Três executivas de segmentos distintos narram a sua jornada como empreendedoras no país
O empreendedorismo feminino no Brasil tem se mostrado uma força transformadora, promovendo a igualdade de funções e cargos no universo corporativo. Este movimento não apenas impulsiona a economia, mas também desafia as barreiras de gênero, criando um ambiente mais inclusivo e diversificado. Empresas lideradas por mulheres tendem a valorizar a diversidade e a responsabilidade social, promovendo uma cultura de inovação e sustentabilidade. Além disso, o empreendedorismo feminino oferece às mulheres a oportunidade de ocupar posições de liderança, muitas vezes inacessíveis em estruturas corporativas tradicionais.
O relatório técnico do Sebrae sobre o Empreendedorismo Feminino, divulgado em 2024, aponta que dos 30 milhões de empreendedores no Brasil, as mulheres representam aproximadamente 10 milhões, à frente do próprio negócio. Ainda de acordo com o relatório, no estado de São Paulo são mais de dois milhões de mulheres empreendendo nas 645 cidades do estado. “Mulheres empreendedoras não só impulsionam a economia, mas também criam redes de apoio e oportunidades que fortalecem a sociedade como um todo”, detalha o documento que ainda revela que o Brasil é o sétimo país com o maior número de empreendedoras do mundo, e elas atuam, principalmente, no setor de serviços.
Nesse contexto, Daniele de Maire, CEO da Neurogram, Fabiana Guerra, fundadora da Astra Global Advisors e Maira Gregolin, da sócia e Head de Produtos da TrackingTrade, se entrelaçam no desafio de gerenciar os próprios negócios que se encaixam no sonho de deixar um legado como mulher e empreendedora.
Cérebro e inteligência artificial
Motivada pela falta de soluções tecnológicas avançadas em diagnósticos neurológicos, a executiva Daniele de Mari fundou a Neurogram em 2021. Este ecossistema tecnológico utiliza inteligência artificial para ajudar médicos a consolidar um maior número de dados de exames de EEG (eletroencefalograma) em menos tempo e com maior precisão. Seu objetivo é expandir a pesquisa sobre o cérebro humano, tornando os diagnósticos mais eficientes, acessíveis e precisos.
A necessidade de inovação tornou-se ainda mais evidente durante a pandemia, quando Daniele e a neurologista Dra. Elaine Keiko Fujisao, PhD identificaram lacunas significativas nos métodos de diagnóstico convencionais. Esse foi o ponto de partida inspirador para a criação da Neurogram. “Um dia, enquanto realizava procedimentos de rotina, presenciei um paciente entrando em crise epiléptica, que quando não tratadas dentro de 30 minutos, apresentam uma taxa de mortalidade de 20% dos pacientes”, relembra Daniele que naquele momento decidiu empreender e criar uma plataforma que trouxesse maior resolutividade para os médicos que tratam de doenças neurológicas.
Graduada em Neurociência pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta (EUA), Daniele focou no desenvolvimento de algoritmos para analisar o processamento de informações posturais pelo cérebro, aprimorando o controle de próteses por sinais cerebrais. Com um olho na ciência e outro no mercado, ela desenvolveu uma plataforma online que se adapta a todos os aparelhos de EEG, inédito neste mercado.
Ao integrar inteligência artificial à plataforma, a Neurogram se posiciona como líder em IA para diagnósticos neurológicos de precisão. “Para alguns, empreender traz sucesso; para outros, dinheiro. No meu caso, faço o que faço por paixão. Para mim, é como um jogo de xadrez ou um desafio que preciso vencer. Adoro imaginar um produto, vê-lo nascer e ser adotado pelo mercado”, detalha Daniele.
Desde que começou suas operações, a Neurogram tem atraído a atenção de investidores renomados como Starship Ventures, Caffeinated Capital, Z. Fellows Fund, Dorm Room Fund, Fusen Fund e Hustle Fund, que aportaram cerca de R$ 8 milhões na companhia. A healthtech é residente do Google For Startups e do programa de Startups da NVIDIA. Além de uma crescente lista de clientes, a Neurogram fechou parcerias com importantes agentes de saúde global, como a Mayo Clinic (EUA) e Sinapse/Rede D’Or (Brasil).
Empreendedora internacional
Advogada e contadora especialista em mobilidade global e imigração de carreiras, Fabiana Guerra acumula experiência em grandes corporações como PwC, P&G, C&A Modas, LATAM e Grupo Coca-Cola e em advocacia migratória nos Estados Unidos. Após dois anos atuando na “terra do Tio Sam”, a especialista retornou ao Brasil e percebeu que poderia empreender ajudando profissionais de alto escalão que desejam internacionalizar suas carreiras e empresas que buscam expandir seus negócios para além das fronteiras brasileiras.
“Percebi que havia uma lacuna no mercado para profissionais e empresas que precisam de orientação especializada para se estabelecerem no exterior, especialmente nos Estados Unidos”, diz Guerra.
Ela então decidiu, em 2023, fundar a Astra Global Advisors, escritório especializado em internacionalização de carreiras, imigração de negócios, tributação global e investimentos internacionais, atendendo à necessidade de profissionais e empresas obterem orientações corretas a fim de facilitar a ida para esses mercados.
“Eu tive muita sorte de ter ao meu lado, desde os primeiros anos no mercado de trabalho, suporte de mulheres maravilhosas, que serviram como guias, mentoras, espelhos de profissionalismo e dedicação”, diz a sócia-fundadora da Astra Global Advisors. Desde sempre, Fabiana afirma que sempre faz tudo que pode para expressar a gratidão que sente por ter sido acolhida ao longo de sua carreira e busca continuar essa corrente do bem, oferecendo apoio a outras mulheres por meio de seu trabalho, ou até mesmo informalmente, dando apoio às suas colegas de profissão. “Essas conversas são muito importantes para mim, pois é um suporte que realmente só nós, mulheres, podemos oferecer isso de uma para a outra, porque vivenciamos as mesmas situações”, reforça.
Sócia no setor de tecnologia
Com uma trajetória de mais de 15 anos no mercado de tecnologia e inovação, Maíra Gregolin começou sua jornada na TrackingTrade como Head de Produtos. Com dedicação e visão estratégica, conquistou espaço passando a ser convidada pelo CEO, Pablo Zapata, para se tornar sócia da empresa.
“Minha vida profissional sempre foi no cenário da tecnologia e do meio corporativo, um desafio por si só. Mas foi na TrackingTrade que virei a chave e passei a me ver como empreendedora. Olhando para trás, percebo que algumas escolhas foram fundamentais para me trazer até aqui. Foram momentos de decisões importantes, que acabaram dando sentido à minha caminhada e moldando quem sou hoje. Sempre fui movida a tirar projetos do papel, ajudar a carregar o piano e dar vida a ideias que ainda buscavam sucesso”, reflete Maíra.
Com a oportunidade de se tornar sócia, na TrackingTrade, ela passou a querer entender melhor sobre o universo do empreendedorismo, participando de iniciativas como o programa Brasil para Elas, do Governo Federal, que oferece suporte e cursos voltados para mulheres empreendedoras. “Esses programas são sempre bem vindos. Além de promover um bom networking, ajudam a desenvolver um espírito crítico necessário para a difícil jornada do empreendedorismo, colaborando para aquele olhar único de estratégia, persistência e resiliência”, conclui a executiva.
