Papéis da mineradora brasileira possuem maior peso na composição do Ibovespa, com 14,1603%
A antiga Vale do Rio Doce, ou simplesmente “Vale”, é uma mineradora brasileira com alcance internacional, sendo uma das maiores do segmento no mundo, A Vale recebe o título de maior produtora do Brasil de minério de ferro, de pelotas e de níquel. Além disso, a companhia produz cobre, cobalto e outros metais preciosos.
De capital privado, a empresa é listada na bolsa de valores e caracterizada como corporation, já que tem seu capital diluído e nenhum acionista detém mais de 10% das ações. Atualmente, cerca de 73,88% das ações da mineradora estão com investidores minoritários; o restante do quadro acionário da companhia é formado pela Previ (Caixa de previdência dos funcionários do Banco do Brasil), com 8,7% dos papéis; seguido da empresa japonesa Mitsui, com 6,3%; logo após a Blackrock, empresa americana de investimentos, e por último a própria tesouraria da Vale, com 5,3% das ações.
Ademais, os papéis da Vale (VALE3) possuem maior peso na composição do Ibovespa, com 14,1603% de ações no índice. Nesse sentido, o desempenho das ações da mineradora influencia no movimento do Ibovespa, puxando o do índice para cima ou para baixo.
“Nos últimos seis meses, o mercado assistiu a uma considerável volatilidade nas ações da Vale. Os papéis saíram da casa dos R$62,96 em agosto do ano passado, para algo em torno de R$66,50 em fevereiro. Essa variação no preço é derivado de diversos fatores, como por exemplo: Balanço da empresa, compras e negociações e fatores políticos”, comenta Lucas Sharau, sócio partnership da iHUB Investimentos.
A influência de falas e decisões políticas
Em entrevista realizada no último dia 26 de fevereiro, à Rede TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que todas as empresas brasileiras devem seguir o pensamento do governo para o desenvolvimento do país.
“A Vale não pode pensar que ela é a dona do Brasil. Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então, o que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos”, afirmou o chefe do executivo.
A fala do presidente esbarra diretamente no plano do governo de colocar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda e aliado de Lula, na direção da mineradora. O mandato do atual CEO da Vale, Eduardo Bartolomeu, se encerra em maio e o governo sinalizou a tentativa de inserir algum aliado no principal cargo do conselho administrativo da companhia.
A gestão Lula já indicou Dario Durigan, secretário-executivo no Ministério da Fazenda, para o Conselho Fiscal da companhia. O órgão tem menos poderes, sendo responsável pela supervisão de atos e contratação de auditorias independentes da Vale.
“A possível indicação de Mantega havia sido muito mal recepcionada pelo mercado; e assim foi com a fala de Lula sobre o controle e diretrizes da companhia. Logo após o posicionamento, vimos uma leve queda de 1,30% ou 1,40%. Esse resultado vem de encontro com o entendimento que o mercado tem sobre essa fala, um entendimento de contrariedade e aversão a uma possível controladoria ligada ou alinhada com discursos políticos. No mercado financeiro, o preço da empresa é pautado principalmente em relação às expectativas que se tem sobre o negócio, sobre a lucratividade do negócio, sobre a sua gestão e sobre o seu futuro”, diz Sharau.
Além disso, a recente renúncia de José Penido, conselheiro da companhia, também abalou a situação da VALE3. O executivo abandonou o cargo denunciando, através de uma carta, a escolha de um novo nome para a gestão principal da empresa. O documento endereçado ao presidente do conselho administração, Daniel Stieler, mostrou: “Apesar de respeitar as decisões colegiadas, a meu ver o atual processo de sucessão do CEO da Vale tem sido conduzido de forma manipulada, não atende aos melhores interesses da empresa e sofre evidente e nefasta influência política”, afirmou Penido na carta.
Movimentações e negociações da empresa surtem efeito na ação
A Vale, listada em diversas bolsas ao redor do mundo, mostra-se como um ativo de relevância internacional. Ao considerar o período de 12 meses, a empresa apresentou um dividend yield de 8,89%, configurando-se como um ponto de interesse para investidores em busca de rendimentos periódicos. No entanto, o desempenho no período também revelou uma depreciação de 13,42% no valor da ação, o que demanda uma análise cuidadosa da relação risco-retorno para investidores de diferentes perfis.
“A Vale é uma empresa que já está bastante descontada, devido a uma série de fatores que a levaram para isso. Ela é uma empresa que deveria valer um pouco mais, as casas de análise hoje precificam um preço justo para a Vale na ordem de R$90,00. Há espaço para a empresa, potencial de valorização para o negócio. A Vale tende a pagar bons dividendos, nos últimos 12 meses pagou cerca de 10%, 9,5%. E é uma empresa que tem potencial de valorização”, fala o assessor de investimentos.
O balanço da Vale vem sendo detalhadamente examinado, sobretudo em função da dependência da mineradora em relação ao mercado chinês, um dos seus principais consumidores. As discussões se intensificam em torno da capacidade de a economia chinesa manter sua resiliência diante de desafios econômicos e sanitários que impactam globalmente. Além disso, negociações como a realizada com a empresa Anglo American, impactam na variação do preço da ação.
“Devido à crescente demanda pelo minério de ferro no mundo, assim como as perspectivas de queda de juros que trarão a necessidade de minério de ferro para construção civil, para siderurgia, para a indústria automobilística, há uma necessidade latente e esperada de consumo de minério de ferro para os próximos anos e por isso a Vale se posicionando estrategicamente”, finaliza Lucas.