Confira artigo exclusivo do Dr. Marcon Censoni A. Lima, médico há 26 anos, além de cirurgião oncológico do aparelho digestivo e especialista em cirurgia laparoscópica e robótica
Se alguém dissesse que caminhar regularmente pode ter um efeito parecido com os medicamentos mais modernos contra o câncer, você acreditaria?
Pois foi exatamente isso que a ciência demonstrou em um dos estudos mais comentados da ASCO 2025 (o maior congresso de oncologia do mundo), realizado em Chicago. A pesquisa, publicada simultaneamente no New England Journal of Medicine, acompanhou mais de 880 pacientes com câncer de cólon que haviam sido submetidos à cirurgia e à quimioterapia. O achado foi claro: aqueles que participaram de um programa de exercícios supervisionados durante 3 anos tiveram mais chance de sobreviver e menos chance de recaída.
O estudo internacional, chamado CHALLENGE Trial, mostrou que o exercício físico aumentou em 7% a sobrevida global após 8 anos — um número comparável ao benefício de medicamentos oncológicos de última geração:
Intervenção Doença Ganho absoluto em sobrevida
- Exercício físico Câncer de cólon 7% em 8 anos
- Oxaliplatina Câncer de cólon 5% em 10 anos
- Osimertinibe Câncer de pulmão 8% em 5 anos
- Durvalumabe Câncer de pulmão 10% em 5 anos
- Trastuzumabe Câncer de mama 5% em 5 anos
- Pembrolizumabe (pré/pós-op) Mama (TNBC) 5% em 5 anos
- Pertuzumabe Câncer de mama 1,8% em 10 anos
O impacto foi ainda mais evidente nos dados clínicos:
- Sobrevida livre de doença em 5 anos: 80,3% no grupo exercício vs. 73,9% no grupo controle
- Sobrevida global em 8 anos: 90,3% vs. 83,2%
- Menor risco de recaída hepática e melhor qualidade de vida relatada pelos pacientes
E há mais: o grupo que se exercitou também teve menor risco de desenvolver novos tipos de câncer, como:
- Câncer de mama (0,4% vs. 2,7%)
- Câncer de próstata (1,1% vs. 2,0%)
- Novo câncer colorretal (0% vs. 1,1%)
Esses efeitos parecem estar ligados à forma como o exercício atua no organismo:
- Estimula a imunidade
- Reduz inflamações
- Melhora a circulação
- Regula hormônios e insulina
- Modifica o microambiente das metástases
Em outras palavras: o exercício pode combater células residuais do câncer e evitar o surgimento de novos tumores primários.
Como cirurgião oncológico do aparelho digestivo, atuando há mais de duas décadas, posso dizer com convicção: a recuperação do câncer não termina com a cirurgia. Ela continua com cada passo que o paciente dá depois.
E esse estudo, apresentado na ASCO 2025, reforça o que muitos já intuíamos, agora com base em ciência sólida de primeira linha: o movimento é uma forma de medicina.