Entrevista com Thiago César Zanetoni, assessor de investimentos da WIT Invest
1. Como foi o desempenho geral do mercado de ações durante o mês de janeiro?
R: O mercado de ações no mês de janeiro foi marcado por queda em todos os setores da Bolsa, catalisada em sua maior parte por uma grande saída de capital estrangeiro da B3, principalmente por realização de lucros após um excelente final de ano.
2. Quais setores apresentaram o melhor desempenho na bolsa de valores neste mês?
R: Apesar de termos tido bons desempenhos individuais, não tivemos nenhum setor relevante que tenha fechado o mês no positivo.
3. Quais ações se destacaram positivamente no Ibovespa durante o mês de janeiro? E qual foi a pior? Por quê?
R: Tivemos alguns bons desempenhos no Ibovespa, com destaque para Petrobrás e BR Foods no campo positivo. No lado do petróleo, tivemos um aumento na cotação do barril devido às tensões no Oriente Médio; para a BR Foods, a ata está ligada à queda na cotação do milho, principal custo na linha de produção da empresa. Já entre as grandes detratoras, destaca-se a Gol, com o pedido de Recuperação Judicial nos EUA e consequente exclusão da ação na composição do Ibov.
4. Quais foram os principais fatores econômicos e políticos que influenciaram o comportamento do mercado em janeiro?
R: A agenda política foi, relativamente, esvaziada no mês de janeiro, dado que é um mês de recesso parlamentar, mas tivemos notícias fiscais e monetárias, relevantes do ponto de vista econômico, com inflação (IPCA) surpreendendo para baixo e um elevado déficit nas contas públicas, no Brasil. Como tiveram poucos fatores internos que influenciaram o mercado brasileiro, fomos mais afetados por notícias vindas lá de fora.
5. Houve algum acontecimento específico que afetou o comportamento dos investidores durante o mês?
R: Apesar de ter sido um mês com alguns ruídos geopolíticos, foi um tanto quanto esvaziado de notícias econômicas relevantes o suficiente para influenciar o mercado, com exceção do PIB e inflação americana, que surpreenderam para cima e para baixo, respectivamente.
6. Como estão as perspectivas para o próximo mês com base nas tendências observadas em janeiro?
R: Dado que consideramos o comportamento da bolsa no mês de janeiro, apesar de negativo, normal, pois era previsível algum ajuste após toda a alta experimentada em novembro e dezembro. Uma vez consolidado o ajuste, é provável que a bolsa retome sua tendência principal, que é a de alta.
7. Quais foram as estratégias de investimento mais bem-sucedidas durante este período e por quê?
R: Dentre as estratégias de investimentos em ações, a mais assertiva para o mês de janeiro foi a Long & Short, estratégia que combina a compra e a venda (a descoberto) de ações, pois foi um mês com comportamentos bastante discrepantes entre os papéis possibilitando aos bons gestores ganhos com as altas e com as baixas.
8. Quais são as projeções e expectativas para o mercado de ações até o fim do primeiro semestre? Quais são as principais oportunidades e desafios previstos?
R: Mesmo o Ibovespa tendo um excelente final de ano (em 2023) muitas ações ficaram pra trás desse rally, isso inclui as grandes Bradesco, Gerdau ou JBS, ainda longe de suas máximas históricas. Pelo lado da oportunidade, temos a expectativa que ao longo do primeiro semestre de 2024 teremos a continuidade do ciclo de afrouxamento monetário no Brasil (cortes da SELIC) e início dos cortes nos Estados Unidos, fazendo com que o investidor brasileiro e estrangeiro tenham maior apetite a risco. Pelo lado do risco, temos uma possível desaceleração econômica mais abrupta nos EUA aumentando a aversão a risco do investidor estrangeiro.
9. Dada a alta do Ibovespa Futuro dia 24/01 relacionada ao anúncio do maior corte de compulsório pelo banco central da China, qual seria a análise sobre os possíveis impactos desse evento na economia brasileira e como isso poderia influenciar as estratégias de investimento?
R: O governo chinês tem adotado uma política fiscal expansionista desde quando o mercado imobiliário sinalizou enfraquecimento, no entanto, o mercado não tem se animado muito com a efetividade das medidas. A China tem apresentado quedas demográficas constantes afetando o consumo de alimentos e aumento de moradias, num país com infraestrutura muito mais madura que no início dos anos 2000 e temos pouco crescimento vindo via construção civil, o que indica dias (ainda) não tão bons para Vale e demais mineradoras.
10. Como as decisões da última Super Quarta impactarão o desempenho do Ibovespa em fevereiro?
R: O mercado era praticamente unânime na manutenção dos juros americanos e no corte de 50bps (0,5%) na SELIC, o que deverá afetar o desempenho do Ibovespa em fevereiro é a sinalização início do ciclo de cortes de juros americanos. Caso se inicie em março, deverá influenciar positivamente os ativos de risco.