Com hospitais evacuados, atendimentos suspensos e redes colapsadas, o conflito geopolítico escancara a vulnerabilidade das estruturas médicas – e levanta reflexões sobre o papel da saúde suplementar em tempos de crise
A recente escalada do conflito entre Irã e Israel evidenciou, mais uma vez, que em cenários de guerra, o colapso não se torna apenas político ou militar – se torna médico, estrutural e, muitas vezes, silencioso.
Nas primeiras horas após os ataques, hospitais em Tel Aviv, cidade da costa israelense, e regiões próximas transferiram pacientes para áreas subterrâneas; neonatais, unidades de atendimento e UTIs foram evacuadas – suspendendo cirurgias e consultas não emergenciais. O mesmo aconteceu para as ambulâncias, operando somente sob ameaça constante.
Impactos que vão além da região
O que acontece em uma zona de guerra acaba reverberando em toda a estrutura internacional de proteção médica. Profissionais estrangeiros em missão, cidadãos em trânsito e populações locais vizinhas também ficam expostos à escassez de atendimento, medicamentos e infraestrutura – trazendo barreiras intransponíveis.
Além disso, o conflito entre Irã e Israel reacende o debate global sobre a fragilidade da relação entre saúde pública e privada em contextos de catástrofe. Quando um colapsa, o outro raramente dá conta sozinho.
A ausência de cláusulas para o imprevisível
Boa parte dos planos de saúde internacionais, até mesmo os “completos”, não contemplam cláusulas específicas para guerra, terrorismo, evacuação médica ou apoio psicológico em situações traumáticas. O conflito escancara a necessidade de revisar coberturas à luz de riscos reais e crescentes: deslocamentos forçados, interrupção de tratamentos crônicos e escassez de recursos hospitalares.
Operadoras, governos e empresas privadas precisam olhar para essa lacuna com responsabilidade e estratégia.
Um olhar do mercado
“Conflitos como esse mostram que os planos de saúde são mais que um contrato. Eles acabam se tornando parte de uma estratégia de resiliência. Quando tudo falha, é ele que deveria garantir o mínimo de dignidade e acesso. Porém, para isso, ele precisa estar preparado para mais do que a rotina – precisa prever o imprevisível.” – comenta Leandro Giroldo, especialista em Saúde Suplementar há 23 anos e CEO da Lemmo Corretora.
A lição por trás da crise
A guerra entre Irã e Israel trouxe uma nova rodada de instabilidade geopolítica – revelando, com clareza, o quão vulnerável ainda é o acesso à saúde em situações assim. Hospitais preparados para o cotidiano não resistem sozinhos ao caos. Planos que funcionam em tempos estáveis se mostram insuficientes quando o cenário muda drasticamente.
O conflito exige além de respostas locais; exige uma revisão profunda da forma como o mundo entende proteção médica em um tempo que o imprevisível deixou de ser exceção.
Se a guerra revela falhas, ela também obriga a repensar: sistemas de saúde só serão resilientes quando estiverem preparados para o que não se pode prever.