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Novo estudo do IESS aponta falhas na capacitação em saúde e alerta para desafios do envelhecimento até 2035

group of old men sitting near table
Foto: Cristina Gottardi no Unsplash

Relatório indica desigualdades regionais, lacunas na formação e necessidade de políticas obrigatórias de atualização contínua

A qualificação e atualização dos profissionais de saúde será determinante para que o Brasil enfrente o envelhecimento populacional, a multimorbidade de doenças e reduza desigualdades estruturais na formação e oferta de mão de obra no sistema até 2035. O novo estudo da série Caminhos da Saúde Suplementar 2035, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), mostra que o país carece de políticas integradas de desenvolvimento profissional e convive com forte assimetria regional, marcada pela concentração de profissionais nas capitais. Clique aqui e acesse a íntegra.

“A força de trabalho em saúde precisa estar preparada para uma sociedade que envelhece rapidamente e que exige competências técnicas, sociais e culturais mais amplas do que as práticas tradicionais contemplam”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.

O relatório destaca que o Brasil não possui uma política nacional obrigatória de capacitação para todas as categorias da saúde e que fragilidades nos currículos e na formação em serviço dificultam o atendimento às necessidades da população. Mesmo com expansão de cursos, a preparação continua insuficiente para estimular competências interprofissionais, sensibilidade cultural e domínio de tecnologias emergentes. Esse descompasso fica evidente na distribuição dos profissionais: municípios com mais de 500 mil habitantes concentram 57,8% dos médicos, com 5,75 por mil habitantes, enquanto municípios com menos de 5 mil têm apenas 0,51.

“Sem investir em qualificação permanente, continuaremos formando profissionais que não respondem adequadamente às necessidades reais da população, especialmente nas regiões mais vulneráveis”, destaca Cechin.

Entre as recomendações, o estudo defende políticas de desenvolvimento profissional contínuo, fortalecimento da formação interprofissional, maior uso de tecnologias educacionais — como simulação e teleducação — e mecanismos de certificação e acreditação das práticas formativas. A análise também apresenta experiências de Canadá, Austrália e Reino Unido, que adotam sistemas estruturados de atualização com avaliações periódicas, prática reflexiva e documentação sistemática. “Esses países mostram que a formação não termina na graduação. É preciso acompanhar, avaliar e garantir padrões mínimos de competência ao longo de toda a carreira”, complementa Cechin.

A capacitação insuficiente impacta diretamente a segurança do paciente e a equidade no cuidado. Falhas formativas contribuem para erros, eventos adversos e desigualdade de acesso, especialmente entre populações vulneráveis. A disparidade é evidente na saúde bucal: 37,17% das crianças de 5 anos nunca foram ao dentista e 46,83% têm cárie não tratada; entre adolescentes de 15 a 19 anos, o índice chega a 43,73%. Na enfermagem, o Sudeste concentra 47,5% dos profissionais, enquanto o Norte registra apenas 3 por mil habitantes.

O envelhecimento populacional é apontado como desafio central. O país deverá demandar mais geriatras, profissionais de reabilitação, cuidadores formais, psicólogos e assistentes sociais, ampliando a pressão sobre a força de trabalho. Projeções indicam que, em 2035, o Brasil deve alcançar 5,25 médicos por mil habitantes, mas desigualdades persistirão: o Distrito Federal pode ultrapassar 11,8 por mil habitantes, enquanto estados da Amazônia Legal devem manter densidades reduzidas, como Maranhão (2,43) e Pará (2,56). Para o IESS, fortalecer a formação voltada ao idoso é fundamental para garantir cuidado integral e sustentável.

Distribuição desigual dos profissionais de saúde no Brasil

O estudo reforça que a distribuição territorial permanece profundamente desigual, afetando o acesso ao cuidado:

Norte — menor densidade de médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas, com escassez acentuada em municípios pequenos.
Nordeste — forte desigualdade entre capitais e interior, com carências em diversas categorias.
Sudeste — concentra a maior parte dos profissionais, apoiado por maior oferta formadora e infraestrutura.
Sul — proporção intermediária, com desigualdades internas persistentes.
Centro-Oeste — distribuição relativamente mais proporcional, ainda insuficiente em municípios menores.

O IESS conclui que superar as lacunas atuais exige ação coordenada entre governo, instituições de ensino e serviços de saúde. Políticas estruturadas, valorização profissional e integração interprofissional serão essenciais para consolidar um sistema capaz de oferecer cuidado de qualidade, centrado na pessoa e adequado aos desafios que se intensificarão até 2035.

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