBS/IBS substituem o emaranhado de PIS/Cofins/ISS/ICMS, simplificando o operacional e reduzindo insegurança jurídica.

Sinais de alerta (e como corrigir a rota)

  • Forçar lucro no 1º ano: pode piorar seu IR e enfraquecer o colchão de reservas. Use a PPNG como deve ser.

  • Subestimar resseguro: quebra o plano econômico. Negocie cedo; saiba o apetite por ramo.

  • “Só digital”: aumenta fraude e mau enquadramento. Traga o corretor.

  • Capital “criativo”: imóveis e afins não contam para reserva técnica.

  • Time raso: sem atuário/contador/diretoria experiente, o projeto não passa.

A decisão que separa “projeto” de “empresa”

Para APVs e cooperativas, ficar onde estão exigirá padrões de seguro de qualquer maneira. Virar cooperativa de seguros faz sentido a quem prioriza pertencimento e patrimônio de longo prazo. S4 é o passo natural para quem busca escala, parcerias e selo de solidez – desde que aceite o custo da disciplina (capital, governança, provisões, resseguro, controles).

A escolha certa não é slogan; é equação técnica + viabilidade econômica + execução. Se o seu produto tem risco concentrado, se a ambição é crescer com lastro e se você aceita governar como seguradora, S4 tende a ser a rota mais segura – e sustentável.

Checklist final (curto e útil)

  • Produto/risco mapeados • Geografia e canais definidos

  • Provisões (PPNG/sinistros) dimensionadas • Mapa de resseguro pronto

  • Capital com origem e capacidade comprovadas

  • Diretoria com experiência • Atuária e Contabilidade na mesa

  • Governança, compliance e antifraude operando (não só no papel)

Seja qual for a sua decisão, o relógio regulatório já está rodando. O mercado recompensará quem se antecipar – com técnica, transparência e execução.

Faça o Download: Planilha – Simulação de Resultado de Seguradora

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