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Pesquisa revela a visão de colaboradores sobre a cultura organizacional das empresas e ações de saúde mental

Carine Roos, CEO e fundadora da Newa / Foto: Paulo Liebert / Divulgação
Carine Roos, CEO e fundadora da Newa / Foto: Paulo Liebert / Divulgação

28% das mulheres acreditam que a carga de trabalho afeta negativamente a saúde mental, contra apenas 16,9% dos homens

Homens e mulheres enxergam a cultura organizacional e ações referentes à saúde mental da equipe de formas diferentes. É o que diz a pesquisa realizada pela Newa, consultoria de impacto social, em parceria com a Opinion Box, empresa de tecnologia referência em pesquisa de mercado, e a AGC, consultoria em cultura, diversidade, equidade e comunicação. O estudo tem o objetivo de desmistificar os temas e ajudar organizações a criarem um ambiente seguro e de processos. Ainda de acordo com as informações ouvidas, as pessoas trabalhadoras que se autodeclaram brancas, pretas e pardas também têm perspectivas diferentes acerca da temática.

“Os dados mostram que, enquanto os homens tendem a enxergar a cultura organizacional de forma mais positiva no que diz respeito à saúde mental, muitos ainda se veem presos aos estereótipos que associam buscar apoio emocional à fraqueza. O machismo estrutural reforça a ideia de que homens devem ser sempre fortes, não demonstrar vulnerabilidade e evitar falar sobre suas emoções, o que dificulta o acesso ao cuidado com a saúde mental. Romper com esses estereótipos e incluir os homens de forma mais ativa nessas discussões é essencial para construir ambientes corporativos mais saudáveis e equilibrados para todas as pessoas”, ressalta Carine Roos, mestra em Gênero e fundadora e CEO da Newa.

Apoio à saúde mental x equilíbrio entre vida pessoal e profissional

Para 25,9% dos profissionais, a cultura das organizações onde trabalham não oferece nenhum apoio em relação à saúde mental de seus colaboradores. “No dia a dia vemos o que esse estudo comprova: uma série de desafios fundamentais que as mulheres enfrentam no ambiente corporativo. Para mulheres negras, esses obstáculos são ainda mais complexos, envolvendo a sobreposição de discriminação de gênero e raça. Elas frequentemente sofrem com a falta de reconhecimento e valorização, não sendo vistas ou respeitadas em sua totalidade como profissionais e indivíduos. A falta de apoio por parte de líderes agrava essa situação, criando um ambiente em que suas necessidades emocionais e profissionais são frequentemente ignoradas”, interpreta Carine.

Ainda para a especialista, isso resulta em uma pressão desproporcional, particularmente sobre as mães negras, que carregam o peso de expectativas profissionais e pessoais sem o devido suporte. “Elas enfrentam a escassez de oportunidades de promoção e têm acesso limitado a recursos adequados de saúde mental, tornando ainda mais difícil conciliar suas várias responsabilidades”, complementa.

O estudo também revela uma disparidade significativa de percepção entre os gêneros. Enquanto 31,9% dos homens acreditam que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é respeitado em suas organizações, apenas 24,2% das mulheres compartilham dessa visão.

Ainda de acordo com Carine Roos, um dos principais fatores que contribuem para esse cenário é a chamada ‘tripla jornada’, na qual as mulheres se veem obrigadas a dividir seu tempo e energia entre as demandas profissionais e as múltiplas responsabilidades de cuidado em casa, com familiares, pessoas doentes, estudos ou participação em atividades comunitárias. A pesquisa revela que 31,7% das mulheres entrevistadas se consideram as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas, enquanto apenas 25% dos homens afirmam contribuir ocasionalmente com essas atividades. Esse desequilíbrio não apenas aumenta a carga mental sobre as mulheres, como reflete a desigualdade de gênero nas expectativas sociais e corporativas sobre quem deve assumir as responsabilidades de cuidado.

Os dados também apontam uma tendência preocupante entre os homens: 31,3% afirmaram que nunca buscaram nem considerariam procurar ajuda psicológica para lidar com questões relacionadas ao trabalho. Além disso, 78,1% relataram que nunca tiraram licença médica por motivos de saúde mental, afirmando que nunca sentiram necessidade. “A resistência em buscar apoio psicológico e a negação da necessidade de licença médica mostram a urgência de desconstruir estigmas e criar um ambiente mais acolhedor, onde o cuidado com a mente seja valorizado da mesma forma que o cuidado com o corpo”, comenta Carine.

Desafios e obstáculos no dia a dia corporativo

As mulheres percebem mais obstáculos no ambiente de trabalho do que os homens. De acordo com a pesquisa, 26,7% delas afirmaram que há uma diferença significativa nos desafios enfrentados por homens e mulheres no ambiente profissional, enquanto apenas 15,6% deles concordaram com essa percepção. Essa disparidade pode ser atribuída a fatores como machismo e racismo institucionais, discriminação, desigualdade salarial, além da falta de flexibilidade e de benefícios que muitas vezes não são pensados para atender às necessidades específicas das mulheres.

A CEO da Newa também faz a leitura desses números. Para ela, o público feminino negro enfrenta uma sobreposição da discriminação de gênero e raça, acompanhada da preferência por homens brancos em posições de liderança. “A falta de oportunidades de promoção e o favorecimento de homens brancos também são recorrentes, assim como a ausência de informações e de acesso a suporte adequado para a saúde mental. Esses obstáculos reforçam a necessidade urgente de mudanças estruturais no ambiente corporativo para promover uma verdadeira equidade”, pontua.

Ao analisar como a carga de trabalho afeta a saúde mental, 28% das mulheres relataram um impacto negativo, em contraste com apenas 16,9% dos homens. Entre pessoas pretas e pardas, que relataram um impacto muito negativo, essa percepção também varia: 13,5% afirmaram que a jornada de trabalho afeta sua saúde mental de maneira muito negativa, comparado a 11.4% entre pessoas brancas. Esses dados revelam que o impacto da carga de trabalho não é apenas uma questão de gênero, mas também de raça, refletindo as desigualdades estruturais que influenciam diretamente o bem-estar e a qualidade de vida no ambiente corporativo.

Comunicação interna e modelo de trabalho também influenciam

No que diz respeito à avaliação da comunicação interna das empresas sobre questões de saúde mental, 35% dos homens a classificaram como “boa”, enquanto 29,2% das mulheres se mostraram menos satisfeitas, com a maioria descrevendo a comunicação como “regular”.

Em relação ao modelo de trabalho, os dados mostram que 34,8% dos participantes trabalham pelo menos um dia da semana em casa, sendo que, dessas pessoas, 57,14% são brancas e apenas 36,61% são negras. “Essa discrepância indica que pessoas negras têm menos acesso a políticas de home office, o que pode estar relacionado ao fato de que estão mais concentradas em funções operacionais, que exigem presença física”, reitera Carine.

Além disso, 83,04% das pessoas que trabalham remotamente avaliam o formato como positivo ou muito positivo, destacando a importância dessas políticas para o bem-estar dos trabalhadores. Entre os que aprovam o home office, 49,1% são mulheres e 33,9% são homens, o que reforça como a flexibilidade no trabalho é crucial para as mulheres, que, em sua maioria, ainda assumem a maior parte das responsabilidades de cuidado. Esses números evidenciam a relevância de políticas de flexibilidade no trabalho, tanto para melhorar a qualidade de vida das mulheres, quanto para garantir maior inclusão de pessoas negras em cargos estratégicos, superando barreiras de discriminação que frequentemente limitam seu acesso a oportunidades que oferecem trabalho remoto.

*Sobre a amostra: Pesquisa realizada pela Newa em parceria com a Opinion Box e AGC, entre 05 e 13 de agosto de 2024, com a participação de 321 pessoas de todo o Brasil com idade a partir de 18 anos. Margem de erro de 5,5 p.p.

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