O mercado global de seguros de Property & Casualty (P&C) atingiu a marca de US$ 2,4 trilhões, o dobro do registrado há duas décadas, e deve quase dobrar novamente até 2040, alcançando cerca de US$ 4,3 trilhões. A conclusão é do estudo “Growing stronger: How the Property & Casualty market adapts to a riskier world”, publicado pelo Swiss Re Institute.
Crescimento sustentado por riscos mais complexos
De acordo com a pesquisa, os prêmios globais de P&C têm crescido em linha ou acima do PIB mundial, impulsionados principalmente por perdas de catástrofes naturais, inflação de sinistros de responsabilidade civil e maior exposição de ativos. Em mercados avançados, os ramos de propriedade e responsabilidade civil lideram a expansão, enquanto o seguro de automóveis perde participação. Já nos emergentes, que representam cerca de 20% do total mundial, a expectativa é de avanço acima da média, com maior penetração de automóveis e evolução da capacidade técnica.
Eficiência e nova dinâmica da cadeia de valor
O estudo mostra que a cadeia de valor do P&C tornou-se mais eficiente nos últimos dez anos, especialmente nos Estados Unidos, com redução de custos administrativos e de subscrição. No entanto, esse ganho foi parcialmente compensado por comissões mais altas a corretores e MGAs (Managing General Agents), que expandiram seu papel. Hoje, a distribuição e parte da subscrição estão cada vez mais nas mãos desses intermediários, permitindo inovação e expansão de capacidade, mas também elevando custos de intermediação e trazendo desafios de supervisão.
Reinsurance e capital alternativo em alta
Outro destaque é o crescimento acelerado do resseguro e da retrocessão. Enquanto o mercado primário avançou 4,2% ao ano na última década, os prêmios de resseguro cresceram 7% ao ano e os volumes de retrocessão, entre 8% e 10% ao ano. O uso de Insurance Linked Securities (ILS) mais que dobrou desde 2013, fortalecendo a conexão entre seguradoras e mercados de capitais. Essa estrutura em camadas – seguradoras, resseguradoras e capital alternativo – aumenta a eficiência do sistema, mas cria maior dependência do apetite dos investidores.
Players menores ganham espaço
A pesquisa evidencia ainda a redução da concentração de mercado. Em nove dos 11 maiores mercados analisados, os cinco principais grupos perderam participação desde 2004. O avanço de seguradoras menores, especializadas e cativas amplia a concorrência e diversifica a oferta de cobertura, com destaque para mecanismos públicos-privados e pools que garantem proteção em áreas de alta volatilidade, como seguros agrícolas no Brasil e planos residuais nos EUA.
Tendências estruturais
Entre as tendências apontadas pelo Swiss Re Institute estão:
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Crescente uso de cativas corporativas, que já movimentam entre US$ 60 e US$ 80 bilhões em prêmios anuais.
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Expansão dos pools público-privados como forma de sustentar a cobertura em regiões de maior risco.
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Adoção crescente de inteligência artificial em subscrição e sinistros, gerando ganhos de escala para grandes grupos e espaço para especialistas digitais.
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“Reset estratégico” das insurtechs, que deixam de focar na substituição das incumbentes para atuar como fornecedores de dados, distribuição e underwriting especializado
Lucros e riscos
O levantamento mostra que, nas últimas duas décadas, corretores superaram seguradoras e resseguradoras em rentabilidade, com modelos de negócio asset-light e expansão de margens. Já os resseguradores continuam sendo considerados pilares de estabilidade e “amortecedores de choques”, mas dependem de bases de capital sólidas para manter sua função no sistema.
Para Jérôme Jean Haegeli, economista-chefe do Swiss Re, o crescimento do setor “não é apenas uma questão de escala, mas de capacidade e resiliência. O mercado de P&C está mais eficiente em precificar, gerir e transferir riscos, apoiando a manutenção da capacidade mesmo em tempos de incerteza”.