Câncer é a principal causa de morte de crianças e jovens entre 1 e 19 anos; amputação ainda é saída para cerca de 30% dos casos, segundo Inca
Letícia Silvério tinha cinco anos quando descobriu que tinha osteossarcoma, o tumor maligno mais frequente na infância e na adolescência segundo o Instituto Nacional do Câncer, o Inca. Dos cinco aos 12 anos, passou por diversas cirurgias, incluindo a retirada do joelho. “Eu sempre tive certeza que a amputação seria a solução para o meu problema, até que aos 12 anos eu decidi passar pelo processo como forma de melhorar minha mobilidade e autonomia”, conta ela, que hoje tem 30 anos. A história de Letícia ainda é comum, e a amputação, apesar de ser evitada ao máximo, ainda é a solução para 30% dos casos de câncer em crianças e adolescentes, também segundo o Inca. Hoje, Letícia leva uma vida sem nenhum tipo de limitação e utiliza uma prótese que a ajuda nas tarefas diárias.
A história dela é uma entre tantas histórias de crianças acometidas por câncer. E no dia 15 de fevereiro, o mundo volta sua atenção para o Dia Mundial Contra o Câncer Infantil, data que busca conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce, tratamento adequado e reabilitação de crianças e adolescentes que enfrentam a doença. Para enfrentar esses momentos difíceis que sucedem uma amputação, o uso de próteses adequadas é fundamental. “Quando a gente é criança não tem ainda muita noção da gravidade do problema, mas ter a possibilidade de utilizar uma prótese traz de volta a autonomia, a possibilidade de correr, brincar, enfim, ter uma vida normal, sem limitações”, conta ela.
No Brasil, uma parceria entre a Ottobock, líder mundial em tecnologia de próteses, e a TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) tem sido um exemplo de inovação e cuidado humanizado, garantindo qualidade de vida para jovens que passaram por amputações em decorrência do câncer. A parceria surgiu em 2020, quando a TUCCA identificou a necessidade de oferecer próteses mais avançadas e um acompanhamento especializado para crianças e adolescentes amputados. Antes disso, os pacientes tinham acesso apenas a próteses convencionais pelo sistema público, que muitas vezes eram menos ergonômicas e mais pesadas, dificultando sua adaptação.
“A parceria nasceu da necessidade de oferecer não apenas tecnologia, mas também acolhimento e qualidade de vida. Muitas crianças estavam em tratamento oncológico e precisavam de soluções que respeitassem suas limitações, mas que também as incentivassem a ter uma vida ativa”, explica Luiz Henrique Nicolau, fisioterapeuta da TUCCA, que atua em parceria com o Hospital Santa Marcelina há sete anos.
Tecnologia que transforma vidas
A partir do encaminhamento dos pacientes pela TUCCA, os jovens passam por uma avaliação na Clínica Ottobock Care, onde uma equipe especializada confecciona próteses sob medida, utilizando materiais mais leves e resistentes para garantir conforto e mobilidade.
“Nosso processo na Clínica Ottobock Care inclui treinamento pré-protético, confecção da prótese com encaixe provisório e posteriormente o definitivo, e um alinhamento preciso da prótese, garantindo que o paciente tenha uma reabilitação adequada. Isso permite um retorno mais eficiente às atividades diárias e maior liberdade e autonomia às crianças e adolescentes”, destaca Maria Laura Rezende Pucciarelli, coordenadora de fisioterapia da rede de clínicas Ottobock Care LATAM.
Entre os avanços tecnológicos que fazem a diferença na vida desses pacientes estão os joelhos protéticos eletrônicos, as mãos biônicas e os materiais leves, que tornam o uso das próteses mais intuitivo e confortável. “Mais do que oferecer tecnologia, entregamos autonomia e esperança. Ver essas crianças voltarem a andar, brincar e retomar suas vidas é um verdadeiro renascimento para elas e suas famílias”, complementa Luiz.
Histórias que inspiram
Stephanie foi diagnosticada com osteossarcoma aos 14 anos. “Na época, eu não tinha noção do quão grave era a situação. Sempre tive uma certeza muito forte de que daria tudo certo. Minha família foi essencial nesse período, minha mãe também estava em tratamento de câncer e nos apoiamos muito. Comecei a namorar durante o tratamento e isso também me fez muito bem”, conta. Aos 17 anos, Stephanie passou pelo processo de amputação, após utilizar uma endoprótese que não atendeu suas necessidades. “A amputação, no meu contexto, foi uma coisa boa. Eu parei de sentir dores e limitações. Me adaptei rapidamente à prótese e pude voltar a viver de forma independente”, explica.
O fisioterapeuta da TUCCA também coleciona histórias inspiradoras de crianças que vêm sendo assistidas pela parceria. “Tivemos um paciente em fase terminal cujo maior desejo era voltar a andar. Ele não tinha mais muito tempo de vida, mas isso não nos impediu de realizar esse sonho. Junto com a Ottobock, preparamos uma prótese especialmente para ele. E ele andou. Correu. Sorriu. Foi um dos momentos mais felizes da sua vida após a doença. Poucos dias depois, ele partiu, mas partiu feliz. É sobre isso. Proporcionar momentos de felicidade não apenas para o paciente, mas para sua família, para nós da TUCCA e, temos certeza, também para a Ottobock. Porque, no fim, não é só sobre tecnologia, é sobre transformar vidas”, conta Luiz.
Câncer infantil: um desafio que exige união
A TUCCA atua há mais de 25 anos no tratamento de crianças e adolescentes com câncer, acreditando que, quando um jovem recebe o diagnóstico, toda a família é afetada. “Nosso compromisso não é apenas com o tratamento, mas com a dignidade e a qualidade de vida desses pacientes. A parceria com a Ottobock reforça esse propósito ao permitir que crianças e adolescentes tenham acesso à reabilitação de ponta, sem custos para suas famílias”, finaliza Luiz.