Levantamento com 3.936 perguntas feitas na plataforma entre 2013 e 2025 mostra que a maioria das dúvidas surge apenas depois da descoberta de nódulos ou dores, e não para prevenção
O câncer de mama é o segundo tipo mais comum entre as mulheres no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). E os números podem ser ainda mais alarmantes: um estudo recente da Agência Internacional para Pesquisa de Câncer (IARC) aponta que os casos da doença podem aumentar 38% e as mortes 68% até 2050. Diante desse cenário, a prevenção e o diagnóstico precoce são as principais armas para mudar essa estatística.
Em meio ao Outubro Rosa, movimento global de conscientização sobre a doença, a Doctoralia, plataforma que conecta pacientes a profissionais de saúde, analisou 3.936 perguntas feitas por mulheres na seção Pergunte ao Especialista entre 2013 e 2025. O levantamento identificou que 90% delas só buscam informações após detectarem algum sintoma, como nódulos ou dores. Apenas 10% das perguntas são sobre prevenção.
Entre as principais preocupações das mulheres estão: diagnóstico (44% das perguntas), sintomas (32%), medos e ansiedade (25%) e tratamento (26%). A palavra “dor” aparece em 29% dos questionamentos, seguida por “normal” (23%) – indicando uma busca por tranquilização – e “nódulo” (11,7%).
Para Flávia Soccol, Head de Patient Care da Doctoralia, os dados revelam uma importante oportunidade para mudança de comportamento. “Vemos que ainda grande parte das mulheres chegam à plataforma em busca de um profissional ou informação, após encontrarem algo incomum no corpo. Isso mostra que precisamos migrar de um modelo reativo para um preventivo, no qual a educação em saúde e a conscientização sobre os exames de rotina sejam prioridade. A informação qualificada e o acesso a profissionais são fundamentais para reduzir o medo e incentivar o autocuidado constante, não apenas em outubro”, afirma.
Em uma análise comparativa do perfil geral das dúvidas, as mulheres priorizam confirmação diagnóstica (34%) seguida de interpretação de sintomas (32%). Diferente dos homens, a abordagem feminina é mais diagnóstico-centrada e emocionalmente expressa, buscando tanto informação médica quanto acolhimento emocional.
A mastologista Thais Businaro reforça a importância do diagnóstico precoce. “Quando a paciente chega com uma dúvida sobre um nódulo ou dor, já estamos em uma fase de alerta. O ideal é que a conscientização aconteça antes, com consultas regulares e exames preventivos. A mamografia, por exemplo, é essencial para detectar tumores em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores”, explica.
Outro dado curioso da pesquisa envolve o comportamento com as campanhas de conscientização. Embora outubro seja o mês oficial de alerta sobre a doença, novembro registra 23% mais perguntas sobre câncer de mama na plataforma. Isso sugere que as campanhas geram conscientização em outubro, mas a conversão em dúvidas e busca por ajuda acontece apenas no mês seguinte.
A mastologista ressalta a necessidade de manter o tema em evidência além do Outubro Rosa. “As campanhas são importantes para dar visibilidade ao tema, mas o cuidado com a saúde das mamas deve ser contínuo. É preocupante ver que muitas mulheres só buscam ajuda quando já identificaram algo errado. Precisamos desmistificar a ideia de que só devemos procurar um médico quando há sintomas. O acompanhamento regular salva vidas”, destaca Dra. Thais.
