Quando a conta não fecha: como a falta de automação ameaça a sobrevivência dos hospitais

Philipe Nascimento, CTO de ERPIN da Weega Technologies
Philipe Nascimento, CTO de ERPIN da Weega Technologies

Por Philipe Nascimento, CTO de ERP/IN da Weega Technologies

Sempre acompanhei de perto as dores das instituições hospitalares. Uma das mais recorrentes era o processamento manual de contas médicas. Um trabalho extremamente técnico, demorado, sujeito a erros e que, quando falha, gera glosas, ou seja, valores que são deixados de receber por esses estabelecimentos. Isso compromete diretamente o fluxo de caixa e, em alguns casos, ameaça a própria operação de um hospital.

E posso afirmar: é justamente no setor financeiro que se encontra um dos maiores gargalos da saúde brasileira.

Foi a partir desse desafio que desenvolvemos o Yantra BOT, uma solução de automação capaz de realizar a validação, o processamento e o fechamento de contas médicas em tempo recorde. Desde seu lançamento, em julho de 2023, o Yantra BOT já processou mais de R$ 174 milhões em contas hospitalares, acelerando o faturamento de aproximadamente R$ 173 milhões só nos últimos dezessete meses. Em números absolutos, foram mais de 412 mil contas processadas, com um nível de precisão que surpreende até os gestores mais céticos.

Para se ter uma ideia do impacto, processos que antes levavam até 21 dias para serem concluídos agora são finalizados em pouco mais de 14 horas. Uma conta médica que, manualmente, demandava cerca de 10 minutos para ser fechada, e pode deixar de ser processada em menos de 1 minuto com o apoio da automação.

Não se trata apenas de ganho de velocidade: a automação reduz falhas humanas, permite ajustes contínuos nos processos ainda não automatizados, já que a ferramenta é constantemente atualizada conforme as necessidades, e, acima de tudo, garante maior previsibilidade financeira, um ativo indispensável para a sustentabilidade de qualquer hospital

Os dados da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) mostram que, em 2024, os hospitais associados deixaram de receber R$ 5,8 bilhões em serviços prestados que foram glosados pelas operadoras de saúde. Isso representa 15,89% do faturamento previsto para o ano, um aumento de quatro pontos percentuais em relação a 2023. Mais preocupante ainda é que apenas 1,96% dessas glosas foram consideradas justificáveis, indicando que a grande maioria poderia ter sido evitada com processos mais eficientes.

Um exemplo do impacto dessa transformação é o estudo de caso apresentado no Healthcare Innovation Summit 2025: um hospital de médio porte, com cerca de 300 leitos, que implantou tecnologia de automação no setor de faturamento conseguiu reduzir as glosas em 60% nos primeiros quatro meses, elevando sua receita líquida em aproximadamente R$ 4 milhões nesse período. O dado reforça o potencial da automação como estratégia de eficiência,independentemente da solução escolhida, e comprova os benefícios práticos de se adotar processos automatizados em larga escala.

Esse valor pode representar ganhos significativos para o setor hospitalar e para a população, ao viabilizar um atendimento mais eficiente e humanizado, por meio da contratação de profissionais qualificados e do investimento em novas tecnologias.

Isso sem contar a questão da competitividade no mercado, já que o segmento enfrenta desafios como elevação dos custos operacionais e maior rigor regulatório. Dados do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostram que, só em 2023, os custos assistenciais subiram 10,8%, superando a inflação acumulada no período. Além disso, segundo levantamento do Banco Mundial, o Brasil investe cerca de 9,6% do PIB em saúde, mas enfrenta dificuldades em transformar esse volume de recursos em eficiência e qualidade na ponta.

E ainda, de acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), o Índice de Variação do Custo Médico-Hospitalar (VCMH/IESS) registrou um aumento de 12,7% nos 12 meses encerrados em setembro de 2023. Esse índice reflete o crescimento das despesas assistenciais per capita das operadoras de planos de saúde. Embora os dados mais recentes disponíveis sejam de 2023, eles indicam uma tendência de alta nos custos assistenciais.

Portanto, não há como dissociar a qualidade do atendimento do equilíbrio financeiro. Afinal, não existe cuidado com o paciente sem um hospital financeiramente saudável.

Soluções de automação como o Yantra BOT, além de acelerar o processamento, oferecem uma visão clara e estratégica do faturamento hospitalar. Ela identifica falhas recorrentes, como a realização de exames sem autorização prévia, evitando que contas fiquem paradas por semanas ou mesmo meses.

Esse movimento de digitalização na saúde é corroborado pelos números: de acordo com o relatório HealthTech Report 2024, produzido pelo Distrito em parceria com a ABSS, o mercado de healthtechs na América Latina, isto é, empresas que soluções tecnológicas voltadas para a área da saúde, cresceu 37,6% em 2024, movimentando mais de US$ 253 milhões.

Como destaca o relatório Global Health Care Outlook 2025, da Deloitte, hospitais que investem consistentemente em automação registram uma melhora de até 25% na satisfação dos pacientes, além de 20% menos erros clínicos.

Esses dados mostram que estamos no caminho certo e que há um apetite real por soluções maduras, escaláveis e integradas às necessidades concretas dos hospitais.

Atualmente, nossa solução é amplamente utilizada por instituições privadas. Trabalhamos, inclusive, no desenvolvimento de estudos para expandir a automação para outras plataformas além do Tasy, um ERP hospitalar completo, projetado para centralizar e otimizar todas as etapas da operação hospitalar, melhorando eficiência, precisão e qualidade do atendimento, com o objetivo de tornar o processamento de contas mais eficiente em diferentes contextos e realidades operacionais.

Automatizar o faturamento hospitalar é garantir que o hospital tenha fôlego financeiro para continuar cuidando de pessoas.

Porque, sim, salvar contas também significa salvar vidas.

Total
0
Shares
Anterior
Cooperativa financeira Únilos é GPTW pela 7ª vez
Foto: Divulgação

Cooperativa financeira Únilos é GPTW pela 7ª vez

Números expressivos comprovam que cultura forte e bom clima organizacional geram

Próximo
“Quero abrir uma holding”. Será que deveria?
Matheus Kniss Pereira

“Quero abrir uma holding”. Será que deveria?

Muita calma nessa hora

Veja também