Mais de R$ 400 mil no golpe do seguro falso: Quadrilhas usam marcas de transportadoras e corretoras verdadeiras para enganar vítimas em série

Mais de R$ 400 mil no golpe do seguro falso: Quadrilhas usam marcas de transportadoras e corretoras verdadeiras para enganar vítimas em série / Foto: Freepik
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Uma teia sofisticada de fraudes digitais vem causando prejuízos financeiros e emocionais a centenas de brasileiros, com estimativas de que o montante desviado já ultrapasse os R$ 400 mil. Criminosos exploram a credibilidade de grandes transportadoras, como Jadlog e Jamef, e corretoras de seguros renomadas, como Genebra Seguros e Mutuus Seguros, para aplicar o “golpe do seguro falso”, além de outras modalidades de estelionato.

A estratégia das quadrilhas é engenhosa: clonam sites, criam perfis falsos em redes sociais e enviam comunicações que simulam ser oficiais, seja por e-mail, Facebook, Instagram ou WhatsApp. O objetivo principal é enganar pessoas em busca de emprego ou esperando encomendas, exigindo pagamentos antecipados por supostos “seguros obrigatórios” ou “taxas de entrega”.

Modus operandi dos golpistas e os prejuízos envolvidos

Os golpes se desdobram em duas frentes principais, conforme detalhado na primeira matéria e evidenciado por novas denúncias:

  • Falsas vagas de emprego e “agregação” de frota: Criminosos se passam por recrutadores de transportadoras, oferecendo oportunidades de trabalho para motoristas ou de “agregar veículos” à frota. Para “efetivar” a contratação, exigem o pagamento de um suposto seguro ou taxa de inscrição. Na Jadlog, por exemplo, o valor inicial do “seguro” era de cerca de R$ 150, mas evoluía para pagamentos adicionais, com vítimas chegando a desembolsar entre R$ 899 e R$ 4 mil. A Jadlog identificou mais de 100 vítimas desse golpe só em 2023. A Jamef Transportes também teve seu nome utilizado em esquemas semelhantes.
  • Cobranças indevidas de “taxas de entrega”: Utilizando dados pessoais das vítimas, obtidos de forma ilícita, os golpistas enviam mensagens (principalmente por WhatsApp, inclusive criando grupos falsos) ou e-mails/SMS, informando sobre uma suposta taxa pendente – como “taxa de entrega”, “taxa alfandegária” ou “Taxa EMEX (Emergência Excepcional)” – necessária para liberar uma encomenda retida. O valor é exigido via PIX, direcionado para contas de “laranjas”.

A audácia dos criminosos é notável. Guilherme Silveira, CEO da Genebra Seguros, relata que “eles deixam muitos rastros”, e as vítimas chegam a ser cobradas em até R$ 4 mil por supostos seguros obrigatórios. A Mutuus Seguros, por sua vez, registrou reclamações no Reclame Aqui, como a de “Neron” em 27/06/2023, que pagou um valor não especificado em um golpe de venda casada envolvendo a “TW transportes” e a Mutuus, sendo esta última também vítima da fraude de uso indevido de sua marca. Outro caso, em 20/12/2024, descreve uma vítima, “Sérgio”, desempregado, que pagou R$ 799,90 por um seguro de carga inexistente para uma falsa vaga da Jadlog com a “Lex Seguradora”, sendo posteriormente cobrado em mais R$ 1.500,00 e uma multa de R$ 1.150,00.

Reclamações no Reclame Aqui e ação policial

As denúncias no Reclame Aqui corroboram a extensão do problema. Casos como o de “Neron” contra a Mutuus Seguros e o de “Sérgio” contra a Jadlog (em que a “Lex Seguradora” também foi envolvida) demonstram a reincidência e a diversidade das táticas. Ambas as empresas, Mutuus e Jadlog, responderam às reclamações alertando as vítimas sobre os golpes e fornecendo orientações para registrar boletins de ocorrência e contatar os bancos para tentar estornar os valores.

A Polícia Civil de Minas Gerais, por exemplo, já instaurou inquérito para apurar o crime de estelionato contra idoso, sendo a vítima um homem de 64 anos em Ipatinga, que sofreu o golpe por meio virtual. Além disso, foram registrados boletins de ocorrência em diversos estados, incluindo:

  • Minas Gerais (MG)
  • Santa Catarina (SC)
  • São Paulo (SP)
  • Rio Grande do Sul (RS)

A investigação em Ipatinga, sob a presidência do delegado Marcelo Castro, busca o “completo esclarecimento dos fatos”. Essas ações policiais são cruciais para identificar os responsáveis por trás dessas quadrilhas interestaduais.

Plataformas digitais e a importância da prevenção

Empresas como a Jadlog têm enfrentado a lentidão das plataformas digitais para remover os perfis falsos. A Jadlog notificou o Grupo Meta (Instagram e Facebook), que inicialmente alegou que os perfis “não violavam as diretrizes”. Somente após recorrer à Justiça e obter uma liminar em maio de 2023, sob pena de multa diária, as contas foram removidas em 20 de junho de 2023. A Justiça inclusive condenou o Instagram por negligência.

Veja também: Golpes virtuais prejudicam trabalhadores, transportadoras e corretoras de seguros

Apesar da ação das autoridades e empresas de cibersegurança, que rastreiam domínios fraudulentos e solicitam bloqueios, a prevenção ainda é a melhor arma. As empresas afetadas têm intensificado os alertas públicos. A Jadlog e a Genebra Seguros, por exemplo, publicam regularmente em seus canais oficiais que não solicitam pagamentos por WhatsApp, e-mail ou redes sociais, nem cobram taxas adicionais por canais não oficiais ou por credenciamento.

Exemplo de mensagem fraudulenta no WhatsApp, em que golpistas usam o nome e logo da Jadlog para exigir uma “taxa” fictícia de entrega. Na mensagem, enviada de um número business falso, constam dados reais da vítima (nome, CPF, endereço) e um link que leva a um site clonando páginas oficiais, induzindo o pagamento via PIX / Reprodução
Exemplo de mensagem fraudulenta no WhatsApp, em que golpistas usam o nome e logo da Jadlog para exigir uma “taxa” fictícia de entrega. Na mensagem, enviada de um número business falso, constam dados reais da vítima (nome, CPF, endereço) e um link que leva a um site clonando páginas oficiais, induzindo o pagamento via PIX / Reprodução
Suspeitos mudam forma de agir, mas costumam exigir pagamentos antecipados em nome de empresas existentes / Reprodução
Suspeitos mudam forma de agir, mas costumam exigir pagamentos antecipados em nome de empresas existentes / Reprodução
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Como se proteger e o papel da denúncia

Os golpistas estão cada vez mais profissionais, usando dados vazados para dar veracidade às abordagens e atuando de forma multicanal. A recomendação unânime de especialistas, autoridades e das próprias empresas é:

  • Desconfie de ofertas boas demais: Propostas de emprego que exigem pagamento antecipado ou cobranças inesperadas são sinais claros de fraude.
  • Verifique sempre pelos canais oficiais: Em caso de dúvida, acesse o site legítimo da empresa (digitando o endereço diretamente, sem clicar em links suspeitos) ou ligue para o SAC oficial.
  • Jamais clique em links suspeitos: E não pague boletos de origem duvidosa. Nenhuma empresa legítima notifica débitos exigindo pagamento imediato via link de chat ou ameaçando o CPF dos clientes.
  • Denuncie imediatamente: Reporte o perfil nas redes sociais, registre um boletim de ocorrência na polícia e informe a empresa lesada. O DDU 181 da Polícia Civil de MG permite denúncias anônimas.

O combate a esses crimes digitais exige a colaboração de todos: consumidores informados, empresas vigilantes e autoridades atuantes. A reportagem continuará acompanhando o caso, buscando novas provas e vítimas para trazer à tona a verdade por trás desses golpes que já somam um prejuízo de mais de R$ 400 mil.

Se você foi vítima ou tem informações sobre o caso, entre em contato com nossa redação. Nosso e-mail é contato@universodoseguro.com.br.

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