O estudo das intenções de compra para o terceiro trimestre de 2025 revela um cenário complexo e multifacetado do varejo brasileiro
O IBEVAR-FIA Business School, como sempre ocorre, traçaram as perspectivas considerando duas diferentes abordagens: projeções econométricas baseadas em dados do IBGE e previsões apoiadas em análise do comportamento digital dos consumidores em plataformas online.
O contexto macroeconômico apresenta sinais contraditórios que moldam o ambiente de consumo. Por um lado, observa-se fatores positivos significativos, como o crescimento de 2,50% no pessoal ocupado comparando maio de 2025 com o mesmo período do ano anterior, acompanhado de um robusto aumento de 5,80% na massa de rendimento real, que supera consideravelmente a inflação acumulada de 5,27% nos doze meses até junho de 2025. Adicionalmente, as concessões de crédito expandiram 5,96%, indicando maior disponibilidade de recursos para o consumo.
Entretanto, fatores restritivos importantes contrabalançam esse otimismo. A taxa de juros para pessoa física atingiu patamares elevados de 58,16% ao ano, representando um aumento de 5,54 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Esse encarecimento do crédito, combinado com o alongamento do prazo médio das concessões para 39,63 meses e a projeção de inadimplência crescente para 6,21% em setembro de 2025, cria um ambiente desafiador para o consumo, especialmente de bens duráveis.
As projeções a partir dos dados do IBGE indicam um crescimento moderado de 1,98% para o varejo ampliado no terceiro trimestre de 2025 comparado ao mesmo período de 2024. Dentro desse cenário, observa-se desempenhos díspares entre os segmentos. Os setores de tecidos, vestuário e calçados lideram o crescimento com impressionantes 9,01%, beneficiados diretamente pelo aumento da massa salarial. O segmento de outros artigos pessoais e domésticos projeta expansão ainda maior, de 10,72%, sugerindo uma forte demanda reprimida sendo atendida. As farmácias mantêm crescimento estável de 2,27%, confirmando seu caráter defensivo e essencial, enquanto os supermercados demonstram resiliência com crescimento de 1,25%.
Em contraste, setores sensíveis ao crédito enfrentam dificuldades. O segmento de automóveis e motos projeta retração de 2,37%, diretamente impactado pelos juros elevados. Móveis e eletrodomésticos também sofrem com queda de 0,80%, refletindo a cautela do consumidor em comprometer-se com financiamentos longos em ambiente de juros restritivos. O setor de livros e papelaria enfrenta a maior queda, de 6,94%, representando uma mudança estrutural para o consumo digital de conteúdo.
A análise do comportamento online, oferece uma perspectiva complementar e por vezes contraditória. Os dados revelam que setores como hotelaria, com índice de 91,3, e beleza e cosméticos, com 90,2, lideram as intenções de busca online, indicando forte interesse do consumidor. Surpreendentemente, o setor automotivo apresenta alto índice de interesse digital de 89,3, contrastando com a projeção negativa de vendas, sugerindo que consumidores pesquisam intensamente online mas adiam a compra efetiva devido às condições de financiamento.
Os serviços digitais, particularmente streaming de música e vídeo, com índices de 86,1 e 85,1 respectivamente, confirmam a consolidação da economia de assinaturas. Por outro lado, setores tradicionais como material de construção, com índice de apenas 43,6, e supermercados, com 37,2, demonstram que a jornada de compra permanece predominantemente física para essas categorias.
Uma discrepância notável surge no segmento de móveis e eletrodomésticos, que apresenta baixo interesse digital de 30,4, correlacionando com a queda projetada nas vendas. Isso sugere que a falta de engajamento online pode ser um indicador antecedente de desempenho negativo no varejo físico. Adicionalmente, o surgimento das casas de apostas com índice de 74,1 representa um novo competidor pela renda disponível do consumidor, potencialmente desviando recursos de categorias tradicionais do varejo.
A convergência das duas metodologias aponta para um crescimento moderado de aproximadamente 2% para o varejo no terceiro trimestre de 2025. Esse crescimento será sustentado pela base sólida de emprego e renda, com o aumento real da massa salarial superando a inflação e garantindo poder de compra. No entanto, o consumo será cada vez mais seletivo, com famílias priorizando itens essenciais como alimentos e farmácia, além de pequenos luxos acessíveis como vestuário e cosméticos.
“A restrição creditícia continuará limitando compras de bens duráveis, enquanto a transformação digital favorecerá setores com forte presença online. O cenário final sugere um consumidor mais cauteloso e informado, que utiliza extensivamente canais digitais para pesquisa, mas toma decisões de compra criteriosas, priorizando necessidades sobre desejos. A projeção consolidada indica crescimento entre 1,5% a 2,5% no varejo ampliado, caracterizado por um varejo essencial resiliente, bens duráveis sob pressão, serviços digitais em expansão e prevalência do consumo consciente sobre compras por impulso”, explica Claudio Felisoni, Presidente do IBEVAR e Professor da FIA Business School:
Esse ambiente de consumo reflete a maturidade do mercado brasileiro, onde consumidores navegam habilmente entre oportunidades e restrições, utilizando ferramentas digitais para maximizar o valor de suas compras enquanto gerenciam cuidadosamente seus compromissos financeiros em um cenário de juros elevados, mas com emprego e renda em expansão.