Para especialista, decreto assinado pelo Presidente Lula eleva o tema à pauta de Estado, mas sucesso dependerá da capacidade de transformar diretrizes em ações concretas com metas e cronograma
O Grupo Dfense, hub brasileiro de soluções em cibersegurança, avalia como um avanço fundamental a instituição da nova Estratégia Nacional de Cibersegurança (e-Ciber), oficializada por decreto presidencial em 5 de agosto de 2025. A iniciativa, que estabelece diretrizes para a proteção de infraestruturas críticas e da sociedade, é vista como um passo crucial para posicionar o Brasil no cenário global de soberania digital. Contudo, o sucesso do plano dependerá de sua efetiva implementação, com a definição de metas, indicadores e um cronograma realista.
A medida chega em um momento crítico no país. De acordo com a Check Point Research, o Brasil registrou, no primeiro trimestre de 2025, uma média de mais de 2,6 mil ciberataques semanais por empresa — alta de 21% em relação ao mesmo período de 2024. O dado expõe a vulnerabilidade de setores públicos e privados e reforça a urgência de uma resposta estruturada. Com a nova estratégia, o governo passa a tratar a cibersegurança não apenas como um desafio técnico, mas como um pilar essencial para a estabilidade econômica e social do país.
Conforme divulgado pelo Palácio do Planalto, a e-Ciber foca na proteção de infraestruturas críticas como energia, saúde, transportes e telecomunicações, além de promover a segurança dos cidadãos, com atenção especial a grupos vulneráveis como crianças e idosos. O plano também incentiva a cooperação e o compartilhamento de inteligência entre empresas e governo, e estabelece as bases para uma governança cibernética mais robusta.
Para Rodolfo Almeida, COO da ViperX, startup de cibersegurança do Grupo Dfense, o movimento do governo é um sinal de amadurecimento. “Essa nova diretriz, que foi assinada pelo presidente, tem um papel estratégico. Ela mostra que o Brasil está começando a tratar a cibersegurança como uma pauta de soberania digital, digamos assim, e não mais apenas como um problema técnico. Isso é um avanço bastante grande”, afirma Almeida. Ele traça um paralelo com a evolução regulatória de outros setores: “Isso me lembra o que vivenciamos na época da implantação das normas do Bacen: primeiro, vêm as orientações estratégicas; depois, os requisitos se tornam mandatórios.”
A nova Estratégia Nacional se desdobra em quatro frentes principais: o fortalecimento da segurança para a sociedade, com foco nos mais vulneráveis; a ampliação da resiliência em serviços essenciais e infraestruturas críticas; o incentivo à cooperação nacional e internacional para o compartilhamento de inteligência de ameaças; e a consolidação de uma governança cibernética centralizada e eficaz.
Apesar de enxergar a iniciativa com otimismo, Almeida pondera que o maior desafio está na transição do plano para a prática. “O desafio é sempre executar e implantar. Assim como um plano diretor dentro de uma corporação, um plano nacional de cyber ainda vai ser detalhado. O Conselho Nacional de Cibersegurança tem que sair do papel com metas, indicadores e um cronograma que funcione de verdade. Não pode ser só um manifesto, uma carta de intenção do que se quer fazer”, ressalta.
Entre os pontos positivos, o especialista destaca a sinalização de iniciativas como a criação de um selo de segurança para produtos e serviços, a realização de testes de resiliência e simulações de ataques, e, principalmente, a inclusão do tema nos currículos escolares. “Isso é importante não só para formar a juventude, mas para aumentar de uma maneira geral a conscientização de segurança na sociedade, que é o que a gente prega muito”, conclui. “Vemos essa estratégia como uma oportunidade para o Brasil evoluir de forma coordenada. Segurança hoje é um pilar crítico para nosso modelo de economia e de vida digital.”