Em busca de custos menores, grandes companhias brasileiras e seus fornecedores amortecem a resiliente Selic elevada com o mercado de leilão de antecipação; líder do setor na América Latina, fintech Monkey dispara 45% neste ano e já supera a marca R$ 100 bilhões em antecipações
O alto custo de capital imposto às empresas brasileiras pela taxa básica de juros (Selic) de dois dígitos, hoje em 12,75% ao ano, tem aquecido um mercado de crédito alternativo: o de leilão de antecipação de recebíveis. Pelos cálculos da fintech Monkey, líder do setor na América Latina, a demanda por antecipações em sua plataforma cresceu 60% entre janeiro e outubro desde ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso porque as taxas praticadas em seu marketplace são de até 70% menores do que a média cobrada diretamente pelos grandes bancos – o que alivia o caixa das empresas em tempos de economia árida e alto nível de endividamento. Segundo a Serasa Experian, 6,59 milhões de empresas estiveram inadimplentes em setembro, com R$ 122,2 bilhões em dívidas.
Por esta razão, os custos menores gerados pelo leilão de recebíveis beneficiam principalmente pequenas e médias empresas, que podem antecipar contratos de prestação de serviços, de fornecimento de produtos ou mesmo vendas de pequenos valores em operações com cartões de crédito. Gigantes como Petrobras, Suzano, Eldorado, Braskem, Gerdau, Scania e St. Marche, entre outras clientes da Monkey, que juntas representam 15% do PIB, têm ampliado o uso da modalidade com seus fornecedores para garantir o fluxo de caixa e a saúde financeira de suas cadeias de suprimentos.
Prova da força do mercado eletrônico de antecipação de recebíveis é o desempenho da Monkey nos últimos meses. A empresa, criada em 2016, acaba de ultrapassar a marca de R$ 100 bilhões em antecipações desde sua criação – sendo que R$ 40 bilhões foram transacionados somente neste ano. Segundo Gustavo Medeiros, cofundador e CEO da empresa, a popularização desse mercado se explica, principalmente, pelas vantagens em termos de custo, segurança e transparência nas operações. “Assim como acontece em marketplace convencional, fornecedores estimulam a concorrência entre os bancos em uma única plataforma”, afirmou. “Nos moldes de um leilão, a instituição financeira que oferecer as melhores condições e taxas para a empresa conquista a operação. Bom para o banco, ótimo para o fornecedor”, disse.
Internacionalização
Mesmo em um cenário de trajetória de queda da Selic até o ano que vem, a perspectiva para o mercado de antecipação de recebíveis é de forte crescimento – dentro e fora do país. A Monkey tem acelerado seu processo de internacionalização, com operações no Chile, México e nos Estados Unidos, em parceria com o Banco Inter. “A marca de R$ 100 bilhões é um dos nossos cartões de visita mundo afora e mostra o quanto nossa tecnologia está ajudando as empresas a manterem suas finanças em dia”, disse Felipe Adorno, cofundador e CTO da Monkey. “E isso é apenas o começo. Estamos sempre trabalhando para tornar a vida financeira dos nossos clientes ainda mais simples, não apenas no mercado brasileiro, mas de forma global.”
A estratégia da Monkey é surfar na onda do mercado de recebíveis do Brasil para atender multinacionais brasileiras com negócios no exterior. A operação da Gerdau, por exemplo, já é maior nos Estados Unidos do que no Brasil. “Enxergamos uma imensa oportunidade de atuarmos nesses mercados a partir de nossos clientes já conectados, mas temos a pretensão de expandir a oferta para empresas locais também”, afirmou Medeiros. “Nos próximos três anos, esses novos países devem representar algo entre 20% e 30% da receita da Monkey.”
Soluções
Entre as principais soluções responsáveis pela movimentação bilionária, está a plataforma de antecipação de recebíveis de notas fiscais (SupplyPlus), que oferece às empresas a possibilidade de ter o próprio programa de antecipações, utilizando a tecnologia da Monkey e a identidade visual do cliente. Com a plataforma, a cadeia de fornecedores dessas empresas pode antecipar suas notas fiscais recebendo a oferta de diversos agentes financeiros, e por meio do sistema de leilão automático da plataforma, vence aquela com a menor taxa. Mais de 20 mil fornecedores são beneficiados com a solução. “Mais do que o número de R$ 100 bilhões em si, que com certeza é significativo, o que nos dá mais satisfação é perceber que por trás desse número temos centenas de milhares de empresas se beneficiando da nossa solução”, disse Bruno Oliveira, cofundador e COO.
Crescimento
A trajetória da Monkey começou com a Saint-Gobain do Brasil, seu primeiro cliente, que apostou na inovação e na relação com a Startup. Esse relacionamento, que a Monkey considera fundamental para o seu sucesso, estabeleceu as bases para a jornada. A fintech já se instalou em Charlotte, NC, de onde pretende acelerar sua expansão nos EUA e México, em conexão com seu escritório brasileiro, que continua sendo o cérebro de todo negócio.
Os EUA são um mercado gigante, com a maior escala do mundo, mas o México é um local altamente prioritário para a expansão da Monkey, principalmente após o crescimento da região impulsionado pelo nearshoring (processo de retorno de empresas americanas que estavam produzindo fora). De acordo com estudo da Deloitte, o mercado de nearshoring deve crescer a uma taxa anual composta (CAGR) de 10,3% entre 2021 e 2025. Além disso, estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugerem que a estratégia poderia aumentar as exportações globais da América Latina e do Caribe em US$ 78 bilhões por ano, sendo US$ 3,5 bilhões atribuídos somente ao México.
Vale ressaltar, que a Monkey pretende acelerar esse crescimento ainda mais, tanto com o SupplyPlus, quanto com os outros produtos e serviços já lançados como o Ca.Co, ferramenta de gestão de fluxo de caixa, que tem como objetivo facilitar a gestão financeira das empresas que já são usuárias das plataformas da Monkey, em maioria pequenas e médias empresas.