Em termos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, o hidrogênio verde se apresenta como uma das soluções energéticas mais promissoras e acessíveis, e que devem pavimentar a descarbonização de setores como a indústria e a mobilidade. Isso porque o chamado combustível do futuro é obtido por meio de energias limpas e renováveis, como a solar, a eólica e a hidráulica, ou seja, sem a emissão de gás carbônico, diferentemente do hidrogênio utilizado atualmente em larga escala, conhecido como cinza porque provém da queima de combustíveis fósseis.
A eletrólise da água é considerada como o método mais viável para a produção de hidrogênio verde, um processo químico que quebra as moléculas da água para gerar hidrogênio e oxigênio. Mas, para fazer isso, os eletrolisadores precisam de uma boa quantidade de corrente elétrica de fontes renováveis.
A Bahia é rica em duas dessas fontes de energia limpa, o sol e o vento. Por isso o governo do estado encomendou junto ao Senai Cimatec o desenvolvimento de um Mapa do Hidrogênio Verde (H2V), um estudo para identificar as áreas prioritárias com vocação para a produção do componente.
O Brasil61.com conversou com José Luis Almeida, coordenador do Mapa do Hidrogênio Verde, que deve ser concluído em novembro. Ele explica que o combustível do futuro será responsável por descarbonizar, aos poucos, a indústria da Bahia e que a tecnologia pode não só ajudar outros estados com relação à sustentabilidade do setor, como também ajudar o país a resolver o problema da dependência de importação dos fertilizantes.
Confira a entrevista
Brasil61: José Luis, como se produz o hidrogênio verde?
José Luis Almeida: “O hidrogênio verde, para se produzir, é necessário que a energia dos eletrolisadores provém da energia eólica, solar ou hidráulica, que são energias limpas, não geram CO2. Então, você produz o hidrogênio e ao ser consumido, seja como matéria-prima ou seja como energia, ele não produz nenhuma emissão de CO². Ou seja, há uma descarbonização de todos os processos industriais.”
Brasil61: O Senai Cimatec já realizou o Mapa Eólico e Fotovoltaico da Bahia, que é de onde virá a energia limpa para fabricar esse novo combustível. Como vai ser esse Mapa do Hidrogênio Verde?
José Luis Almeida: “Esse mapa vai identificar quais são os pontos potenciais para a produção de hidrogênio verde no estado da Bahia, levando em consideração a disponibilidade de água, sejam elas águas residuais, águas do subsolo, águas salinas, leva em consideração também a infraestrutura que existe no estado, de transporte, portos, aeroportos, a infraestrutura de transmissão elétrica já existe. E nesse mapa vai conter também a parte de regulamentação do hidrogênio verde dos cinco países mais avançados e também a forma de financiamento e de fomento, nesses países, do hidrogênio verde”
Brasil61: O que falta para as indústrias passarem a usar o hidrogênio verde no lugar do hidrogênio de hoje, que emite CO²?
José Luis Almeida: “O que nós temos de fazer é desenvolver tecnologia de maneira com que consigamos fazer um hidrogênio competitivo com o hidrogênio já existente, ou seja, que é gerado através de reforma a vapor. Uma vez que seja isso, as indústrias utilizarão, substituirão rapidamente o hidrogênio de reforma a vapor por um hidrogênio verde, fazendo amônia verde, ureia verde, fazendo fertilizantes verdes que nós precisamos tanto aqui no Brasil.”
Brasil61: O hidrogênio verde está sendo apontado como o combustível que vai ajudar a construir um futuro de indústrias sustentáveis. Esse já é um planejamento do setor no Brasil? Todos os tipos de indústria podem se beneficiar com essa tecnologia?
José Luis Almeida: “Eu acredito e todos nós acreditamos, inclusive a Europa, toda ela acredita e está pesquisando também, que o hidrogênio será o combustível do futuro. Nós não podemos substituir hoje todos os hidrocarbonetos que geram gases do efeito estufa, NOX, CO², SO² rapidamente. Então, existe um processo de descarbonização, existe uma transição energética. A importância do Cimatec é produzir tecnologia para que cada vez mais os setores da indústria química, ou da indústria de uma maneira geral, seja pouco a pouco descarbonizada, sustentavelmente. E como isso acontece? Substituindo o hidrogênio cinza, de reforma a vapor, gradativamente em todos os setores da indústria, seja ele petroquímico, refino, papel e celulose, siderurgia, mineração, a parte de bebidas e alimentos, têxteis. Então, gradativamente nós vamos substituir, a sociedade e as indústrias irão naturalmente substituir esses compostos, coque, hidrocarbonetos, por um hidrogênio que não emite absolutamente nada, porque quando ele queima ele gera vapor de água. É só isso que ele gera.”
Brasil61: José Luis, além de combustível para indústrias, que outros usos a tecnologia do hidrogênio verde poderia proporcionar?
José Luis Almeida: “Os nossos projetos que temos hoje abrangem, por exemplo, os fertilizantes. Nós podemos, gradativamente, se esses projetos forem adiante, e vão adiante, tenho certeza, aumentar a produção de fertilizantes verdes no Brasil de maneira a suprir toda a nossa necessidade em fertilizantes e talvez até para exportar. Porque nós temos um potencial solar, eólico e hidráulico enorme no estado da Bahia. Porque hoje a amônia, uma matéria prima para a produção de fertilizantes, é proveniente do gás de síntese, com hidrogênio e monóxido de carbono, que é gerado a partir do gás natural. Esse hidrogênio, então, gera uma quantidade de CO², monóxido de carbono, muito grande. Se a gente substituir esse hidrogênio cinza hoje na produção de amônia, por um hidrogênio verde, nós vamos ter uma amônia verde. E com ela podemos fazer ureia verde, captando CO² da atmosfera. E fazendo ureia verde naturalmente nós fazemos sulfato de amônia e nitrato de amônia, que são também componentes dos fertilizantes. Oitenta e cinco por cento da demanda de fertilizantes hoje no Brasil é importada. Então, seremos capazes de suprir estes 85% do agronegócio e ainda talvez exportar.”