O 3º Workshop de Seguros para Jornalistas, promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), contou com um painel dedicado ao tema Infraestrutura e Resiliência Urbana, moderado por Esteves Colnago, Diretor de Relações Institucionais da CNseg. A mesa reuniu Augusto Braun, assessor especial da Presidência da Confederação Nacional dos Municípios (CNM); Karin Formigoni, diretora-geral de Resiliência de Negócios da Arcadis Brasil; e Manoel Renato, secretário-adjunto de Infraestrutura Social e Urbana da Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (SEPPI).
Municípios em constante emergência
Abrindo o debate, Augusto Braun (CNM) destacou que as cidades brasileiras não foram planejadas para lidar com o atual cenário de eventos climáticos extremos, citando infraestrutura deficiente, excesso de áreas asfaltadas, arborização antiga e redes elétricas expostas.
Segundo levantamento da CNM, entre 2013 e 2023 os municípios emitiram mais de 59 mil decretos de estado de emergência relacionados a fenômenos climáticos, média de mais de um decreto por cidade ao ano. “Não é mais uma situação excepcional, virou o novo normal”, afirmou Braun. As secas representaram 41% desses decretos e já não se restringem ao Nordeste, alcançando também outras regiões do país.
Infraestrutura resiliente e papel do setor privado
Representando o governo federal, Manoel Renato (SEPPI) destacou que o Brasil investe apenas 1,87% do PIB em infraestrutura, um dos índices mais baixos entre países do BRICS. Para comparação, China investe 8%, Índia 5% e África do Sul 7%.
Ele alertou que a falta de investimentos condena futuras gerações a uma infraestrutura defasada e defendeu a necessidade de atrair capital privado para viabilizar obras estruturantes. “Se não conseguimos nem financiar a infraestrutura tradicional, como vamos avançar para a infraestrutura resiliente, que é ainda mais cara?”, questionou.
Seguro climático como ferramenta de resposta
Outro ponto levantado por Braun foi a criação de um seguro climático para municípios, que poderia garantir acesso rápido a recursos em situações de desastre, reduzindo a dependência da liberação lenta de verbas estaduais e federais. A proposta está em estudo pela CNM em parceria com a CNseg.
Resiliência urbana como investimento estratégico
Na visão de Karin Formigoni (Arcadis Brasil), a adaptação precisa ser tratada como prioridade, e não apenas a mitigação das emissões. Ela lembrou que 2024 foi um ano sem precedentes em perdas econômicas por desastres naturais, com aumento de 27% em relação à média da década.
No Brasil, episódios como as enchentes no Rio Grande do Sul escancararam a fragilidade urbana. “Um investimento em infraestrutura resiliente pode custar mais no início, mas reduz em até dez vezes os gastos de reconstrução pós-desastre”, destacou. Karin citou estudos da Comissão Global de Adaptação, que mostram que cada US$ 1,8 trilhão investido em adaptação até 2030 pode gerar US$ 7,1 trilhões em benefícios.
Neste sentido, o painel deixou claro que o enfrentamento da crise climática no contexto urbano exige integração entre municípios, União, setor privado e seguradoras. A combinação de planejamento urbano, inovação tecnológica, financiamento sustentável e mecanismos como o seguro climático é vista como essencial para preparar as cidades brasileiras diante dos desafios de um futuro cada vez mais marcado por eventos extremos.