Com valorização acima de 60% em 2025, ativo ganha espaço na busca por proteção contra juros, dólar enfraquecido e tensões geopolíticas
O ouro ultrapassou os US$ 4.300 por onça na última semana, consolidando o maior avanço semanal desde a crise financeira de 2008. O movimento reflete uma combinação poderosa de fatores econômicos e geopolíticos: expectativa de cortes nas taxas de juros dos Estados Unidos, compras recordes de bancos centrais e o enfraquecimento estrutural do dólar após anos de políticas monetárias e fiscais expansionistas.
“Estamos diante de um momento em que os vetores se alinharam para sustentar o ouro em patamares elevados”, afirma Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos. “Os bancos centrais seguem comprando o metal de forma intensa, especialmente na Ásia e na Europa Oriental, enquanto o dólar vem perdendo tração como única âncora global. Esse duplo movimento tem sido o principal motor da valorização em 2025”, complementa.
A escalada também é alimentada por um prêmio de risco geopolítico mais alto, com conflitos persistentes na Ucrânia e no Oriente Médio, tensões no Indo-Pacífico e eleições polarizadas em grandes economias. “Boa parte desse ruído já está precificada, mas qualquer escalada aguda, como novas sanções ou choques de oferta de energia, reacende a busca por proteção”, explica Cunha.
Investidores voltam os olhos para o ouro
O aumento de consultas sobre ouro entre os clientes da iHUB mostra que o investidor brasileiro também quer entender como o metal se encaixa na sua estratégia. Segundo Cunha, a procura tem caráter mais consultivo e tático, voltado à diversificação e estabilidade, e não a apostas especulativas.
“Com juros mais baixos e maior incerteza global, o ouro voltou a ser um excelente diversificador macro e cambial. Faz sentido aumentar a exposição quando o dólar perde força, os juros reais caem e a carteira está muito concentrada em ativos de risco”, analisa.
Para os investidores locais, o câmbio é um componente decisivo. A valorização do dólar tende a amplificar os ganhos em reais, o que faz com que produtos sem hedge cambial, como a maioria dos ETFs brasileiros, capturem tanto o movimento do ouro quanto o do dólar. Já opções com hedge isolam o desempenho do metal, mas reduzem a volatilidade.
“Quem busca proteção total deve manter exposição ao ouro e ao dólar; quem quer uma exposição pura ao metal pode optar por veículos com hedge”, orienta o especialista.
Quanto investir e como começar
O ouro continua sendo, segundo Cunha, um ativo de proteção e diversificação, não de performance constante. Ele recomenda faixas de exposição proporcionais ao perfil de risco: 2% a 5% para conservadores, 5% a 10% para moderados e até 15% para investidores arrojados, sempre com acompanhamento próximo das condições macroeconômicas e da correlação com juros reais.
Para quem quer investir, os ETFs e BDRs de ouro são as opções mais acessíveis e eficientes. “São produtos que oferecem liquidez, praticidade e custos reduzidos. O ouro físico continua atraente para quem busca tangibilidade, mas traz despesas logísticas maiores. Já futuros e mineradoras são estratégias mais táticas e voláteis”, diz Cunha.
Ouro pode ir além dos US$ 5 mil?
Para o CEO da iHUB, um cenário de cortes agressivos de juros pelo Federal Reserve, aumento nas compras de bancos centrais e fragilidade persistente do dólar poderia levar o ouro a romper a barreira dos US$ 5 mil por onça. “Se houver um evento de estresse financeiro ou uma escalada geopolítica relevante, esse movimento pode se acelerar”, afirma.
Apesar disso, ele reforça que o metal não é um investimento para ganhos rápidos. “O ouro deve ser visto como um seguro contra a imprevisibilidade do mundo, um ativo que brilha mais quando o resto escurece”, conclui.