Relatório da Sociedade Americana do Câncer (ACS) aponta mudança no perfil da doença, com crescimento significativo de casos em mulheres abaixo dos 50 anos; especialistas alertam para necessidade de maior atenção à prevenção
Uma análise divulgada nesta quinta-feira (16) pela Sociedade Americana do Câncer (ACS, sigla do inglês American Cancer Society), revelou uma tendência preocupante: o câncer está afetando cada vez mais mulheres jovens e de meia-idade. O estudo, que projeta mais de 2 milhões de novos casos da doença em 2025 nos Estados Unidos, indica uma mudança significativa no perfil dos pacientes, especialmente em relação ao câncer de mama.
De acordo com o relatório, seis dos dez tipos mais comuns de câncer na população norte-americana estão em ascensão, com destaque para os cânceres de mama e colo de útero. Entre 2012 e 2021, a incidência do câncer de mama aumentou cerca de 1% ao ano na população geral, mas o crescimento foi ainda mais expressivo – 1,4% ao ano – entre mulheres com menos de 50 anos.
“O que mais chama atenção neste relatório é a mudança no perfil da doença. O câncer, que tradicionalmente era visto como uma doença do envelhecimento e predominantemente masculina, está afetando cada vez mais mulheres jovens e em idade reprodutiva”, afirma o oncologista Daniel Gimenes, da Oncoclínicas.
Novos padrões, novos riscos
Os pesquisadores apontam diversos fatores que podem estar contribuindo para esse aumento, incluindo mudanças nos padrões de fertilidade e estilo de vida. O adiamento da maternidade ou a decisão de não ter filhos, por exemplo, pode reduzir o efeito protetor que a gravidez e a amamentação exercem contra o câncer de mama.
Outro dado alarmante revelado pela pesquisa é que, desde 2021, a incidência de câncer de pulmão em mulheres com menos de 65 anos superou a dos homens na mesma faixa etária: 15,7 casos por 100.000 mulheres, contra 15,4 por 100.000 homens.
“Estamos observando uma confluência de fatores que podem explicar esse aumento. As mudanças no estilo de vida das mulheres nas últimas décadas – incluindo o adiamento da maternidade, o aumento do consumo de álcool e alterações nos padrões alimentares – parecem estar contribuindo para este cenário”, explica Gimenes.
Cenário brasileiro
No Brasil, a situação merece atenção especial devido às características específicas da população e do sistema de saúde. “Nossa população é relativamente jovem em comparação com países desenvolvidos, e enfrentamos desafios adicionais como as disparidades regionais no acesso ao diagnóstico precoce e tratamento”, destaca o oncologista.
A pesquisa também revelou disparidades raciais significativas, com populações negras e nativas apresentando taxas de mortalidade duas a três vezes maiores que a população branca para alguns tipos de câncer – uma realidade que também encontra paralelos no contexto brasileiro.
Prevenção e diagnóstico precoce
Apesar do cenário preocupante, a ACS ressalta que aproximadamente 40% dos casos de câncer podem ser evitados com mudanças no estilo de vida. “Manter um peso saudável, praticar atividade física regularmente, moderar o consumo de álcool e não fumar são medidas que podem reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença”, orienta Gimenes.
O diagnóstico precoce também é fundamental. “O aumento de casos em mulheres jovens reforça a importância da realização de exames periódicos e da atenção aos sinais do corpo. Mesmo antes da idade recomendada para mamografia de rotina, é imperativo que as mulheres contem com acompanhamento médico e não deixem de buscar aconselhamento especializado em caso sinal de alerta. Toda e qualquer alteração percebida deve ser investigada por um profissional de saúde”, alerta o médico.
Perspectivas e tratamento
Apesar do aumento nos casos, os avanços no tratamento trazem perspectivas positivas. “Temos hoje tratamentos muito mais eficazes e personalizados. O diagnóstico precoce, aliado às novas terapias disponíveis, permite que muitas pacientes mantenham sua qualidade de vida durante e após o tratamento”, ressalta Gimenes.
No entanto, o especialista enfatiza a necessidade de adaptar os sistemas de saúde a esta nova realidade: “É fundamental que os sistemas público e privado de saúde se preparem para essa nova realidade, com estratégias que incluam desde a conscientização até o acesso facilitado a exames preventivos, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país”.
Confira a seguir os principais dados trazidos pelo relatório anual da ACS:
Projeções gerais para os EUA
- 2.041.910 novos casos de câncer previstos para 2025
- 618.120 mortes esperadas
- Aproximadamente 500 mortes diárias relacionadas ao tabagismo
Tendências por tipo de câncer
- Câncer de mama: aumento de 1% ao ano (2012-2021), com crescimento de 1,4% em mulheres abaixo dos 50 anos
- Câncer de pulmão: pela primeira vez, taxa em mulheres jovens (15,7/100 mil) supera homens (15,4/100 mil)
- Outros tipos em crescimento: colo de útero, colorretal (abaixo de 65 anos), próstata, melanoma e pâncreas
Disparidades raciais
- Mortalidade duas a três vezes maior entre populações negras e nativas americanas
- Aumento mais acentuado entre mulheres hispânicas, asiáticas e das ilhas do Pacífico
Principais fatores de risco
- Mudanças nos padrões de fertilidade (adiamento da maternidade)
- Estilo de vida (aumento do consumo de álcool, sedentarismo)
- Fatores biológicos (exposição prolongada ao estrogênio, menarca precoce)
Medidas preventivas recomendadas
- Não fumar
- Manter peso saudável
- Moderar consumo de álcool
- Manter dieta equilibrada
- Praticar atividade física regular
- Realizar exames preventivos