Especialista explica como estruturar um elevator pitch de 30 a 60 segundos para se destacar e ser notado por recrutadores
À medida que as áreas de Recursos Humanos (RH) fecham projeções de orçamento e desenham movimentos para o primeiro trimestre de 2026, cresce a urgência de decisões antecipadas de contratações. No fim do ano, um movimento tradicional se intensifica: o aumento de vagas temporárias para varejo, indústria e logística. A Confederação Nacional do Comércio projeta expansão nesse ciclo, impulsionada pela demanda sazonal e pela reorganização de equipes para 2026. Segundo a Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), cerca de 535 mil postos temporários devem ser abertos entre outubro e dezembro de 2025, reforçando o aquecimento do mercado e a urgência de decisões rápidas.
Com mais empresas antecipando seleções, cresce o peso de interações rápidas, como conversas em eventos, reuniões curtas ou entrevistas de última hora, que funcionam como filtros iniciais para decidir quem avança nas etapas seguintes.
Para Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S, gestor de carreiras e PhD pela Unicamp, a clareza com que um profissional descreve o que faz, o problema que resolve e o impacto que gera se tornou central nessas decisões. “Boa parte das oportunidades surge em interações breves. Quando o profissional consegue explicar seu papel de forma objetiva, ele reduz ruído e permite que o interlocutor avalie rapidamente sua aderência ao desafio”, afirma.
A lógica por trás dos 30 segundos
O chamado elevator pitch surgiu no ambiente corporativo norte-americano com a ideia de que um profissional deveria ser capaz de apresentar sua proposta no tempo de uma curta viagem de elevador — geralmente de 30 a 60 segundos. A lógica permanece atual: tempo reduzido, atenção disputada e necessidade de clareza imediata.
No fim do ano, esse formato ganha função prática. Recrutadores e lideranças têm janelas limitadas para avaliar perfis; apresentações longas ou vagas tendem a dificultar o avanço do candidato. Santos sugere uma estrutura direta para o discurso: contextualização do problema, explicação objetiva da atuação e impacto mensurável do trabalho.
“Quando você estrutura a própria trajetória dessa forma, facilita a leitura de valor. O interlocutor entende rapidamente se existe conexão com o que a empresa precisa naquele momento”, explica. Segundo ele, essa abordagem reduz significativamente o risco de interpretações imprecisas, frequentes em conversas informais ou sob pressão.
Conexão com o mercado neste fim de ano
Com empresas antecipando decisões, a recomendação de Santos é que profissionais revisem sua apresentação curta e construam uma versão que destaque resultados verificáveis, seja com gestores, mentores ou colegas. Isso inclui traduzir atividades em efeitos concretos, organizar exemplos numéricos e ajustar a fala conforme o público.
“Ainda que muitas contratações sejam formalizadas apenas em 2026, grande parte das escolhas é feita agora. Estar preparado para conversas rápidas aumenta a chance de entrar no radar”, afirma.
Preparação prática: 3 dicas para o seu pitch
Santos reforça que o objetivo do elevator pitch não é decorar falas prontas, mas apresentar uma síntese clara da atuação. “É um exercício de precisão. Em ambientes com muitas demandas e pouco tempo, quem comunica de forma direta é compreendido mais rapidamente — e isso facilita qualquer encaminhamento”. Ele recomenda algumas práticas que aumentam a efetividade:
- Adapte ao seu público: “o mesmo pitch pode não funcionar para um CEO ou para um gerente de RH. Tenha versões diferentes e ajuste a linguagem e o foco conforme o interlocutor”, reforça.
- Seja autêntico: a estrutura é um guia, não um roteiro fixo. “Treine em voz alta, grave-se e fale com naturalidade. A energia e a paixão pelo que você faz são percebidas e valorizadas”.
- Inclua uma chamada para ação: o pitch deve iniciar uma conversa. “Termine com uma pergunta aberta ou um convite, como: ‘gostaria de saber mais sobre como aplico isso na prática?’; ou ‘como vocês costumam lidar com esse tipo de desafio aqui?'”, sugere o gestor.
Por fim, Santos ressalta que saber se vender não é arrogância, mas clareza e confiança. “É respeitar o tempo do outro e valorizar a própria trajetória. O desafio agora é pegar um papel, desenhar seu elevator pitch, refinar, treinar e estar pronto para a próxima oportunidade. Ela pode estar a apenas uma viagem de elevador de distância”, conclui.
