Carlos Nobre sugere que o mercado de capitais envolva a Ciência para avaliar os riscos
No mundo todo a indústria de combustíveis fósseis investe US$ 7 trilhões por ano, contra só US$ 500 milhões a US$ 600 milhões em energias renováveis. “Por que a velocidade da transição é tão lenta?”, questionou o cientista brasileiro Carlos Nobre, referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas, no MKBR24, evento realizado pela ANBIMA e pela B3.
O planeta está em sua temperatura mais quente em 125 mil anos. Os cientistas previam que a temperatura fosse subir 1,3 graus em 2023, mas foram surpreendidos com a alta de 1,5 graus. “O risco está crescendo tanto que é importante que o mundo financeiro perceba”, disse ele.
O salto inesperado na temperatura faz com que no mundo inteiro explodam os eventos climáticos extremos. Não são só as fortes chuvas, como as vistas no Rio Grande do Sul, mas também a seca extrema na Amazônia este ano. Além disso, em 2022, 62 mil pessoas morreram na Europa pelas ondas de calor.
Mesmo que a temperatura caia um pouco com o fenômeno La Niña no segundo semestre, ela não reduz mais, diz o cientista. Se as emissões não diminuírem, a alta na temperatura chegará a 2,5 graus em 2050 e pode passar de 3 graus em 2100. “Nesse nível, o Centro-Oeste, a Amazônia e o Norte do Sudeste não vão mais conseguir produzir bens agrícolas – o Brasil pode deixar de ser o quarto maior produtor de alimentos do mundo”.
“Se o setor econômico-financeiro não conseguir alterar essa curva, o risco para todo o planeta é muito grande”, disse Nobre. Ele sugere que o mercado de capitais envolva a Ciência para avaliar os riscos. O custo dos eventos extremos é muito mais alto do que a resiliência e o planejamento, segundo ele.
O MKBR24 é um evento bienal sobre o mercado de capitais, realizado desde 2018, numa parceria entre a ANBIMA e a B3. Reúne grandes nomes do Brasil e do exterior para debater o cenário atual e as iniciativas que estimulem o crescimento sustentável do mercado de capitais brasileiro.