“Cenário Macroeconômico 2026”, evento organizado pela BB Previdência, analisa o panorama atual e traz as perspectivas de especialistas para as principais economias do mundo
O próximo ano será marcado por alta volatilidade na bolsa brasileira, afetando especialmente os ativos mais sensíveis às oscilações do mercado. Esse cenário se desenha em meio a eleições no Brasil, uma conjuntura internacional de dólar mais fraco e manutenção das taxas básicas de juros em patamares elevados no país, Estados Unidos e Europa, como resposta aos riscos inflacionários persistentes. Estas são as principais análises dos especialistas que participaram do “Cenário Macroeconômico 2026”, promovido nos dias 24 e 25 de setembro pela BB Previdência.
“Cenário Macroeconômico 2026” contou com a participação de José Maurício Pimentel, Economista-Chefe da BB Asset, e Marcela Rocha, Economista-Chefe da Principal Asset Management, e teve como objetivo aprofundar o entendimento sobre o panorama econômico nacional e mundial a fim de produzir insights relevantes para a revisão estratégica da Política de Investimentos da entidade, válida para o ciclo 2026-2030.
“Compreender o cenário macroeconômico, tanto doméstico quanto global, e os movimentos geopolíticos é fundamental para embasar decisões de investimento que garantam equilíbrio, sustentabilidade na gestão de recursos e bons resultados aos participantes dos nossos planos”, destacou, na abertura do evento online, Ricardo Serone, Diretor Financeiro e de Investimentos da BB Previdência, entidade de previdência complementar integrante do conglomerado Banco do Brasil.
Cenário Macroeconômico: Estados Unidos, China e União Europeia
A Economista-Chefe da Principal Asset destacou que, em 2025, a principal surpresa no cenário global foi a resiliência das economias diante da nova política tarifária dos Estados Unidos, quando a maior parte dos especialistas passou a acreditar que as medidas culminariam em uma recessão em âmbito mundial.
“Há uma desaceleração, mas esse panorama recessivo está bem distante. Os impactos foram menores do que os esperados em razão de os Estados Unidos revisarem algumas taxas, que caíram de uma média inicial de alta de 26% para 16%, e, principalmente, porque os governos investiram, bem como as empresas”, disse Marcela.
Segundo Pimentel, a expansão econômica dos Estados Unidos e da União Europeia também deve desacelerar, mas os juros permanecerão elevados por período prolongado para conter a inflação. O ciclo de juros extremamente baixos nos Estados Unidos e de quase zero ou negativos na Zona do Euro chegou ao fim, acredita o Economista-chefe da BB Asset, embora o Federal Reserve (FED), o banco central americano, tenha cortado recentemente a taxa e acenado com mais redução ainda neste ano.
Pimentel destacou que essa recente redução e o anúncio de cortes futuros refletem mais as pressões políticas e do sistema financeiro do que uma melhora efetiva no quadro inflacionário. “O governo norte-americano deve encerrar o ano com déficit primário equivalente a 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e déficit nominal de quase 7%. O custo do serviço da dívida aumentou expressivamente e os bancos americanos carregam US$ 400 bilhões em perdas não realizadas em títulos americanos, ainda marcados pela curva e não a mercado.”
Na opinião de Marcela, há espaço para dois cortes de juros nos Estados Unidos neste ano e mais dois em 2026 porque as expectativas de inflação estão ancoradas no mercado norte-americano, diferentemente do Brasil. “Esse cenário de crescimento das economias e corte nos juros americanos favorece muito o Brasil, pois leva a um dólar mais fraco. O Real já valorizou mais de 15% este ano”, disse.
A expectativa da BB Asset para os Estados Unidos é de crescimento de 1,4% em 2025, atingindo uma expansão do PIB anualizada de 2,2% no terceiro trimestre de 2026. A inflação norte-americana deverá permanecer acima da meta do FED (2%), alcançando 3,3% ao final de 2025, influenciada principalmente pela política tarifária e pelo ganho real de salários decorrente da política anti-imigração, que eleva o custo da mão de obra.
Para a Zona do Euro, a projeção da BB Asset é de crescimento próximo a 1% em 2026, com inflação estabilizada ao redor de 2%, dentro da meta do Banco Central Europeu. A taxa de juros deve permanecer em 2%, confirmando o fim da era de juros baixos nas principais economias mundiais. “Já a China deve crescer 4,7% este ano e 4,2% em 2026, com viés de baixa. A partir daí não será mais aquela China de 10%, 12% de expansão ao ano. Será uma China com taxa de crescimento bem mais modesta, mais contida”, disse Pimentel.
Cenário Macroeconômico: Brasil
O Economista-Chefe da BB Asset ressaltou que a volatilidade na bolsa brasileira em 2026 será amplificada pelo contexto eleitoral. “Ativos defensivos, como os pagadores de dividendos, considerados mais seguros, tendem a apresentar desempenho superior em relação àqueles tradicionalmente mais voláteis”, afirmou. Ele observou também que as eleições devem aquecer a economia nacional, impulsionada pelo aumento dos gastos públicos, especialmente em estados e municípios, para sustentar as campanhas.
A projeção da BB Asset aponta para um crescimento do PIB brasileiro de 2,2% em 2025 e de 2,1% em 2026, com viés de alta para o próximo ano. “Descontamos 0,6 ponto percentual, em 2026, devido ao impacto da política tarifária dos Estados Unidos”, observou Pimentel.
Já a Principal Asset trabalha com uma perspectiva de 2,3% de alta no PIB neste ano e de 1,6% em 2026. “A desaceleração econômica no país, quando comparada ao crescimento de 3,4% em 2024, está mais vinculada aos setores sensíveis ao crédito, como o de bens de consumo, em virtude da alta da Selic, que encarece as compras a prazo. Os bancos também estão mais cautelosos nas concessões de empréstimos”, explicou Marcela.
Contribuem para o avanço do PIB em 2026, na avaliação de Pimentel, o crédito consignado, cujos efeitos mais intensos devem ser sentidos mais no próximo ano, a isenção de Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil, ainda em trâmite no Congresso Nacional, e um mercado de trabalho aquecido, com ganho real de renda. “Esses fatores favorecem o consumo das famílias, impulsionando a economia, mas também pressionam a inflação, sobretudo a de serviços”, afirmou Pimentel.
A estimativa da BB Asset para a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é de crescimento de 4,9% ao final de 2025 e 4,4% em 2026. “As expectativas do mercado para a inflação permanecem desancoradas, bem acima do centro da meta de 3%, o que dificulta um corte mais acelerado da Selic pelo Banco Central (BC). Nossa projeção indica Selic em 15% em 2025, com um primeiro corte de 0,25 ponto percentual em janeiro de 2026, e encerrando o ano em 12,5%”, disse.
Nas previsões da Principal Asset Management, o IPCA sobe 5% este ano e finaliza 2026 em 3,9%. “Para a inflação girar em torno da meta estipulada pelo BC é preciso discutir a questão fiscal de maneira mais profunda, mas acreditamos que isso somente será possível a partir das próximas eleições, com o governo que for eleito. Em ano eleitoral dificilmente o tema será colocado em pauta”, afirmou Marcela, para quem a Selic também encerra 2025 em 15% e cai para 13% em 2026.