Seguradoras podem adotar diversas ações para ampliar a resiliência às transformações climáticas
A tragédia climática ocorrida em maio deste ano no Rio Grande do Sul é um exemplo recente marcante de como as mudanças climáticas têm gerado eventos extremos com maior frequência e intensidade no Brasil. A correlação com o setor de seguros é direta, pois esses eventos provocam perdas humanas e econômicas que impactam a sinistralidade dos seguros e, consequentemente, o desempenho do setor.
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), as seguradoras brasileiras têm registrado um aumento nas indenizações devido a eventos climáticos severos. No caso do Rio Grande do Sul, a CNseg estima que os pedidos de indenizações às seguradoras já alcançam quase R$ 4 bilhões, um valor que não estava previsto nos modelos de risco das seguradoras.
Esse aumento de sinistros não é isolado. Considerando o contexto global, a Swiss Re estimou que perdas seguradas relacionadas a desastres naturais totalizaram US$ 108 bilhões em 2023, com 76% delas causadas por eventos climáticos extremos. “A tragédia climática no Rio Grande do Sul é um exemplo claro de como as mudanças climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade de eventos extremos, impactando diretamente o setor de seguros”, afirma Bruna Araújo, Gerente de Finanças Sustentáveis da WayCarbon.
Ações das seguradoras para apoiar a transição para uma economia de baixo carbono
Para apoiar a transição para uma economia de baixo carbono, as seguradoras podem adotar diversas ações para aumentar a resiliência às mudanças climáticas, explorando novos mercados e fortalecendo a competitividade. “As seguradoras podem fortalecer o engajamento com os clientes, incentivando a adoção de práticas mais sustentáveis em setores correlatos. Por exemplo, oferecer condições mais favoráveis na contratação de seguros para empresas que adotem práticas que reduzam seu risco potencial ou que contribuam para a resiliência climática”, sugere Bruna.
Além disso, as seguradoras podem aumentar a participação em investimentos sustentáveis, como projetos de energia renovável ou biocombustíveis, e no mercado de títulos verdes, financiando projetos com impacto positivo no clima. Desenvolver novos produtos ou adaptar os existentes para cobrir necessidades emergentes, como seguros rurais aperfeiçoados ou seguros para veículos elétricos, também são estratégias relevantes.
Influência do aumento dos riscos climáticos na demanda por seguros
O aumento dos riscos climáticos está elevando a demanda por seguros, com pessoas e empresas buscando maior proteção contra danos patrimoniais ou pessoais. “Os riscos climáticos representam uma oportunidade para as seguradoras ao criarem novos mercados e produtos. Uma atuação proativa pode garantir a sustentabilidade do setor, aumentando a capacidade de oferecer a proteção necessária em um cenário de mudanças climáticas”, destaca Bruna.
Para se adaptar, as seguradoras estão aperfeiçoando a modelagem de riscos, incorporando mais tecnologia e conhecimento especializado para mensurar a probabilidade de eventos climáticos. Revisar produtos existentes e engajar clientes na adoção de medidas de proteção contra mudanças climáticas são algumas das estratégias adotadas, conforme analisa a especialista.
Desafios e oportunidades para o setor de seguros
Os desafios enfrentados pelo setor incluem o aumento das indenizações causadas por eventos climáticos, a vulnerabilidade da infraestrutura brasileira e a identificação e precificação correta dos riscos associados aos impactos climáticos. “As oportunidades surgem dos desafios, como o estímulo ao investimento em resiliência das infraestruturas brasileiras e o desenvolvimento de novos produtos, como seguros para grandes infraestruturas e seguros paramétricos”, afirma Bruna Araújo.
Na visão da executiva, as seguradoras que se anteciparem na estruturação de produtos que contemplem o aumento dos riscos climáticos terão uma vantagem competitiva em relação às que não avançarem nesse entendimento.
Impacto das políticas climáticas e a Circular nº 666 da Susep
A atuação do Estado é fundamental para o avanço da agenda climática e de sustentabilidade no setor de seguros. “Políticas como a Circular nº 666 da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e resoluções de órgãos como o Banco Central e a CVM estimulam uma maior responsabilidade ambiental, social e climática das empresas”, comenta a Gerente de Finanças Sustentáveis da WayCarbon.
A Circular nº 666 da Susep exige que as seguradoras incorporem as dimensões ESG em suas operações e estratégias, mensurem riscos climáticos e relatem suas ações na agenda ESG. “Espera-se um aumento na diversidade de produtos adequados à necessidade de maior proteção gerada pelos impactos das mudanças climáticas, com o investimento das seguradoras na mensuração e gestão de riscos climáticos”, explica Bruna.
Compartilhamento de boas práticas
É essencial que o setor de seguros acelere seus esforços para internalizar os conceitos e impactos das mudanças climáticas em suas operações e estratégias. “O setor deve se posicionar de forma proativa para garantir que o gap de proteção projetado com o avanço das mudanças climáticas seja endereçado, proporcionando proteção e resiliência para pessoas e negócios”, conclui Bruna Araújo.
O compartilhamento de boas práticas e o desenvolvimento de estratégias conjuntas para enfrentar os desafios climáticos são caminhos para tornar mais eficiente o aprendizado do setor. A inovação tecnológica e o conhecimento especializado podem melhorar significativamente a modelagem de riscos das carteiras das seguradoras, ajudando o setor a se adaptar de forma eficaz à nova realidade climática. Integrar a dimensão climática nos negócios de seguros não é apenas uma necessidade regulatória, mas uma oportunidade estratégica para construir um futuro mais resiliente e sustentável.