A pandemia de Covid-19 trouxe impactos significativos para a economia brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, após o início da crise sanitária em 2020, 70% das indústrias nacionais tiveram quedas em seus negócios. O setor industrial, todavia, vem se reconstruindo e impulsionando a retomada do crescimento econômico do Brasil.
Exemplo disso são os últimos Indicadores Industriais divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em junho, que revelaram números positivos em faturamento, empregos e massa salarial. Esse último indicador, por exemplo, cresceu 2,4% entre junho e maio na indústria de transformação, que chegou ao seu ponto mais elevado desde o início da pandemia, em março de 2020.
O faturamento real também teve melhora e, em junho, alcançou o maior patamar neste ano. Em relação a maio, o crescimento foi de 0,9%, mas já no quinto mês do ano houve aumento do indicador: 1,8% em relação ao resultado de abril.
Os empregos da indústria aumentaram 0,4% em relação a maio. “A indústria é fundamental na geração de renda, e nós também podemos observar o crescimento da massa salarial, que é de fundamental importância porque a indústria consegue remunerar melhor o trabalhador. Com isso, há aumento da renda do trabalho e isso é muito importante”, avalia o economista César Bergo.
O levantamento feito pela CNI revela ainda alta em junho no rendimento médio real dos trabalhadores da indústria – 1,9% em relação a maio. Com esse crescimento, o índice atingiu o nível mais alto do ano, chegando próximo ao patamar do primeiro semestre de 2021. Na comparação com junho do ano passado, o rendimento médio cresceu 0,5%.
O economista e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renan Pieri, avalia que a economia brasileira vem melhorando nos últimos meses, o que pode gerar incentivos ao desenvolvimento industrial brasileiro. “Pode, sim, gerar incentivos para a indústria nacional, gerar mais produtos, principalmente voltados ao mercado doméstico. Sendo bom momento da economia, certamente é melhor para a indústria nacional, embora esteja sofrendo muito com gargalos de infraestrutura e custos dos insumos”, destaca.
As horas trabalhadas na produção mantiveram-se estáveis após o avanço de maio. Comparando o índice com o de 12 meses atrás, houve crescimento de 3,8%. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI), índice que mede o nível de atividade da indústria a partir da porcentagem do parque industrial em funcionamento, registrou queda de 0,3% em relação a maio, embora o nível ainda seja elevado, de 80,4%. Já na comparação entre junho de 2022 e o mesmo mês de 2021, o indicador caiu 1,5%.
Indústria melhora, mas merece atenção
Embora os números configurem um cenário positivo, o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, chama atenção para alguns obstáculos que impedem a expansão da produção. “Os Indicadores mostram um bom momento da indústria, apesar das dificuldades trazidas pela falta de insumos e matérias-primas e o alto custo da sua aquisição.”
Para César Bergo, no entanto, ainda que haja possíveis obstáculos para a retomada completa do setor industrial, há otimismo para os próximos meses. “Acredito que se somar todas essas questões, melhoria no fornecimento de insumos, de componentes eletrônicos, creio que a indústria pode apresentar um excelente desempenho, sobretudo no quarto trimestre”, conclui.