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Queimadas no interior paulista: como os produtores de cana-de-açúcar podem mitigar riscos

Paulo Vitor Rodrigues, diretor regional de Agronegócios, Alimentos e Bebidas da Aon para a América Latina / Foto: Divulgação
Paulo Vitor Rodrigues, diretor regional de Agronegócios, Alimentos e Bebidas da Aon para a América Latina / Foto: Divulgação

Confira artigo de Paulo Vitor Rodrigues, diretor regional de Agronegócios, Alimentos e Bebidas da Aon para a América Latina

Os incêndios em canaviais na região do interior de São Paulo, no último final de semana, atingiram níveis alarmantes, trazendo consequências devastadoras para o setor sucroenergético. As estimativas iniciais sugerem que as perdas financeiras podem alcançar até R$ 350 milhões, afetando gravemente a produção de cana-de-açúcar e gerando um impacto significativo na economia local. Esses incêndios não apenas reduzem a quantidade de matéria-prima disponível, mas também comprometem a qualidade da cana colhida, o que influencia diretamente a produção de açúcar, etanol e bioenergia em toda a região.

Além do impacto econômico, as queimadas representam uma séria ameaça ambiental, contribuindo para a emissão de gases de efeito estufa e para a degradação do solo. Os danos à colheita e à qualidade do produto final são especialmente preocupantes, visto que a fuligem resultante das queimadas contamina a cana, dificultando o processo de produção e reduzindo a eficiência das usinas.

Os fatores que contribuíram para este cenário são diversos e inter-relacionados, mas três se destacam: a baixa umidade do ar, as mudanças climáticas e a interferência humana. A combinação de altas temperaturas com baixa umidade cria condições ideais para a propagação do fogo, transformando os canaviais em verdadeiros barris de pólvora. As mudanças climáticas, por sua vez, têm intensificado os fenômenos extremos, como ondas de calor prolongadas e secas severas, aumentando tanto a frequência quanto a gravidade dos incêndios. Este novo cenário exige que os produtores adotem medidas rápidas e eficazes para se adaptarem às novas condições climáticas.

Diante desses desafios, a transferência de riscos através de seguros surge como uma ferramenta essencial para os produtores enfrentarem as adversidades climáticas e os riscos de incêndio. Atualmente, as principais opções de seguro incluem a cobertura multirrisco, que abrange perdas de produtividade causadas por eventos climáticos adversos, como incêndios. Esta modalidade é crucial para mitigar o impacto financeiro e garantir a continuidade das operações das usinas, oferecendo uma rede de segurança para os produtores em tempos de incerteza.

Outra solução que vem ganhando destaque é o seguro paramétrico, uma modalidade inovadora que baseia os gatilhos de compensação em índices climáticos específicos, como temperatura, umidade e velocidade dos ventos. Esse tipo de seguro permite uma compensação mais rápida e direta quando as condições previamente estabelecidas são atingidas, garantindo uma resposta ágil e eficaz às perdas sofridas. A flexibilidade e a velocidade de pagamento oferecidas por esse tipo de seguro tornam-no uma opção atraente para os produtores que buscam minimizar os impactos financeiros dos incêndios, garantindo uma continuidade mais segura para suas operações.

Além dos seguros de lavoura, é vital que as usinas revisem cuidadosamente suas apólices de seguro patrimonial. Muitas apólices tradicionais, estruturadas na modalidade de riscos nomeados, podem excluir a cobertura para incêndios em zonas rurais, deixando as usinas desprotegidas frente a esses eventos catastróficos. Negociar a inclusão de coberturas específicas para queimadas e ajustar os limites de indenização são passos fundamentais para assegurar uma proteção abrangente, que considere todas as particularidades e vulnerabilidades do setor sucroenergético.

A gestão de riscos deve ser intensificada, com a implementação de medidas que reduzam a probabilidade de ocorrência de incêndios e mitiguem seus impactos. Entre as ações recomendadas estão o monitoramento constante das plantações, o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce, a criação e o treinamento de brigadas de incêndio especializadas, além da promoção de campanhas de conscientização junto aos colaboradores e às comunidades rurais. Essas medidas não apenas ajudam a prevenir incêndios, mas também garantem uma resposta mais rápida e eficaz quando eles ocorrem.

Os incêndios em canaviais, impulsionados pelas mudanças climáticas e ações humanas, representam uma ameaça crescente e complexa para o setor sucroenergético. Contudo, ao combinar seguros adequados com uma gestão de riscos eficaz, é possível mitigar os danos e proteger tanto a produção quanto os ativos das usinas. A adoção de soluções inovadoras e a revisão criteriosa das apólices de seguro são passos fundamentais para enfrentar esses desafios de maneira proativa e garantir a sustentabilidade do setor em um cenário cada vez mais adverso.

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