Confira artigo de Eduardo Gomes, presidente do conselho da Board Academy, EdTech de formação e desenvolvimento de conselheiros consultivos, independentes, fiscais e de administração de empresas
Longevidade nos negócios refere-se ao tempo que uma empresa consegue se manter ativa no mercado de forma reconhecível. No Brasil, essa duração varia bastante, influenciada por fatores como setor, porte, gestão e outras variáveis. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 20% das organizações brasileiras encerram suas atividades antes de completar dois anos.
O objetivo de qualquer empreendedor é garantir que seu negócio prospere e permaneça lucrativo por muitos anos. Mas, para alcançar essa meta, é essencial evitar a acomodação, adotar uma visão de longo prazo e desenvolver estratégias que assegurem o êxito contínuo.
A longevidade empresarial é fundamentada na ação contínua ao longo do tempo, sem se limitar a períodos específicos, e requer uma visão de capacitação que vá além dos horizontes tradicionais. Ela exige coragem e resulta em um modelo operacional inovador, focado na marca e na organização, em detrimento do “culto à personalidade”. Esse modelo destaca a importância de alinhar lucro (Profit), pessoas (People) e planeta (Planet) – os “3P” – como elementos centrais de uma estratégia sustentável e duradoura.
Administração eficiente em negócios familiares
Para garantir o sucesso na jornada, um sistema de gestão eficiente deve ser aplicado, apoiando o empreendimento em questões como a necessidade de gerir com clareza a sucessão externa à família (no caso de companhias familiares), estabelecer novas parcerias e competir com outras companhias que operam em modelos parecidos. Além disso, é essencial lidar com riscos e ameaças, como questões geopolíticas e protecionismo, e contar com um Conselho dinâmico e adaptável às mudanças. Também é necessário cultivar uma mentalidade de planejamento preventivo, que fortaleça a estrutura e a resiliência da organização.
Lidar com a longevidade em empresas familiares exige a proximidade constante da família com o negócio e seus funcionários. É fundamental que o gestor tenha a coragem de explorar novos caminhos e desenvolver uma cultura interna que favoreça a evolução e o crescimento ao longo do tempo, permitindo que a companhia se adapte e prospere diante dos desafios e mudanças do mercado.
Cases de sucesso
Com vasta maioria de empresas familiares de porte médio em sua matriz corporativa, a Alemanha se destaca no quesito longevidade empresarial. O exemplo da empresa Rügenwalder, fundada em 1834, destaca como a mudança de foco — indo de embutidos à base de carne para opções veganas — foi essencial para sua vida longa. A decisão de que as salsichas veganas seriam o futuro deixou de ser apenas uma estratégia e tornou-se um mindset que norteou o novo modelo operacional da companhia. A administração baseada em hipóteses foi a chave para essa transição, resultando em uma revisão completa dos processos, habilidades e sistemas internos. Como parte dessa transformação, a família foi substituída na equipe de gestão por profissionais externos, já que a nova direção exigia competências que os membros familiares não possuíam.
A Lammsbräu, uma cervejaria com quase 400 anos de história e atualmente administrada pela 11ª geração na pessoa do seu sócio-gerente, destaca seu compromisso total com a sustentabilidade. Com 140 funcionários, a empresa decidiu, há 40 anos, adotar uma abordagem sustentável que abrangesse todo o processo, “do campo até a garrafa”. Para reforçar essa estratégia, a empresa implementou um placar de sustentabilidade que avalia seus fornecedores, oferecendo remunerações significativamente melhores para aqueles que são aprovados. A comunicação transparente dessa filosofia para os consumidores e varejistas garantiu uma aceitação positiva, mesmo diante de aumentos de preço, tornando a Lammsbräu a cerveja preferida dos consumidores.
Para garantir a resiliência e o sucesso de uma empresa, os líderes devem ser curiosos, adotando uma postura de aprendizado contínuo e buscando novas ideias. A adaptabilidade, a aceitação de desafios e a disposição para mudanças são igualmente essenciais, assim como a capacidade de promover disrupções sem comprometer a essência da empresa. Estar preparado para eventos inesperados e manter uma governança clara, revisando-a a cada três ou cinco anos, é primordial. Ademais, a inovação deve estar no centro das estratégias, promovendo um ambiente que favoreça o desenvolvimento coletivo e beneficie todos os stakeholders. Embora os modelos de gestão de inovação ainda sejam raros, são essenciais para manter as empresas alinhadas com os negócios do futuro.