“Quero abrir uma holding”. Será que deveria?

Matheus Kniss Pereira
Matheus Kniss Pereira

Muita calma nessa hora. Uma decisão como essa exige uma análise mais cuidadosa. No final, pode ser que você ainda queira abrir uma holding. Mas pode ser que não

A febre da holding: de onde veio essa moda?

Tenho certeza de que você já ouviu essa expressão em algum momento da vida: holding para cá, holding para lá. Entre influenciadores ou investidores, advogados ou contadores, pelos grupos de WhatsApp, enfim, parece que todo mundo resolveu “abrir uma holding” — como se fosse a solução definitiva para proteger o patrimônio e organizar a sucessão.

Há uma justificativa para isso?

A origem da moda

A popularização da holding tem raízes em dois fatores principais:

  1. A promessa de economia tributária: durante muito tempo, vender a ideia de que uma holding “paga menos imposto” foi uma forma fácil de atrair interessados. Em alguns casos, isso até fazia sentido. Em outros, era apenas uma meia verdade — ou uma armadilha.
  2. A busca por controle e organização familiar: famílias com patrimônio relevante começaram a procurar formas de evitar brigas entre herdeiros, facilitar a sucessão e manter os bens “em casa”. A holding apareceu como uma solução prática, com aparência de sofisticação e segurança, importada de modelos adotados em outros países.

 O problema da receita de bolo

O instituto da holding sempre foi muito utilizado lá fora — e acertamos muito ao trazê-lo para cá.

Todavia, o que era para ser uma ferramenta estratégica virou uma solução genérica. Muita gente começou a oferecer “pacotes prontos” relacionados à holding, sem entender o contexto de cada família, avaliar riscos ou explicar as consequências jurídicas e tributárias envolvidas.

Como resultado, houve quem pudesse se beneficiar de reduções de ganho de capital na venda de imóveis, por exemplo, e que acabou desperdiçando a oportunidade por ter integralizado em uma holding um imóvel que não deveria ter sido integralizado. A decisão, padronizada, acaba elevando os custos tributários para essas vendas, por nunca ter valido a pena, sem falar em outros custos que não seriam necessários em determinadas situações.

Falta questionar: será que você realmente precisa de uma holding?

Antes de abrir uma empresa para “organizar o patrimônio”, é preciso fazer uma pergunta mais importante: qual é o seu objetivo? Evitar o inventário, isolar riscos empresariais ou prevenir conflitos familiares? Ou apenas e tão somente fazer o que todo mundo está fazendo?

holding é útil, e não estamos aqui para demonizá-la. Pelo contrário. Queremos que você pense se esse instrumento faz sentido dentro de um planejamento maior e principalmente se ele serve para você.

Vamos explorar isso um pouco melhor.

O que é, de fato, uma holding?

A palavra holding vem do inglês to hold — que, em tradução livre, significa “segurar” ou “controlar”, a depender do contexto. Dentro da ideia do planejamento patrimonial, sucessório ou empresarial, é, apelando para a redundância, uma empresa criada para controlar bens ou outras empresas.

Geralmente, chamamos de patrimonial a holding criada para concentrar imóveis, investimentos e outros bens, e empresarial a usada para controlar participações em outras empresas.

Em outras palavras, a holding patrimonial gerencia bens e investimentos, e a holding empresarial gerencia ações ou quotas de um (ou mais) sócio ou acionista em uma outra empresa.

Agora vamos desmistificar algumas coisas. É importante que você saiba que a holding não é uma forma automática de pagar menos imposto, nem de blindagem infalível contra dívidas. Porém, nossa maior preocupação é que você saiba que a holding não é uma solução pronta para qualquer família.

Criar uma holding sem planejamento pode gerar custos, burocracia e até problemas tributários. É como comprar uma casa sem saber se você vai morar nela, alugar ou vender.

 O que mudou em 2025: novas regras, novos cuidados

Com a Lei Complementar 214/2025, que implementa a primeira fase da Reforma Tributária, o cenário mudou — e muito. A princípio:

 Nova carga tributária para holdings patrimoniais que exploram imóveis (locação, cessão, arrendamento).

  • Fim de algumas isenções e restrições ao uso de créditos tributários.
  • Regime de transição até 2033, com alíquotas reduzidas.
  • Imposto de doação progressivo até o limite de 8%, embora a maioria dos estados ainda não tenha aderido à mudança.

Trocando em miúdos: a holding ainda pode ser vantajosa, mas continua exigindo tanto cuidado quanto antes. O que antes era oferecido uma “economia certa” continua dependendo de planejamento, prazos e contratos bem estruturados, e com certeza não existem modelos prontos, ainda que destinados a famílias ou empresas semelhantes.

 Existem outras opções?

É claro que sim. Não só outras opções, como alternativas que, muitas vezes, podem ser mais simples, mais baratas e mais eficazes.

  • Doação com reserva de usufruto: transfere-se o bem em vida, mas mantém-se o controle e o uso.
  • Testamentos: permitem organizar a sucessão com cláusulas específicas. Em certos casos, podem ajudar em casos de invalidez (diretivas antecipadas de vontade).
  • Fundos fechados: usados para concentrar investimentos com regras próprias (também sofreu impacto tributário por alterações legislativas recentes no Brasil).
  • Seguros de vida: com cláusulas estratégicas, podem ser usados para equalizar heranças ou proteger dependentes.

Cada uma dessas ferramentas tem vantagens e desvantagens. O segredo está em combinar soluções, não em apostar tudo em uma só.

 Em resumo: planejamento não é moda, é estratégia

holding é útil? Sim. Ela serve para você? Não necessariamente.

Sugerimos, qualquer que seja o caso, que você não se encante com modelos prontos ou pacotes padronizados. Não faz nenhum sentido que seus bens, sua família e seus negócios sejam tratados como quaisquer outros. Pelo contrário: um bom planejamento só faz sentido se estiver alinhado com as suas expectativas e respeitar as particularidades e filosofias e os princípios valiosos para você. Se não, com toda a honestidade, convém manter as coisas como estão.

Continuando a apelar para a sinceridade extrema: não há receita de bolo. Tudo que tem a ver com esse tema é um processo que exige ouvir, analisar e avaliar estratégias. E, acima de tudo, exige que você entenda o que está fazendo — e por quê.

Uma vez mais, o objetivo não é desincentivar o uso da holding. Talvez, no fim, a holding seja mesmo o melhor caminho. Mas talvez não.

E se não for, esteja absolutamente tranquilo: outros instrumentos podem te atender tão bem quanto uma holding. Talvez até melhor.

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