Com queda das temperaturas e secura do ar, número de doenças respiratórias dispara; entenda os riscos, cuidados essenciais e o que realmente funciona para proteger a respiração
A chegada do outono e do inverno traz mudanças climáticas que impactam diretamente a saúde respiratória. O ar seco, típico desses meses, somado ao uso de aquecedores, à permanência em ambientes fechados e à baixa umidade relativa do ar, compromete a primeira barreira de defesa do corpo: o nariz. O resultado? Mais casos de rinite, sinusite, crises de asma, bronquite e infecções que, muitas vezes, levam à internação.
Dados do Boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostraram um aumento de infecções respiratórias. De meados de maio a meados de junho, a incidência da influenza subiu para mais de 40%, fora as outras doenças respiratórias. Os mais afetados são crianças e idosos, que respondem por mais de 70% das internações por complicações como pneumonia, bronquiolite e crises asmáticas.
“O nariz funciona como um grande filtro. Ele aquece, umedece e filtra o ar antes que chegue aos pulmões. Mas, quando a mucosa nasal está ressecada, esse filtro perde eficiência, e o organismo fica mais exposto a vírus, bactérias e alérgenos”, explica Pauline Michelin, médica otorrinolaringologista dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, de Curitiba (PR).
Cuidar da respiração nesse período é essencial. “Muita gente acredita que o frio, por si só, causa gripe ou resfriado, mas o maior problema está na baixa umidade e nos ambientes fechados, que facilitam a propagação de vírus e irritam as vias aéreas. Isso afeta principalmente crianças, idosos e adultos que têm o sistema imunológico mais sensível”, afirma a especialista. “O uso de produtos como água oxigenada e óleos essenciais para tentar respirar melhor é perigoso, pois causa inflamação na mucosa, prejudicando as defesas naturais do nariz”, ressalta.
A seguir, a médica esclarece o que é mito e verdade quando o assunto é a saúde respiratória:
Lavagem nasal com soro fisiológico previne infecções
VERDADE: “A lavagem ajuda a hidratar as mucosas, eliminar secreções e fortalecer a defesa natural do nariz. O ideal é fazê-la ao menos duas vezes ao dia, especialmente em dias frios ou secos.”
Dormir com a casa toda fechada evita doenças
MITO: “Ambientes sem ventilação acumulam poeira, ácaros e vírus. Abrir as janelas por alguns minutos diariamente é fundamental.”
Beber bastante água ao longo do dia protege a respiração
VERDADE: “A hidratação mantém as mucosas da nossa via aérea úmidas e funcionais. Quando estão ressecadas, perdem a capacidade de reter e eliminar microorganismos inalados.”
Umidificador ligado a noite toda é bom para evitar doenças em crianças
MITO: “O aparelho pode ajudar, mas o excesso de umidade favorece mofo e fungos. O ideal é usá-lo por até duas horas seguidas, mantendo a umidade entre 50% e 60%.”
Inalações com substâncias caseiras são seguras
MITO: “Produtos caseiros e óleos podem queimar a mucosa e causar lesões, além de favorecer infecções mais graves. A inalação deve ser sempre indicada por um médico.”
Óleos essenciais e água oxigenada podem ser utilizadas para ajudar a destrancar o nariz
MITO: “Muitas vezes, a população recorre a receitas caseiras que, embora possam proporcionar um alívio momentâneo, acabam piorando a qualidade da respiração, trazendo ainda mais riscos à saúde, como inflamação da mucosa nasal, alteração do pH e prejuízos às defesas naturais do nariz”.
Descongestionante nasal pode ser usado sem risco
MITO: “Esses produtos aliviam momentaneamente, mas o uso contínuo pode causar efeito rebote e até problemas cardíacos. Só devem ser usados com orientação médica e por tempo limitado.”
Filtros de ar-condicionado devem ser limpos regularmente
VERDADE: “A falta de limpeza favorece o acúmulo de fungos e poeira, que são liberados no ambiente. Além disso, o uso prolongado do aparelho de ar condicionado vai ressecar a mucosa do nosso nariz pelo seu funcionamento, mesmo estando higienizado.”
Sinais de alerta
Alguns sintomas indicam que o quadro respiratório pode estar se agravando. Procure um médico se houver:
- febre alta ou persistente;
- chiado no peito ou falta de ar;
- dor intensa no rosto, testa ou atrás dos olhos;
- tosse seca que persiste por mais de uma semana;
- secreção nasal espessa, amarela ou esverdeada por vários dias;
- coloração azulada nos lábios ou unhas (cianose);
- confusão mental, sonolência ou recusa para comer (em idosos e crianças).
Prevenir ainda é o melhor remédio
Ainda de acordo com a otorrinolaringologista, hidratar-se, manter uma alimentação balanceada, lavar o nariz com soro fisiológico, evitar locais fechados por longos períodos e manter as vacinas em dia — especialmente contra gripe e pneumonia — são atitudes simples que ajudam a atravessar o inverno com mais saúde e menos riscos.