Estudo investiga como a tecnologia começa a integrar o processo de despedida e memória afetiva
O Dia de Finados, celebrado em 02 de novembro, é uma data repleta de significados e lembranças para aqueles em processo de luto. Com o avanço da tecnologia, foram desenvolvidos recursos capazes de criar avatares digitais de pessoas mortas. Conhecido como thanabot, o serviço simula conversas com entes queridos falecidos com base em dados, imagens e registros de voz.
A ESPM, referência nacional em Marketing, Inovação e Negócios, realizou um levantamento inédito para entender como os brasileiros percebem o emprego da inteligência artificial no enfrentamento do luto. A pesquisa, conduzida pelo Centro de Estudos Aplicados de Marketing (CEAM), ouviu 267 participantes que perderam entes queridos recentemente (nos últimos dois anos). O estudo buscou compreender o papel dessas ferramentas em contextos de memória e conforto emocional.
Um em cada quatro brasileiros se imagina utilizando inteligência artificial para interagir com um ente falecido, e o mesmo percentual (25%) afirma que se sentiria confortável com essa experiência. Quase 40% consideram que os thanabots possuem realismo suficiente para promover interações simbólicas e críveis, enquanto 25% veem benefícios emocionais em seu uso.
Para Thamiris Magalhães, pesquisadora envolvida no estudo, o uso dessas ferramentas é uma maneira de lidar com o luto. “A perda de um ente querido é uma experiência emocional muito forte, e escapar, mesmo que momentaneamente disto, é o primeiro pensamento de quem perde alguém”, comenta a pesquisadora.
No entanto, Thamiris destaca que há riscos e que essa prática requer atenção. “Para a pessoa que fica, todo dia é dia de luto, e lidar com estas emoções é um desafio grande. Emerge uma questão ética naturalmente sobre este assunto. Estes serviços buscam preservar os aspectos éticos, mas auxiliam na tarefa de elaborar a perda.”
A pesquisa também revela que 64% dos participantes pensam ativamente em estratégias para lidar com desafios da vida, demonstrando predisposição ao uso de recursos que auxiliem no enfrentamento emocional.
Flávio Santino Bizarrias, pesquisador do estudo e coordenador do CEAM, observa que, segundo o levantamento, a tecnologia emocional ganha espaço entre os brasileiros. “Mais da metade dos entrevistados conta com uma rede de apoio que os encorajaria a recorrer a soluções tecnológicas no processo de luto.” Ao mesmo tempo, um terço ainda se sente assustado com a ideia da morte, evidenciando que a abertura à inovação convive com o desconforto em torno da finitude.
“A pesquisa mostra que os brasileiros estão mais dispostos a discutir temas que antes eram evitados e a incorporar a inovação de forma mais humana. Essa abertura revela um novo campo de reflexão sobre como a inovação pode contribuir para o acolhimento e o bem-estar emocional”, diz Flávio.
