Uma pesquisa de engenheiros da Universidade de Cincinnati resultou no desenvolvimento de um dispositivo que pode alertar as pessoas dos riscos de gengivite e periodontite. A integrante do Grupo de Trabalho de Saliva do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Debora Heller, diz que essas iniciativas são muito importantes para que o diagnóstico das doenças seja feito de forma precoce e não invasiva. A profissional esclarece que a gengivite é o estágio inicial da doença periodontal e muitas vezes não causa dor, passando despercebida pelo paciente. Apesar disso, pode evoluir para uma periodontite e causar doenças cardiovasculares e diabetes.
Atualmente, novas tecnologias usam a saliva para detectar alterações inflamatórias que ajudam a prevenir complicações e ainda tornam o diagnóstico acessível em um ambiente que não é clínico.
Detecção e diagnóstico
A Dra. Débora Heller explica que, no consultório odontológico, a gengivite e a periodontite são diagnosticadas por exame clínico, quando a doença está clinicamente visível.
“Os testes salivares e de fluido crevicular gengival surgem como uma inovação, porque conseguem identificar biomarcadores da inflamação antes mesmo de sinais clínicos evidentes” diz a especialista. Alguns exemplos já no mercado são o Periomonitor – aprovado no Canadá, utiliza saliva para identificar mediadores inflamatórios ligados à doença periodontal – e o Straumann/Oralutech PerioSafe (Next Gen Perio Test) – disponível na Europa, detecta a enzima MMP-8, um marcador chave da destruição do tecido periodontal.
A profissional ressalta que o exame não substitui a avaliação clínica, mas complementa o diagnóstico, além de ajudar na individualização da prevenção. “A saliva é tão poderosa que, por meio dela, é possível saber o que está acontecendo na boca e no organismo como um todo. Ela contém enzimas, proteínas, hormônios e mediadores inflamatórios que podem ser biomarcadores em relação à saúde do indivíduo”, complementa.
Os testes conseguem identificar moléculas como a MMP-8 (metallopeptidase) ou endotoxinas bacterianas, permitindo prever riscos de doenças e monitorar a resposta do paciente ao tratamento.
Tecnologia no Brasil
A cirurgiã-dentista explica que, no Brasil, os testes moleculares para diagnóstico específico da doença periodontal não estão disponíveis para uso clínico. Apesar disso, a especialista afirma que o nosso país conta com testes clínicos já validados e que podem ser aplicados diretamente no consultório odontológico, que oferecem resultados imediatos relacionados ao risco de inflamações gengivais.
Por meio dos exames, é possível identificar precocemente pacientes com risco e agir por meio de métodos preventivos. Dra. Débora ressaltou que o Brasil tem um papel pioneiro em validar testes clínicos, assim como estudos moleculares com saliva.
“Há testes clínicos validados feitos no consultório que oferecem resultados imediatos e estão diretamente relacionados ao risco de inflamação gengival. Esse é um avanço interessante, porque pacientes com menor fluxo salivar tendem a acumular mais biofilme e, consequentemente, apresentam maior risco de disbiose, doença periodontal e perimplantar. Com isso, o cirurgião-dentista consegue intervir de forma preventiva e individualizada, elevando o nível de cuidado oferecido”, finaliza a integrante do Grupo de Trabalho de Saliva do CROSP, Dra. Débora Heller.