Confira artigo de César Félix, head de CX da NovaDAX
Quando se fala sobre a adesão às criptomoedas pela população em geral, há muita incerteza e opiniões divergentes sobre como ela seria e suas consequências. Apesar disso, há algo que não se discute mais: esta tecnologia, de fato, chegou para ficar. Como ela será usada é o que ainda está em questão.
Quando falamos em”adesão mainstream” de criptomoedas, que é a utilização em massa pela população, é importante pensar em qual seria o papel delas no dia a dia. Sem isso, não há como avançarmos nesse debate.
Qual a função das criptos?
Antes de tentar entender o que falta para uma adesão mais generalizada das criptomoedas, vale questionar a real função desses ativos. Quando imaginadas originalmente por Satoshi Nakamoto, a ideia era resolver o problema do “dinheiro digital”, criando um sistema que permitisse o comércio mundial de forma prática, rápida e segura, sem depender de bancos ou governos. É possível dizer que este objetivo foi alcançado.
Mesmo com todas as suas qualidades, existem dois desafios fundamentais, que dificultam o uso das criptomoedas como a “troca da moeda” nas transações diárias:
- Dificuldade de uso em pequenas transações: uma coisa é você saber que o seu cafezinho na padaria vai te custar R$ 5,00. Agora imagine olhar para a tela da maquininha e ver que seu café custou 0,0000095 satoshis (centavos de Bitcoin). Se colocar um “0” a menos no momento de cobrar, o caixa da padaria estará cobrando R$50,00 pelo pingado. Imagine conferir a compra de mercado do mês, na boca do caixa, desta forma.
- Instabilidade dos valores: apesar de serem ativos que estão sendo cada vez mais reconhecidos, as criptomoedas ainda tem grande flutuação em seu valor durante o dia, e seu uso como moeda de troca pode gerar flutuações de preço como as experimentadas no Brasil pré Real.
Exatamente por isso, no meu ponto de vista, a utilização das criptomoedas como ferramenta de troca no dia a dia não será feita diretamente com as criptos mais conhecidas, como o Bitcoin e o Ethereum.
O uso de criptoativos como reserva de valor
Existe, porém, um uso das criptomoedas que vem tendo muito mais sucesso do que seu uso como moeda de troca: como ativo de reserva de valor.
As moedas nacionais tendem a desvalorizar com o tempo, por isso é importante ter reservas que não percam seu valor no longo prazo. Por isso, criptomoedas, como o Bitcoin, estão sendo cada vez mais usadas com essa finalidade por empresas e até governos.
Dois exemplos claros dessa adesão no cenário internacional são, sem dúvida, o governo de El Salvador e a MicroStrategy. O pequeno país da América Central enfrentava uma crise de credibilidade e desvalorização da sua moeda, quando decidiu lastrear os títulos de dívida do país no ativo digital. Já a empresa de business intelligence e software de Michael Saylor transformou todos os fundos em Bitcoin, o que fez com que ela saísse do status de pouco relevante no mercado para uma das mais valiosas do mundo, com valor de caixa maior do que o valor total do Banco do Brasil.
Esta estratégia, chamada de HODL (gíria cripto para a estratégia de comprar e manter criptomoedas), pode ser replicada por pessoas físicas e, na minha visão, vai ser o uso mais comum deste tipo de ativo para aqueles que não têm interesse em trade.
Pix, facilidade e educação financeira: o caminho para a adesão massiva no Brasil
Em relação à adesão geral da população ao uso de criptomoedas, o Brasil possui um ator fundamental, que muitos não levam em consideração: o Pix. Apesar de ter apenas quatro anos, ele é hoje uma ferramenta fundamental para os brasileiros, pois permite o envio rápido de dinheiro usando dados simples como telefone, CPF e e-mail. Em setembro deste ano, ele bateu um recorde com 227 milhões de transações em apenas 24 horas.
Por isso, se quisermos a adesão massiva às criptomoedas no Brasil, temos que pensar em algo simples como o Pix. As exchanges de ativos digitais já avançaram consideravelmente nesse sentido, facilitando o processo de aquisição e transformação dos ativos digitais novamente em reais.
Além disso, não podemos desprezar a importância da educação, não apenas sobre ativos digitais, mas em finanças, de forma geral. A maioria das pessoas não tem cultura econômica e por isso enfrenta dificuldades de criar reservas de emergência e reservar algum dinheiro para investir. O cenário é favorável para que a adesão às criptomoedas no Brasil seja cada vez maior, mas é importante que governo, empresas do mercado e a própria comunidade de adeptos facilitem o acesso, tanto de informações quanto de formas fáceis de negociação.