Congresso NT Expo reúne CPTM, MRS e DB Engineering para debater como tornar tecnologia realidade no setor metroferroviário
O uso da inteligência artificial para modernizar o transporte ferroviário foi tema do painel “IA nos trilhos: como impulsionar a transformação ferroviária?”, realizado nesta quarta-feira (23) durante a 23ª edição da NT Expo – Negócios nos Trilhos, que acontece no Distrito Anhembi, em São Paulo. O debate integrou a programação do Congresso NT Expo e reuniu líderes do setor ferroviário para discutir como a inovação tecnológica pode contribuir para a eficiência, segurança e sustentabilidade nas operações sobre trilhos.
Durante o painel, o presidente da CPTM, Michael Sotelo Cerqueira, lembrou os obstáculos enfrentados no cotidiano da operação ferroviária: “A CPTM opera com 9 milhões de passageiros por dia na Grande São Paulo. Temos pouca tecnologia nos ajudando. Evoluímos nos últimos anos, mas ainda não atingimos um estágio de maturidade. Estamos engajados nos problemas diários, na busca eterna de equilíbrio entre despesas e necessidades de investimentos”.
O diretor executivo da DB Engineering no Brasil, Alain Esteve, destacou que o ponto de partida para a transformação é a estrutura de dados: “É importante começar pela base. Não adianta colocar um monte de sensores e obter dados se não conseguimos fazer a gestão inteligente deles”, disse.
Para Edilson Fonseca, gerente geral de Transformação Digital da MRS Logística, o uso de IA precisa estar conectado com os objetivos estratégicos da empresa: “A tecnologia tem que fazer parte da estratégia de negócios. IA sem dados não existe. Precisamos de informações curadas, organizadas e enriquecidas. É preciso entender as dores do negócio e procurar soluções adequadas. Muitas vezes é preciso ajustar os processos internos antes da aplicação tecnológica”.
Cerqueira também destacou uma iniciativa da CPTM prevista para estrear ainda neste semestre: “Estamos implementando um projeto de big data voltado a indicadores, como um primeiro passo para uma jornada que levará à IA. É preciso forjar uma base sólida antes de pensar no fim. Um dos grandes entraves ainda é enxergar tecnologia como custo. Criamos recentemente um comitê de tecnologia e inovação para romper essa barreira”.
Fonseca também compartilhou experiências práticas da MRS: “Temos um projeto em que o administrativo começou a usar IA generativa para melhorar a produtividade. Em seis meses, o ganho foi de quatro horas por semana. Mas também identificamos dificuldades: 58% dos profissionais não tiveram tempo para usar, 33% não conseguiram e apenas 26% conseguiram. Outro projeto ainda embrionário visa reter conhecimento técnico interno com um agente de IA capaz de responder sobre conteúdos que não estão em manuais, como cum consultor baseado na experiência dos nossos especialistas”.
Alain Esteve trouxe o exemplo do metrô de Medellín, na Colômbia, onde a DB implementou um projeto piloto de digitalização em uma subestação antiga: “Digitalizamos toda a subestação, com base para histórico de manutenção, falhas e sensores. A IA precisa ajudar na antecipação de eventos, sem tirar o humano da decisão final. E é essencial que o tema da cibersegurança esteja sempre na mesa”.
Por fim, Alexander Boslooper, CEO da ConectRail, apresentou uma solução brasileira já em funcionamento: “Criamos o PN Vision Computer, que atua na segurança das passagens em nível com IA, câmeras, sensores doppler e semáforos idênticos aos rodoviários. Está em 24 estações no Paraná, todas ativas e monitoradas, e já reduziu 95% dos acidentes. É uma tecnologia de baixo custo em comparação aos sistemas tradicionais. As novas tecnologias devem trabalhar em conjunto com as tradicionais”.
O painel encerrou reforçando que a inteligência artificial, quando bem aplicada, pode representar um salto de eficiência e segurança para o transporte ferroviário brasileiro — desde que seja vista como investimento estratégico de longo prazo.
Ferrovia como vetor de futuro
Ainda no segundo dia da 23ª edição da NT Expo – Negócios nos Trilhos, o painel “Insights globais: tendências para o setor ferroviário e cases de sucesso” reuniu especialistas internacionais para discutir os rumos da ferrovia no mundo. Moderado por Hermano do Amaral Pinto Jr., diretor geral do Núcleo Tech&Infra (Technology & Infrastructure) para a América do Sul da Informa Markets, o encontro trouxe reflexões sobre inovação, sustentabilidade e os desafios que ainda cercam a digitalização do setor.
A conversa foi iniciada com uma apresentação do vice-presidente da International Heavy Haul Association (IHHA), Antonio Merheb, que destacou o desafio global de transportar mais e poluir menos. “O setor de transportes é responsável por cerca de 20% das emissões de gases de efeito estufa em todo planeta. A atividade de transporte global, tanto de passageiros como de cargas, deverá aumentar consideravelmente até 2050, com um aumento de 200%”, afirmou. Ele destacou ainda o exemplo da Índia, que está em processo acelerado de eletrificação de sua malha ferroviária e pretende alcançar 100% do sistema eletrificado até o fim de 2025. “O mundo precisa de uma mudança na forma que transportamos, com a redução de emissões de CO2”.
Na mesma linha, o diretor da Windhoff, Falckenberg Johann, defendeu a eletrificação como prioridade no avanço da matriz ferroviária. “Outro ponto é a flexibilização com motores híbridos, uma vez que o processo de eletrificação não será atingido totalmente”, ponderou. Johann também ressaltou o papel da digitalização para aumentar a eficiência e frequência dos trens. “A comunicação entre trens e centros de operação, bem como inspeções automatizadas com uso de inteligência artificial, são tendências que devem reduzir custos e ampliar a capacidade operacional. Estamos apenas no começo”.
O general manager da Lütze Transportation GmbH, Dimitrios Koutrouvis, reforçou que a ferrovia já é, por natureza, um meio de transporte mais sustentável. “O primeiro passo é passar o transporte público da rodovia para a ferrovia. Vai ser dolorido, mas é necessário”, defendeu. Segundo ele, um dos principais desafios está na compatibilização dos sistemas antigos com as novas tecnologias. “É preciso achar uma ponte entre sistemas legados e trens existentes com as soluções digitais e automáticas que estão sendo desenvolvidas por engenheiros”.
Por fim, o gerente do segmento de Heavy Haul da Getzner, Raphael Marotta, destacou a importância de olhar para todo o ciclo de vida dos componentes ferroviários. “A construção dos trilhos e seus materiais precisa ser pensada para durar mais e ter menor impacto ambiental. Quanto mais durabilidade, menos impacto. Não podemos ter futuro com o jeito que trabalhamos hoje”, concluiu.
Serviço
NT Expo – Negócios nos Trilhos – 23ª Edição
Data: 22 a 24 de abril de 2025.
Local: Distrito Anhembi – São Paulo / SP
Horário: das 13 às 21h.
Mais informações: Clique Aqui