Algumas pessoas incluem em sua rotina o hábito de fazer jejum intermitente, que consiste em permanecer um período indeterminado sem alimentação.
A prática de jejum é secular e recomendada em quase todas as religiões e costumes. No Brasil, a prática do jejum intermitente ganhou força a partir de 2010, com o objetivo maior de promover desintoxicação. Hoje, porém, muitas pessoas adotam essa prática sem nenhuma orientação ou necessidade, apenas por modismo.
Mas será que o jejum, no geral, tem impacto na saúde bucal? Especialistas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) esclarecem as dúvidas sobre o tema. Artur Cerri, membro da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP, explica que o jejum intermitente pode durar horas ou dias – causando, como efeito, falta de lubrificação bucal e boca seca, além de ocasionar pouca produção de saliva. Com a boca seca, haverá um acúmulo de bactérias que geram mau hálito. O profissional afirma, ainda, que o hábito realizado de modo temporário não traz maiores comprometimentos à saúde bucal.
Jejum e estética
“ A princípio, não vejo relação entre jejum e estética dentária, mesmo porque esses tipos de jejuns são curtos, em média 24 horas ou menos. É importante ressaltar que a prática do jejum não exime a higienização bucal, principalmente pela manhã e ao deitar, momentos em que existe a maior concentração de bactérias na boca. Alguns colegas se baseiam no fato de que, no jejum, a renovação celular é maior na cavidade bucal”, aponta o Dr. Cerri.
Em relação aos benefícios que o jejum eventualmente traria à saúde bucal, o especialista diz não ver efeitos exuberantes para a cavidade bucal com a prática. A diminuição da ingestão de açúcar, ácidos e repouso para glândulas salivares poderia, por sua vez, apresentar alguma vantagem.
Saúde bucal e geral
Para o Dr. Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), um paciente que faça jejum intermitente por longos períodos, sem um acompanhamento profissional (médico e cirurgião-dentista), com ausência de um programa bem definido de higiene bucal e ainda abuse de chás, cafés e bebidas de modo geral, pode desenvolver manchas, cáries e inflamação gengival.
“Dietas radicais mantidas por longos períodos tendem a levar o paciente a uma condição de subnutrição, o que pode influenciar no sistema imunológico e prejudicar os mecanismos de controle de crescimento bacteriano”, explica o Dr. Marcelo.
O presidente da Câmara Técnica de Periodontia alerta que a restrição de ingestão de água é totalmente contraindicada, mesmo no caso de jejum intermitente, visto que o paciente terá uma grande diminuição do fluxo salivar, aumentando o risco de cárie – bem como o de ocorrência de quadros de desidratação. A saliva fica mais densa, perde o controle de pH e aumenta o crescimento bacteriano, além da halitose provocada pelos corpos cetônicos eliminados pela respiração em uma situação de jejum.
“Qualquer tipo de jejum deve ser feito sob orientação e acompanhamento de profissionais capacitados, como nutricionistas e médicos. Fazer jejum por modismo, quer ele seja curto ou prolongado, pode trazer prejuízos à saúde, daí a necessidade de orientação”, justifica o Dr. Artur Cerri, da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP.