Reconhecer o luto no ambiente de trabalho fortalece a cultura organizacional e o equilíbrio emocional das equipes
No ambiente corporativo, as perdas acontecem com mais frequência do que se imagina. Às vezes são discretas: a saída de um colega, o fim de um projeto ou uma reestruturação que muda o cotidiano de quem permanece. Outras vezes, ganham forma coletiva, quando a empresa passa por mudanças estratégicas que desorganizam o emocional das equipes. Embora não apareçam em relatórios de desempenho, essas rupturas silenciosas geram impacto direto sobre engajamento, produtividade e clima organizacional.
A neuropsicóloga Carla Salcedo, especialista em saúde emocional e comportamento organizacional, define esse fenômeno como luto corporativo. “Ele ocorre toda vez que algo que dava estabilidade é interrompido. Mesmo que não exista perda física, o cérebro e o corpo reagem a essa ruptura como se houvesse um vazio a ser reorganizado”, explica.
Do ponto de vista neurocientífico, o luto é um processo de adaptação. O cérebro precisa reconfigurar vínculos, hábitos e referências, o que consome energia emocional e cognitiva. “Toda mudança exige um esforço para reconstruir sentido. Quando o luto corporativo não é reconhecido, esse esforço se transforma em exaustão, apatia ou resistência a novas ideias”, afirma Carla.
Segundo a especialista, lidar com o luto dentro das empresas exige atenção a três dimensões: reconhecimento, elaboração e reconstrução. Esse percurso ajuda a transformar a perda em aprendizado e a preservar a coesão do grupo.
Mas, como conduzir o processo de forma saudável?
- Nomear a perda: Toda mudança precisa ser comunicada de forma clara. Falar sobre o que se encerra ajuda a validar emoções e evitar interpretações equivocadas.
- Criar um momento simbólico: Reunir o time para marcar o encerramento de um projeto ou agradecer a contribuição de quem sai é uma forma de reconhecimento emocional. Rituais de encerramento preservam a memória e fortalecem a cultura.
- Reconhecer o impacto coletivo: Mudanças mexem com expectativas e pertencimento. Abrir espaço para que os colaboradores expressem percepções reduz tensões e aproxima lideranças do cotidiano real das equipes.
- Redefinir papéis e objetivos: Depois de uma perda, o grupo precisa de novas referê Deixar claro o que muda, quem assume responsabilidades e quais são as metas renova o senso de direção.
- Promover espaços de escuta: O acolhimento emocional pode vir de rodas de conversa, mentorias ou orientação psicológica breve. A escuta ativa devolve segurança e pertencimento.
- Valorizar o aprendizado:
Encerrar um ciclo não significa apagar sua história. Revisitar o que foi construído e reconhecer conquistas cria uma ponte simbólica entre o passado e o futuro. - Celebrar o novo ciclo: Após a reorganização, reconhecer o esforço coletivo fortalece vínculos e cria energia para novos desafios.
Para Carla Salcedo, empresas que acolhem o luto como parte natural da vida corporativa constroem uma cultura emocionalmente mais madura. “Toda organização que aprende a elaborar suas perdas ganha consistência. O reconhecimento das transições é o que permite seguir adiante sem romper com a própria identidade”, completa.
Quando a gestão entende que produtividade e emoção caminham juntas, o ambiente de trabalho se torna mais humano, adaptável e sustentável. Em vez de perder energia com o que se rompe, a empresa passa a gerar força com o que se transforma.
