Precisamos de diálogo maduro entre os profissionais e entidades do mercado para rever as políticas de aceitação de riscos; Juntos, fazemos ajustes e encontramos soluções
*Artigo de Boris Ber, presidente do Sincor-SP.
Não somente em palestras ou reportagens que vejo, mas nas rodas de conversa com vários players do setor de seguros, sejam corretores, executivos de seguradoras, líderes de entidades, todos falam do crescimento do mercado e dos seus negócios. Naturalmente, essa é a vontade de todos que jogam no setor de seguros e realmente acontece para muitos. Mas a realidade do dia a dia tem trazido desafios que são gargalo para o potencial do quanto poderíamos crescer.
Hoje, os corretores de seguros têm enfrentado um problema que se mantém de certa forma silencioso, mesmo sendo enorme: a aceitação de seguros por parte das companhias. Não vemos as seguradoras nem suas entidades representativas, nem os resseguradores, darem solução para o que está acabando com os negócios dos corretores. O comportamento nos últimos meses, tanto dos corretores que não conseguem proteger seus segurados, como das seguradoras que deixam negócios na mesa, mostra uma apatia como “tá ruim, mas tá bom”.
É normal no meu dia a dia como presidente do Sincor-SP receber desesperados contatos de corretores de seguros pedindo ajuda para colocação de um risco, para fazer o seguro que seu cliente precisa. Está no momento de as companhias buscarem uma solução, seja através de resseguradores internacionais, de resseguradores estabelecidos no Brasil, ou conseguindo ressuscitar um acordo de cosseguro, como já funcionou muito bem no passado. Mas não podemos ficar sem solução para o cliente de seguro. De nada adianta ter o discurso que o corretor de seguros é o grande protetor do segurado, que está sempre pronto para resolver os problemas, se não temos os instrumentos para isso.
É uma discussão que precisa ser feita de forma madura. Sabemos que não existe milagre, que as companhias estão se readequando após as perdas com fenômenos naturais, que causaram prejuízo no agro e em algumas carteiras, por exemplo, o que mostra uma insuficiência de taxa, ou de importância segurada. Ao observamos em um condomínio o preço que está sendo cobrado do seguro e o que está sendo segurado, nem o próprio corretor aceitaria este risco. O mercado também enfrentou mudanças como a subida de preço dos automóveis, que trouxe uma receita adicional para as corretoras, mas com um perigo muito grande de haver perda de itens, de pessoas que não conseguirem renovar seus seguros. Então é ilusório o crescimento, porque subiu o preço, mas não a carteira de clientes – pelo contrário, há uma perda de segurados para as associações de proteção veicular bem como para empresas que oferecem coberturas menores. Em riscos industriais também vimos uma subida de preços, na mesma proporção da sinistralidade. Sabemos do aumento de indenizações nos seguros de responsabilidade, da alta de incêndios em apartamentos e condomínios, do crescimento dos sinistros de vendaval, de dano elétrico, da cada vez maior utilização de serviços de assistência a residências… Atuamos neste mercado, diretamente com o cliente.
Por isso, penso que, mesmo que tenhamos franquias mais altas, taxas mais altas, exigências mais altas, nós podemos e devemos atuar juntos para eliminar ou minimizar os riscos, fazer o gerenciamento para que o seguro possa ser viabilizado e aceito. Há pouco tempo víamos um trabalho de melhoria de riscos, quando o corretor de seguros orientava o segurado a seguir recomendações da seguradora, e protegia seu imóvel com sprinklers e hidrantes, por exemplo, e com isso o cliente tinha uma redução no prêmio e, consequentemente, um retorno no investimento que fazia para a aceitação. Hoje não tem mais essa abertura, é sem diálogo: “Se você tem um risco bom eu aceito, se não tem não aceito”, determina a seguradora. A consequência dessa arbitrariedade é que caminhamos para ter menos corretoras no mercado, já que teremos menos segurados atendidos. É muito difícil para o corretor chegar para um segurado que está com ele há 10, 20, 30 anos e dizer “Durante todo esse tempo eu fiz o seguro da sua fábrica, mas agora não consigo fazer”. E não se trata de grandes negócios somente, mas também de pequenos, dependendo do ramo, como pequenas tecelagens, por exemplo.
Juntos, todos os integrantes do setor, precisamos fazer uma reflexão de futuro, ter uma discussão madura. O Sincor-SP está super disposto e preparado para esta conversa, mas é fundamental que todos estejamos sintonizados em uma mesma visão. Evidentemente, não precisamos ir de zero a 100 em poucos segundos, mas temos que sair do zero. Na verdade, temos que sair “menos zero”, porque hoje estamos andando para trás, damos um passo para frente e dois para trás.
Mesmo passando por desafios, precisamos encontrar soluções. Mesmo que esse remédio possa ser um pouco amargo, que o jeito seja incluir modalidades de taxação, franquias, participações. Não estamos discutindo qual o remédio ou o quão amargo ele tem de ser. O problema é que estamos deixando morrer sem dar qualquer remédio. Corretores e seguradores estão tocando a vida usando o “deixa estar”, “vamos ver como é que fica”, e isso não é bom. Desgasta a imagem das seguradoras, mancha os corretores e aquele segurado que amealhou um patrimônio e sempre contratou seguro de repente não tem mais a tranquilidade para dormir sossegado.
O corretor de seguros sente no dia a dia que a sinistralidade cresceu, não somos contra uma movimentação positiva de taxas, mas temos que barrar a não aceitação pura e simples. Não existe seguro inaceitável, mas produto mal taxado. Vamos trabalhar em propostas que sejam viáveis não apenas para favorecer o desenvolvimento de novos negócios do setor, mas, principalmente, para não perder o que foi conquistado até aqui.