Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos e presidente-executivo da APIMEC Brasil, analisa impacto dessas mudanças no cenário macroeconômico
O mercado global inicia a semana sob forte impacto das recentes medidas protecionistas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O anúncio de novas rodadas de taxações sobre produtos como aço e alumínio, com tarifas de 25%, impõe desafios econômicos e exige respostas rápidas dos países afetados, incluindo o Brasil. O economista-chefe da Planner Investimentos e presidente-executivo da APIMEC Brasil, Ricardo Martins, destaca que tais mudanças estendem suas repercussões ao câmbio e aos juros, gerando instabilidade no cenário macroeconômico.
Impactos nas exportações brasileiras
A decisão de Trump afeta diretamente a balança comercial brasileira, uma vez que os Estados Unidos são um dos principais mercados consumidores de aço e alumínio do país. Segundo dados divulgados, o Brasil exporta aproximadamente 48% de sua produção de aço e 16% de alumínio para os EUA, movimentando um total de US$ 6,5 bilhões. No primeiro mandato de Trump, medidas semelhantes foram atenuadas por negociações diplomáticas, mas a nova investida protecionista pode trazer impactos mais severos.
Reação dos mercados e reflexo na economia global
A imposição de tarifas sobre produtos estratégicos como aço e alumínio tende a provocar reações imediatas nos mercados cambial e de juros. A valorização do dólar frente a moedas emergentes pode aumentar a pressão inflacionária, desafiando os bancos centrais a adotarem políticas monetárias mais restritivas. Além disso, países da Zona do Euro, especialmente a Alemanha, podem ser duramente afetados, visto que suas cadeias produtivas dependem intensamente da importação de matérias-primas.
Nos Estados Unidos, os dados de emprego e inflação divulgados recentemente reforçam a possibilidade de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (FED). Com um payroll abaixo do esperado e uma taxa de desemprego em leve alta para 4%, a autoridade monetária norte-americana pode ser pressionada a adotar medidas para estimular a economia, enquanto os impactos da política comercial protecionista ainda são analisados.
Cenário brasileiro: Inflação e política monetária
No Brasil, a combinação de fatores externos e internos também exige atenção. O índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro registrou uma queda expressiva, impulsionada pelo chamado “Bônus Itaipu”. No entanto, fevereiro já apresenta sinais de alta, com pressões oriundas do setor de alimentos e reajustes nos combustíveis. A pesquisa Focus aponta uma forte desancoragem inflacionária, com projeções para o IPCA de 2025 atingindo 5,58%, bem acima da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3%.
A taxa Selic, atualmente em 13,25%, também segue no radar do Banco Central. O risco fiscal e cambial segue sendo um fator determinante na definição da política monetária, enquanto o governo busca viabilizar novos programas de crédito para estimular o consumo e manter a atividade econômica aquecida.
Expectativas para a semana
Ao longo dos próximos dias, o mercado acompanhará de perto a apresentação do Relatório Semestral de Política Monetária pelo presidente do FED, Jerome Powell, no Senado e na Câmara dos EUA. A expectativa é de que o discurso traga mais clareza sobre os rumos da política monetária norte-americana e suas possíveis consequências para os mercados emergentes.
Além disso, os dados de produção industrial da Zona do Euro, a pesquisa PMI nos EUA e as vendas no varejo tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos serão indicadores-chave para compreender os desdobramentos do atual cenário econômico. O ambiente de incerteza gerado pelas novas medidas de Trump reforça a necessidade de monitoramento constante das reações do mercado global e das estratégias adotadas pelos governos para mitigar impactos adversos.