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Líderes do transporte analisam os impactos e desafios da eletrificação da frota até 2040

Foto: Freepik
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Decisão surpreende transportadores e gera debates sobre infraestrutura, viabilidade econômica e papel do setor logístico na descarbonização

A adesão do Brasil ao acordo internacional que estabelece a comercialização exclusiva de veículos médios e pesados livres de emissões a partir de 2040 repercutiu fortemente no setor de transporte rodoviário de cargas. O compromisso foi firmado durante a COP 30, por meio do Ministério dos Transportes, colocando o país entre os 43 signatários do Global Memorandum of Understanding on Zero-Emission Medium and Heavy-Duty Vehicles (MOU for ZE-MHDV), tratado que determina, já para 2030, a meta de ao menos 30% de novas vendas desses veículos serem isentas de emissões de escapamento.

Embora a medida alinhe o Brasil a uma tendência global de transição energética no transporte, especialistas do setor consideram que ela exige cautela e planejamento. Isso porque a frota nacional, composta majoritariamente por caminhões movidos a diesel e com idade média de 22,3 anos para veículos de caminhoneiros autônomos e 10,88 na frota das empresas, depende de uma malha rodoviária extensa, nem sempre equipada com infraestrutura de recarga ou assistência técnica compatível com veículos eletrificados.

Para José Alberto Panzan, diretor da Anacirema Transportes, o pacto é ambicioso e reforça o posicionamento do Brasil na agenda climática, mas levanta preocupações práticas. “A aliança firmada pelo Brasil traz impactos profundos e multidimensionais para o setor de transporte. Por um lado, reforça o compromisso com a descarbonização. Por outro, impõe uma série de adaptações que ainda não estão equacionadas. Estamos falando de custos elevados, gargalos logísticos e uma infraestrutura que ainda precisa ser construída”.

Segundo Panzan, que também atua como presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Campinas e Região (SINDICAMP), a realidade das transportadoras médias e pequenas é especialmente desafiadora, já que a renovação de frota para modelos mais novos, que se enquadrem no modelo PROCONVE P8 envolve investimentos altos e condições de financiamento que, hoje, ainda são pouco acessíveis.

O CEO da Zorzin Logística e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do ABC Paulista (SETRANS), Marcel Zorzin, também aponta que a decisão do governo foi inesperada e ainda carece de diálogo com quem opera na base da cadeia. “É difícil medir tudo agora, mas dá para dizer que o impacto vai ser grande. Estamos falando de uma mudança que mexe com toda a cadeia: fabricantes, transportadoras, infraestrutura e até o jeito de operar as frotas. É natural que existam dúvidas e preocupações, mas, ao mesmo tempo, isso também abre uma conversa importante sobre o futuro do transporte no país”.

O anúncio do acordo ocorre em paralelo à defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o fortalecimento de combustíveis sustentáveis, como etanol e biodiesel, o que gerou críticas de representantes do agronegócio e da indústria de biocombustíveis, que esperavam uma ênfase maior nessas alternativas no plano nacional de transição energética. Para o setor logístico, a coexistência de múltiplas tecnologias pode ser a chave para uma adaptação mais viável.

“Vejo um futuro em que o transporte será, inevitavelmente, mais limpo, digital e eficiente, mas essa transformação precisa ser gradual, com rotas tecnológicas híbridas que considerem a realidade do país e de quem está na operação. Biocombustíveis, eletrificação, hidrogênio, tudo isso precisa estar no radar, mas com políticas públicas claras, incentivos econômicos e cronogramas factíveis”, complementa Panzan.

A falta de previsibilidade e de infraestrutura são pontos comuns nas análises dos executivos do setor. Para que a meta de 2040 seja atingida com responsabilidade e sem comprometer a competitividade das empresas, será necessário um esforço conjunto entre governo, fabricantes e transportadores.

“Falar de descarbonização é necessário. O setor precisa entrar nessa pauta. O que me preocupa é o tempo: 2030 e 2040 são metas muito próximas para uma mudança tão grande. O Brasil tem potencial, mas precisa de estrutura, incentivo e diálogo com quem está na ponta. Afinal, o acordo é um sinal importante de que a união entre o setor e o governo fará a diferença se respeitarem a realidade do país”,  reforça Marcel Zorzin. 

A discussão sobre a eletrificação da frota chega em momento delicado para a infraestrutura rodoviária do país. Uma pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta que 67,5% das rodovias brasileiras estão classificadas como regulares, ruins ou péssimas e de acordo com a auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), os recursos destinados à manutenção da malha federal sequer alcançam a metade do necessário, com um recente corte de  R$ 7,95 bilhões. Essa fragilidade na conservação das vias revela a urgência de um plano robusto de infraestrutura, recarga e assistência técnica, condição indispensável para que a transição para veículos pesados eletrificados seja viável e segura.

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