Com pesquisas apontando retorno de até 100% sobre investimentos em bem-estar, associação defende que o tema saiu da pauta de RH para a mesa de estratégia
Enquanto o Brasil atinge o recorde histórico de quase meio milhão de afastamentos do trabalho por transtornos mentais em um único ano, um movimento corporativo ganha força no país: tratar a saúde mental como pilar estratégico de negócio, e não apenas como uma forma de prevenir o burnout. Em pleno Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, dados de mercado mostram que, além da conscientização, o retorno sobre o investimento (ROI) tem sido o principal motor para a criação de ambientes psicologicamente seguros e focados na gestão emocional.
Um estudo da Aon com 929 empresas no Brasil revela que 75,2% das organizações já oferecem programas de saúde mental, um indicativo claro de que o tema ganhou tração definitiva. O movimento é respaldado por um ROI cada vez mais evidente: uma pesquisa de 2025 da Wellhub (antiga Gympass) aponta que 99% das empresas brasileiras que medem o ROI de seus programas de bem-estar observam um retorno positivo, com quase dois terços relatando um ganho de no mínimo R$ 2 para cada R$ 1 investido.
Esses números mostram que investir na saúde emocional dos colaboradores é uma decisão de negócio inteligente e mensurável. O custo da inação, por outro lado, nunca esteve tão alto. Segundo dados do Ministério da Previdência Social divulgados em março de 2025, o país registrou quase 500 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2024, um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
Nesse cenário, o papel do RH se torna ainda mais central. “Precisamos superar a ideia de que cuidar da saúde mental é apenas reagir ao burnout. O futuro das organizações passa por um olhar mais humano e integrado, em que o acolhimento, a segurança psicológica e a gestão emocional sejam incorporados à cultura”, afirma Eliane Aere, presidente da ABRH-SP. “É papel do RH ajudar a desenhar esse ambiente saudável, que valoriza a diversidade, fortalece vínculos e amplia a confiança. Empresas que entenderem isso estarão mais preparadas para reter talentos e inovar”, completa.
A urgência é confirmada pelos próprios colaboradores. A pesquisa “State of the Global Workplace 2024“, do Instituto Gallup, coloca os trabalhadores brasileiros entre os mais estressados (46%) da América Latina. Além disso, um levantamento da Infojobs aponta que 9 em cada 10 profissionais brasileiros considerariam trocar de emprego por uma empresa que oferecesse maior suporte à saúde mental.
A transição do discurso para a prática já é visível no mercado brasileiro. Entre as iniciativas que ganham destaque estão a criação de “círculos de escuta” para normalizar conversas sobre saúde mental, a inclusão de métricas de bem-estar nos indicadores de performance da liderança (KPIs e OKRs) e a crescente capacitação de gestores para transformar erros em oportunidades de aprendizado, fortalecendo a segurança psicológica das equipes.
A ABRH-SP defende que o Setembro Amarelo seja um ponto de reflexão para que as organizações repensem suas políticas de cuidado de forma contínua. Mais do que ações pontuais, o momento exige um compromisso genuíno para transformar a cultura organizacional em um espaço de respeito e suporte mútuo — uma exigência não só para a saúde dos colaboradores, mas para a própria perenidade dos negócios.